Quem cria eleições plebiscitárias não são, a rigor, os políticos, e sim os eleitores. Há um costume no Brasil de os indivíduos escolherem dois candidatos para avaliar — praticamente esquecendo os demais.

Na eleição para presidente da República, a de 2022, havia vários candidatos, mas os eleitores só avaliaram com atenção Lula da Silva, do PT, e Jair Bolsonaro, do PL. Ciro Gomes, do PDT, fez declarações fortes e posicionadas, mas os brasileiros não prestaram atenção nas suas palavras — sempre candentes ou incandescentes (ótimas para as manchetes do jornalismo, mas não para quem importa — os votantes).

Em Goiás, na mesma eleição, os eleitores só prestaram atenção no governador Ronaldo Caiado, do União Brasil, e no ex-prefeito de Aparecida de Goiânia Gustavo Mendanha. Os demais foram solenemente ignorados.

Eleição no Brasil é como futebol — Fla ou Flu, Vila Nova ou Goiás. Não há meio-termo. A terceira via muito dificilmente viceja no espectro político patropi. Não porque seja ruim, e sim porque não é observada ou avaliada.

Na eleição para prefeito de três cidades goianas, que ocorrerá daqui a três meses, no dia 6 de outubro, a tendência é pela polarização. Tendência — eis a palavra. Porque não se pode transformar, neste momento, uma hipótese numa tese. Porque os eleitores, se já começam a observar o quadro, ainda não se definiram. Dizem, com razão, que não sabem quais são os candidatos. De fato, nem mesmo alguns pré-candidatos sabem se chegarão ao dia 6 como candidatos.

Examinemos o quadro político-eleitoral de três cidades: Goiânia, que tem mais de 1 milhão de eleitores, Aparecida de Goiânia, que tem mais de 334 mil eleitores, e Anápolis, que tem mais de 285 mil eleitores.

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Goiânia: quatro nomes no jogo

Adriana Accorsi: pré-candidata do PT a prefeita de Goiânia | Foto: Léo Iran/Jornal Opção

Na capital de Goiás, cidade com 90 anos — uma “jovem anciã” —, ainda não se pode falar, no momento, em quadro de polarização, de eleição plebiscitária.

Mas com a saída do deputado Gustavo Gayer de cena, abrindo espaço para o novato Fred Rodrigues, do PL, os pré-candidatos do PT, Adriana Accorsi, e do PSD, Vanderlan Cardoso, ficaram mais próximos de uma polarização.

Vanderlan Cardoso: pré-candidato a prefeito de Goiânia pelo PSD | Foto: Leoiran/Jornal Opção

Entretanto, dada a estrutura que terá o pré-candidato do União Brasil, Sandro Mabel, a tendência é que se aproxime, em breve, de Adriana Accorsi e Vanderlan Cardoso. Há, inclusive, a possibilidade de superar um deles.

Como Adriana Accorsi parece ter conquistado um eleitorado estável, que a coloca na faixa de 20% a 26% das pesquisas de intenção de voto, considerando a margem de erro, a possibilidade de que vá para o segundo turno é imensa. Há mesmo a expectativa de que seja a mais votada no primeiro turno.

No campo do centro e da direita, ou centro-direita, há Vanderlan Cardoso e Sandro Mabel. Um deles irá para o segundo turno contra Adriana Accorsi. Quem?

Sandro Mabel: pré-candidato a prefeito pelo União Brasil | Foto: Leoiran/Jornal Opção

Não dá para saber quem será o adversário de Adriana Accorsi; aliás, não se pode nem mesmo sugerir que a petista já está garantida para o segundo turno. O quadro atual é tão aberto, tão “despolarizado” (o que não significa que não poderá se tornar plebiscitário), que qualquer que seja o resultado não será, quem sabe, surpreendente. De repente, pode ocorrer um segundo turno entre Sandro Mabel e Vanderlan Cardoso. Não se pode deixar de lado nem mesmo Fred Rodrigues, o postulante do bolsonarismo.

Como se está falando de hipóteses e tendências, é possível sugerir que Sandro Mabel pode canibalizar, eleitoralmente, Vanderlan Cardoso — puxando-o para baixo e, deste modo, criar uma polarização com Adriana Accorsi.

Fred Rodrigues: pré-candidato a prefeito de Goiânia pelo PL | Foto: Leoiran/Jornal Opção

No momento, diz-se, nos bastidores, que Sandro Mabel chegou a 10% das intenções de voto. Ainda é pouco. Para “ameaçar” Vanderlan Cardoso, no espectro da centro-direita, precisa chegar pelo menos a 15%. Mas, se tiver mesmo 10%, não se pode falar que é pouco, porque ele entrou no processo muito depois dos líderes do PT e do PSD.

