Entenda por que Sandro vai atacar Vanderlan e Cardoso vai atacar Mabel

28 abril 2024 às 00h00

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Adriana Accorsi: busca de vice do centro
Assiste-se, neste momento, a pré-candidata do PT a prefeita de Goiânia, Adriana Accorsi, operando uma tática política acertada e realista.
A deputada federal Adriana Accorsi é de esquerda, mas de uma esquerda moderada, assim como à que pertence o presidente Lula da Silva. Os dois podem até se considerar socialistas, mas, no fundo, são socialdemocratas. Sobretudo, não são e nunca foram comunistas.
O PC do B tem apresentado Fábio Tokarski como seu pré-candidato porque o PT não quer acolher um membro do grupo como vice. A rigor, exceto para marcar posição e talvez ajudar a chapa de pré-candidatos a vereador, a chance de o líder comunista chegar ao segundo turno é próxima de zero.

O PT nada tem contra o PC do B e Fábio Tokarski — por sinal, um político de bem —, mas Adriana Accorsi sabe, ante o clima de polarização entre esquerda e direita, que ter um vice comunista pode ser a pá de cal na sua campanha.
Na campanha, se tiver Fábio Tokarski como companheiro de chapa, Adriana Accorsi será identificada, não como petista, e sim como comunista. Ela e o PT não a definirão, e sim o PC do B.
Então, ao buscar um vice de centro — e não exatamente de centro-direita, como estão sugerindo —, Adriana Accorsi está agindo com o máximo de realismo político. Do necessário realismo político. Vários empresários, como o presidente da Fecomércio, Marcelo Baiocchi (que deve apoiar Sandro Mabel, o pré-candidato do União Brasil), têm apreço pela petista. Porque, como parlamentar, representa os goianos — incluindo os empresários —, e não apenas a esquerda.
A rigor, embora seja de esquerda, Adriana Accorsi está próxima do centro. Talvez seja de centro-esquerda. Se conquistasse um vice do grupo do senador Vanderlan Cardoso — um político que pertence à direita (talvez por ser evangélico), mas também ao centro (talvez pelo realismo do empresário) —, a petista ficaria mais forte. Se levar para sua chapa um empresário conhecido, com militância fora dos grupos de esquerda, pode sair fortalecida.
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Gustavo Gayer: ânimo próximo de zero
Se Adriana Accorsi faz a coisa certa, ao buscar uma composição com o centro — que não é necessariamente reacionário —, o deputado federal Gustavo Gayer, do PL, nada faz. É um político inerme.

Gustavo Gayer sequer opera para montar uma chapa consistente de candidatos a vereador. A chapa praticamente “montou-se”. Sim, no piloto automático. O parlamentar não tem apetite para a negociação direta com políticos. Parece ter asco deles. Mas pode-se ganhar — e, depois, governar — sem os políticos? Não há a mínima possibilidade. Jair Bolsonaro, do PL, e Lula da Silva, do PT, sabem disso.
Na verdade, um menino da província — que fala inglês como se fosse um Policarpo Quaresma metido a cosmopolita —, Gustavo Gayer está encantado com as “luzes” de Brasília. Ele está se sentindo membro da corte — como se fosse um conde ou um duque. Por isso, hesita em disputar a Prefeitura de Goiânia.
Se Gustavo Gayer for para o segundo turno contra Adriana Accorsi, ou outro candidato, com quem poderá contar para robustecer sua postulação? Vanderlan Cardoso, do PSD, é sabido e consabido, não o apoiará. Ficará ao lado da petista, mesmo a contragosto.
A base governista, para não ficar com Adriana Accorsi, até poderá apoiá-lo. Mas muitos de seus integrantes não terão entusiasmo algum, por não acreditar que, eleito, poderá ser um administrador eficiente. Porque não agrega e se tornará, por isso, prisioneiro de uma Câmara Municipal possivelmente oposicionista.
Portanto, ganhar, para Gustavo Gayer, pode ser uma “fria”. Tanto para ele quanto, sobretudo, para Goiânia. Se Rogério Cruz, político moderado, equilibrado e sensato, está com dificuldade para gerir a capital, imagine o líder do PL, que não tem experiência administrativa alguma.
Mas há um drummond no meio do caminho: Gustavo Gayer é o PL em Goiânia. Sem o deputado, o PL é o partido da Nanicolândia.
Então, o que fazer, se Gustavo Gayer sair do páreo? O PL pode bancar Fred Rodrigues, apontado como gayer-boy, ou o ex-deputado federal Major Vitor Hugo. Os dois não empolgam nem peixe elétrico.
Sabe-se que o vice do pré-candidato pelo União Brasil, Sandro Mabel, deverá sair dos quadros do MDB. O mais cotado é o ex-presidente do TCM Paulo Ortegal. Mas estão de sobreaviso Ana Paula Rezende e Agenor Mariano.
Mas, para fortalecer a candidatura de Sandro Mabel e pensando em 2026, Daniel Vilela pode abrir mão da vice. O vice-governador não faria objeção a uma aliança de Sandro Mabel com um vice indicado pelo PL (Major Vitor Hugo, Fred Rodrigues).
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Sandro Mabel: controle da língua

