Pesquisas eleitorais são ciência, de alguma maneira. Apuram os humores dos eleitores num momento dado. Mas, dependendo das circunstâncias, o mesmo instituto que a fez poderá apurar um novo quadro dias depois (dependendo também de mudanças no questionário apresentado aos votantes). Porque a sociedade, com seus indivíduos, se move de acordo com a absorção de novas informações. Nada é estanque — só estátuas.

Costuma-se dizer: “As pesquisas erraram a respeito do pleito tal”. Logo, sugere a lógica “cartesiana”, foram “manipuladas”. Mas não é bem assim. Pesquisas quantitativas aproximam-se da realidade, mas não têm como captar, com precisão, os movimentos do pensar e agir dos indivíduos, que podem mudar de opinião de um dia para o outro. Uma informação nova pode resultar numa mudança drástica.

Observe-se que as atuais pesquisas de intenção de voto para governador de Goiás indicam que o vice-governador Daniel Vilela, do MDB, é o favorito, com certa distância dos demais pré-candidatos (a rigor, nem se pode falar em pré-candidatos).

Porém, há um detalhe que a pesquisa não tem como captar, exceto se o questionário aplicado aos eleitores for mais abrangente, o que às vezes escapam dos levantamentos puramente quantitativos. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do União Brasil, é aprovado por 86% dos goianos. Isto quer dizer que há uma conexão profunda, uma identidade consolidada, entre o gestor estadual e a sociedade.

A identidade de Ronaldo Caiado com os goianos — de quase 100% — pode ser transferida para Daniel Vilela? É possível. Se a pesquisa tiver como conectar o governador com seu vice-governador, a frente de Daniel Vilela tende a se ampliar (“Daniel Vilela candidato de Ronaldo Caiado” pode ser a, digamos, “senha” para o crescimento).

Se a pesquisa não o fizer, por alguma razão técnica ou política, a realidade — a pré-campanha e a campanha — o fará. O que, claro, pode “desmoralizar” a pesquisa. Sobretudo, pode levá-la a não perceber o quadro real.

Antes de seguir com Daniel Vilela e demais pré-candidatos, é necessária uma pergunta: por que a popularidade de Ronaldo Caiado é tão alta? Por vários motivos.

Primeiro, a probidade de Ronaldo Caiado e de seu governo. Não há notícia de corrupção por parte do gestor e qualquer irregularidade é apurada e quem a cometeu é afastado.

Segundo, há, entre intelectuais, uma certa hostilidade em relação ao fato de Ronaldo Caiado dizer que tem orgulho de Goiás. Na posse de Adib Elias, na terça-feira, 11, executou-se, depois do Hino Nacional, o Hino de Goiás. O certo é que os eleitores aprovam isto.

Terceiro, o governo em si, sobretudo sua política de segurança pública, é bem avaliado. Depois, a educação pública é, segundo o Ideb, a melhor do país. A saúde funciona. A rede de proteção social, de matiz socialdemocrata, tem inspirado até o governo federal (o Pé de Meia do governo Lula da Silva é baseado, em certa medida, num programa do governo de Goiás, o Bolsa Estudo).

Wilder e PL têm projetos políticos diferentes

Retomemos a discussão do processo eleitoral para governador.

As pesquisas mostram Daniel Vilela em primeiro lugar, seguido de Marconi Perillo (PSDB), em segundo lugar, e do senador Wilder Morais (PL), em terceiro lugar.

Entre os políticos comumente se diz que as pesquisas têm sido feitas — a um ano, seis meses e alguns dias das eleições —, não exatamente para apurar o quadro eleitoral, e sim para tentar colocar Wilder Morais no processo, como candidato a governador.

Wilder Morais aparece em terceiro lugar, mas isto significa pouco. O que a pesquisa detecta é que está no jogo.

O que quer Wilder Morais exatamente? Lógico, ser candidato a governador. Mas, neste momento, o pano de fundo é outro. O senador está fazendo pesquisas — se realmente forem encomendadas por ele (talvez não sejam) — para se exibir, não para os eleitores goianos, e sim para um eleitor do Rio de Janeiro, quer dizer, o ex-presidente da República Jair Bolsonaro, o poderoso chefão do PL e da direita radical.

Major Vitor Hugo: cotado para integrar a chapa de Daniel Vilela | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

O PL em Goiás é muito mais do que Wilder Morais e o deputado federal Gustavo Gayer, no momento parças siameses. Mas é fato que os dois, Esaú e Jacó, mandam no partido.

Mas o que quer o PL dos municípios, ou seja, os vereadores e prefeitos? Eles querem compor com Daniel Vilela e lançar um candidato a senador — que tanto pode ser Gustavo Gayer ou o vereador Major Vitor Hugo, de Goiânia.