Há a impressão de que Sandro Mabel está crescendo aos poucos, de maneira sustentada, porque ganha uma posição e não recua. Pelo contrário, só cresce, ainda que lentamente. Sem campanha, só com pré-campanha, que tolhe as movimentações dos candidatos, os dados do postulante do União Brasil não podem ser subestimados.

Rogério Cruz: pré-candidato a prefeito de Goiânia pelo Solidariedade | Foto: Leoiran/Jornal Opção

Então, pode-se falar numa polarização entre Sandro Mabel e Adriana Accorsi no primeiro e no segundo turno? Talvez sim. A palavra mais forte na frase não é “sim”, mas “talvez”. (O problema da petista pode ser o segundo turno, quando terá de enfrentar, possivelmente, toda a direita unida.)

O meio político comenta que Vanderlan Cardoso está “isolado”. Está mesmo. Porém, se está insulado e, mesmo assim, mantém-se num empate técnico com Adriana Accorsi, na primeira colocação (dada a margem de erro) o que isto significa? Que o postulante do PSD é forte, até muito forte. Porém, com a campanha — e a ausência de um exército eleitoral —, o isolamento poderá levá-lo a uma espécie de derretimento.

Se é forte, se há uma sedimentação de seu nome, há a possibilidade de Vanderlan Cardoso travar o crescimento de Sandro Mabel. Se isto acontecer, ele, e não o postulante do União Brasil, irá para o segundo turno contra Adriana Accorsi.

Talvez se possa sugerir que o prefeito de Goiânia será Adriana Accorsi, Vanderlan Cardoso ou Sandro Mabel. Fred Rodrigues é o zebrão. Rogério Cruz, por ser prefeito, está no jogo.

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Aparecida de Goiânia: quadro polarizado

Professor Alcides em entrevista ao Jornal Opção | Fotoa: LeoIran
Professor Alcides: pré-candidato a prefeito de Aparecida de Goiânia pelo PL | Foto: LeoIran/Jornal Opção

O deputado federal Professor Alcides Ribeiro, do PL, é o favorito absoluto na disputa pela Prefeitura de Aparecida de Goiânia. Se a eleição fosse disputada hoje, sem campanha, ele provavelmente seria eleito no primeiro turno.

Por que Professor Alcides se tornou um pré-candidato forte, quase hors-concours? Porque a base governista dormiu no ponto, ou seja, demorou a colocar um candidato consistente, com a imagem de gestor e estatura estadual, para enfrentá-lo.

Os eleitores de Aparecida parecem cobrar o surgimento de um novo Maguito Vilela ou um novo Gustavo Mendanha. Na falta deles, que elevaram Aparecida a um status que não tinha antes — desprovincianizaram a cidade, tornando-a moderna e cosmopolita —, decidiram ficar, ao menos neste momento, com um político experiente e com a imagem de gestor na iniciativa privada.

Professor Alcides é produto menos de suas qualidades e muito mais da ausência de um rival com a estatura de Maguito Vilela ou Gustavo Mendanha. O que gerou a força de Professor Alcides nem foi a fraqueza do postulante da situação, e sim a ausência de um nome avaliado como capaz de dar continuidade aquilo que fizeram tanto Maguito Vilela quanto Gustavo Mendanha.

Leandro Vilela: pré-candidato a prefeito de Aparecida de Goiânia pelo MDB | Foto: Câmara dos Deputados

Na ausência de um “Maguito-Mendanha”, os eleitores ficaram com aquele que, se não é uma Brastemp, também não é uma CCE (dizia-se que era a sigla de Comecei Comprando Errado).

A “grandeza” de Professor Alcides, se grandeza é, decorre ou decorria da ausência de um candidato, na situação, com a imagem de que iria garantir o avanço da modernização de Aparecida.

Com o prefeito Vilmar Mariano retirado do páreo — frise-se que ele só terá mais seis meses de governo —, a base governista estadual decidiu bancar a candidatura de Leandro Vilela, do MDB.

Leandro Vilela foi deputado federal por dois mandatos, teve experiência na iniciativa privada, ao lado de Júnior do Friboi, e assumiu uma diretoria importante no Detran (que, por sinal, é maior do que muitas prefeituras de Goiás. O presidente do Detran gere uma receita de quase um governo de Estado). Mesmo jovem, com pouco mais de 40 anos, tem experiência.