O escritor russo Nikolai Gógol tem um conto, “O Nariz” (Antofágica, 160 páginas, tradução de Lucas Simone), que relata a história de um nariz que escapa ao seu dono e sai flanando por vários lugares. O proprietário sai atrás, desesperado. A “língua” de Sandro Mabel também parece ter autonomia.
Em 1992, na disputa contra o professor Darci Accorsi, do PT, Sandro Mabel disse que, se fosse eleito, iria “adestrar” os professores. A irritação foi geral. Mesmo quem não era professor ficou chateado. A bem da verdade, o então emedebista quis dizer tão-somente que, uma vez prefeito, iria contribuir para melhorar a formação-qualificação dos mestres.
Porém, o mau uso da língua — uma língua, insistimos, que parece autônoma e desligada do cérebro — reduziu a popularidade de Sandro Mabel. O pai de Adriana Accorsi, Darci Accorsi, foi eleito prefeito.
Na disputa deste ano, o integrante do União Brasil, num ato falho clamoroso e vexatório, reduziu a importância das mulheres. Tanto que Ana Paula Rezende — filha de Iris Rezende —, uma espécie de vice dos sonhos, desapareceu do mercado político. Sandro Mabel sugeriu que o marido de Ana Paula Rezende sabia administrar, mas ela não. Um político chegou a dizer: “Trata-se de preconceito sincericida”. Na verdade, mais do que sincericídio, é preconceito mesmo.
Mesmo com sua “língua maldita”, à Gregório de Matos e Guerra, Sandro Mabel é um candidato forte. Fortíssimo. As pesquisas tendem a mostrar isto — por volta de junho ou julho. Porque, na campanha, contará com o maior exército eleitoral. A quantidade de pré-candidatos a vereador que apoiarão o pré-candidato do União Brasil será impressionante. Será uma infantaria formidável e, como tal, pode atropelar as demais campanhas. Acrescente-se que o principal “general” eleitoral de Goiânia, Ronaldo Caiado, é o articulador da candidatura do membro do União Brasil.
Depois da língua gogoliana, o principal adversário de Sandro Mabel é Vanderlan Cardoso. Para subir nas pesquisas de intenção de voto, terá de puxá-lo para baixo.
No momento, assiste-se aos salamaleques entre Sandro Mabel e Vanderlan Cardoso — com um elogiando o outro. Isto ocorre porque o primeiro está tentando demover o segundo de ser candidato para obter o seu apoio. Se o postulante do PSD não recuar, será, a partir de certo momento, alvo do postulante do União Brasil. Não há escapatória: a tendência é que, como os dois vão tentar ocupar o mesmo espaço — o de candidato da centro-direita —, um deles terá de cair fora. À força.
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Vanderlan: um general sem exército