Sobrinho de Maguito Vilela — dotado do mesmo temperamento (calmo, reflexivo, discreto e, ao mesmo tempo, assertivo) — e primo do vice-governador Daniel Vilela (que, por sinal, será governador em Goiás, durante nove meses em 2026, e provável candidato à reeleição, podendo ficar no governo até 2030), Leandro Vilela pode ser a peça que faltava para mudar o quadro eleitoral de Aparecida.

Articulado, ponderado e agregador, Leandro Vilela tende a crescer, assim que seu nome for massificado, tanto por suas qualidades pessoais — Vilmar Mariano, por exemplo o aprecia (ao mesmo tempo que abomina Gustavo Mendanha) — quanto pela força dos apoios.

Estarão na campanha de Leandro Vilela quatro generais eleitorais: o governador Ronaldo Caiado (União Brasil), Daniel Vilela, Gustavo Mendanha e o presidente do Detran, Delegado Waldir (que tem presença sólida na cidade). Há outros nomes importantes que também lhe darão apoio, certamente, como o deputado federal Glaustin da Fokus (muitos evangélicos já deram apoio ao postulante emedebista), do Podemos, e o ex-deputado federal João Campos.

Se Vilmar Mariano entrar em campo, Leandro Vilela terá o apoio de outro general — o prefeito e a máquina pública (mesmo que não seja usada a favor, se não for posta contra, já é um grande trunfo).

Pode-se concluir que a eleição de Aparecida será plebiscitária: o prefeito será Professor Alcides ou Leandro Vilela.

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Anápolis: direita versus esquerda

Antônio Gomide: pré-candidato a prefeito de Anápolis pelo PT | Foto: Divulgação

Em termos de história política, a despeito de ter menos eleitores do que Aparecida, Anápolis é a segunda cidade mais importante de Goiás. Tanto que, de lá, saíram ao menos dois governadores — Henrique Santillo (nascido em São Paulo, fez sua carreira política em Anápolis) e Ronaldo Caiado. Acrescente-se que Irapuan Costa Junior foi prefeito do município e, depois, governador do Estado.

Como a direita é forte no município, o quadro de polarização já se definiu. Pela esquerda, uma esquerda moderada, se tem o deputado estadual Antônio Gomide — o favorito, de acordo com as intenções de voto (38%, segundo levantamento do Opção Pesquisas). Pela direita, o nome definido é o de Márcio Corrêa (25%, de acordo com o Opção Pesquisas), do PL.

Márcio Corrêa: pré-candidato a prefeito de Anápolis pelo PL | Foto: Leoiran/Jornal Opção

Há três questões a considerar. Primeiro, o quadro atual, se não houver variação, é mesmo plebiscitário: será Antônio Gomide ou Márcio Corrêa. Esquerda e direita polarizam o quadro local, com a definição dos pré-candidatos.

Segundo, por ter sido prefeito duas vezes, e por não ter feito gestões esquerdistas — e sim moderadas e centradas —, Antônio Gomide é bem avaliado pelos eleitores. Por isso, tem chance de ser eleito. É, de fato, um candidato fortíssimo.

Terceiro, se Antônio Gomide estabilizou-se na faixa de 38% a 40%, Márcio Corrêa está em processo de crescimento, aproximando-se dos 30%. Ou seja, o clima de polarização, sugerido pelos eleitores (e não pelo marketing eleitoral), já está definido. Os números indicam que se terá segundo turno.

Há possibilidade de virada, já no primeiro ou no segundo turno? Quando se trata da política de Anápolis, a história ensina que sim. Com o apoio do bolsonarismo e agregando toda a direita no segundo turno, Márcio Corrêa se tornará — na realidade, já é — um candidato altamente competitivo. Portanto, Antônio Gomide corre o risco de, tendo saído muito na frente, perder para aquele que saiu de trás e está crescendo de maneira sustentada. Vale a ressalva: o petista ainda é o favorito.

Eerizania Freitas: pré-candidata a prefeita de Anápolis pelo Republicanos | Foto: Leoiran/Jornal Opção

O que dizer sobre Eerizânia Freitas? A pré-candidata do União Brasil está bem atrás de Antônio Gomide e Márcio Corrêa. Mas pode surpreender e virar o jogo? É possível. Ela conta com o apoio do prefeito Roberto Naves e do governador Ronaldo Caiado. São dois políticos experimentados. A jovem política tem qualidades e é articulada, com discurso afiado.

Uma questão final: direita e esquerda estarão no centro do debate tanto em Goiânia quanto em Anápolis. Em Aparecida, não. Os dois postulantes são de centro, mas Professor Alcides, por oportunismo, se apresenta como nome da direita.