Os adversários de Vanderlan Cardoso não devem subestimá-lo. Porque trata-se de um candidato forte. Até fortíssimo. As pesquisas de intenção de voto mostram um candidato consistente — empatado tecnicamente com Adriana Accorsi e, também, Gustavo Gayer. Na liderança. Todos fortes, mas nenhum deslanchando — o que prova que o quadro político-eleitoral está aberto. Abertíssimo.
Diz-se que Vanderlan Cardoso está isolado. Sim, está. Porém, mesmo assim, aparece muito bem colocado nas pesquisas quantitativas. O que significa que tem uma força, digamos, intrínseca.
Entretanto, numa campanha para prefeito de Goiânia, não basta a força pessoal. O candidato precisa de um grupo que fortaleça a chapa. Neste momento, assiste-se Vanderlan Cardoso em profundo insulamento. Mais isolado do que um ser vivente da Antártida.
Qual partido caminhará com o PSD na disputa que se dará daqui a apenas cinco meses? Não se sabe. Para piorar, o Partido Social Democrático está dividido. Uma de suas vozes mais poderosas, o ex-deputado Francisco Júnior, já esclareceu que irá apoiar Sandro Mabel. O ex-presidente do PSD Vilmar Rocha, ex-deputado federal e amigo de Gilberto Kassab, o presidente nacional do partido, não tem qualquer entusiasmo pessoal e ideológico por Vanderlan Cardoso. Deve declarar apoio, mas não moverá uma palha para ajudá-lo. Ficará em casa. Na urna, se escolher Sandro Mabel, que ninguém se surpreenda.
Como se sabe, Vilmar Rocha, político de um nível intelectual acima da média — autor de um livro seminal sobre o populismo —, não sofre da famosa Síndrome de Estocolmo (Vanderlan Cardoso o arrancou da presidência do partido em Goiás com extrema virulência). Diz-se que o exército de Vanderlan Cardoso é composto de um Dom Quixote, o próprio, e de dois Sanchos Panças: Abelardo “Codevasf” Vaz e Samuel Almeida. Nem Simeyzon Silveira quer compor o exército de Brancaleone, ainda que seja filiado ao PSD. “O exército de Vanderlan é chamado de os três de Esparta”, ironiza um integrante do PSD.
Posto isto, faz-se necessária a ressalva: mesmo isolado, porque não é um político visto como confiável — “traiu” Ronaldo Caiado em 2022, depois de ter recebido seu apoio em 2020 —, Vanderlan Cardoso não deve ser subestimado. Trata-se de um pré-candidato consistente. Irá até o fim? É possível. É plausível.
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Rogério Cruz: o controle da máquina

Acredita-se que, por volta de junho ou julho, Rogério Cruz perderá o Solidariedade para Sandro Mabel. Mas o prefeito disse, na redação do Jornal Opção, na semana passada, que o SD vai com ele até o fim. O acerto foi feito “lá em cima”, sustenta o gestor.
Mas, se perdeu o Republicanos — que é controlado por sua igreja, a Universal do Reino de Deus —, por qual motivo Rogério Cruz não poderá perder o Solidariedade?
Porém, pode-se subestimar um prefeito, um político que tem uma máquina tão poderosa como a Prefeitura de Goiânia? Não se deve.
Pra começar, apesar de a imagem cristalizada ser a de que Rogério Cruz é um prefeito abaixo da média, o gestor tem muito o que mostrar. Basta exibir de maneira mais profissional o que fez e o que está fazendo. Terá tempo, em cinco meses, para convencer os eleitores de que é um prefeito melhor do que se imagina? Talvez sim. Talvez não. O fato é que Rogério Cruz é melhor prefeito do que parece ser. Mas ninguém presta atenção quando se diz esta verdade. Ninguém quer checar os fatos.