O candidato “do” PL, neste momento, é Daniel Vilela, e não Wilder Morais. Conta-se que um político, não se sabe o nome, estaria pressionando os prefeitos do partido, sugerindo, até, que pode pedir a Jair Bolsonaro para gravar um vídeo “atacando-os”.

Os prefeitos Carlinhos do Mangão, de Novo Gama, Márcio Corrêa (ligado ao vereador Major Vitor Hugo) e Jerônymo Siqueira, de São Miguel do Araguaia, são filiados ao PL. Os três devem apoiar Daniel Vilela para governador.

Carlinhos do Mangão, representante do Entorno de Brasília, almeja ser o vice de Daniel Vilela. Márcio Corrêa é amigo e aliado, há anos, de Daniel Vilela. Ligado ao presidente da Assembleia Legislativa, Bruno Peixoto (União Brasil), Jerônymo Siqueira tem conversado com Daniel Vilela.

Márcio Corrêa, Carlinhos do Mangão e Jerônymo Siqueira são políticos atentos. Eles assistiram de camarote a derrota de Fred Rodrigues, em Goiânia, e de Professor Alcides Ribeiro, em Aparecida de Goiânia, ambos do PL. Perceberam, é claro, que foram derrotas de políticos que optaram pelo isolamento e, por isso, foram massacrados nas urnas… pelos eleitores. Na política é assim: quem não tem grupo a voz é baixa e, por isso, os eleitores mal a ouvem.

Fred Rodrigues e Professor Alcides foram apostas eleitorais muito mais de Wilder Morais do que do PL. E, frisando, perderam. O general Golbery do Couto e Silva, principal articulador do fim da ditadura civil-militar, disse que, no bojo de uma derrota, sempre haverá espaço para novas derrotas. Cita-se um militar porque alguns dos líderes do PL são espécies de vivandeiras.

Há outra questão: Major Vitor Hugo, enquanto Fred Rodrigues e Professor Alcides foram derrotados, foi eleito o vereador mais votado em Goiânia. O motivo: os eleitores identificaram a realidade. O ex-deputado federal é, entre todos, o verdadeiro amigo e aliado de Jair Bolsonaro em Goiás. Não é um bolsonarista como Wilder Morais, que, tido como direitista, é muito mais um político de centro. Por sinal, raciocina mais como empresário do que como político.

Major Vitor Hugo quer ser candidato a senador e na chapa de Daniel Vilela. Porque sabe que, se estiver aliado ao vice-governador e Gracinha Caiado, sua vitória é quase certa.

O vereador e ex-deputado sabe também que o quadro de Aparecida pode se repetir em Goiás. Noutras palavras, não será fácil para o PL justifica e bancar a candidatura de Wilder Morais. Porém, vale frisar, é um senador eleito, ou seja, com experiência política.

Porém, acima de tudo, é um direito de Wilder Morais disputar o governo. Afinal, embora não tenha uma história de longo prazo, trata-se de um senador. E, até onde se sabe, não há histórico de que tenha se envolvido em falcatruas. Entretanto, se estiver pensando no PL, e não apenas em seu projeto pessoal, deveria ouvir os prefeitos e vereadores. O projeto deles é outro. Portanto, o senador, se é democrata de fato (parece ser, porque não se alinha com os golpistas de Jair Bolsonaro), deveria ouvi-los.

Marconi Perillo: o nome do PSDB. E o PT: como fica?

Eleito quatro vezes governador, Marconi Perillo não pode ser subestimado. Os eleitores julgam-no duramente na questão da probidade. Mas, avaliando com justiça histórica, tem méritos em vários campos, como a cultura (Fica, Centro Cultural Oscar Niemeyer), saúde (Crer e Hugol) e educação (Universidade Estadual de Goiás).

Marconi Perillo: o problema é o isolamento político | Foto: Divulgação

Mesmo tendo deixado o governo em 2018, há sete anos, os eleitores continuam a avaliá-lo mal. Mas como se ele aparece em segundo lugar nas pesquisas? Vale o registro de que, na disputa para senador em 2022, o quadro era semelhante e ele foi derrotado por Wilder Morais, um político de pouca expressão.

Então, Marconi Perillo pode ser o tipo de candidato que começa bem e termina mal. O típico candidato para perder.

Figuras sensatas do PSDB, ao menos nos bastidores, costumam sugerir que, para “voltar” à política, o ex-governador deveria disputar mandato de deputado federal. Porque, se eleito, poderia recriar contatos com a política municipal, reinserindo-se nas discussões estaduais. O fato de ter saído de Goiás parece que, do ponto de vista dos eleitores, não foi positivo. Aparentemente, a decisão de ter mudado para São Paulo é vista, até hoje, como uma espécie de “fuga”.
Mas, assim como no caso de Wilder Morais, é um direito de Marconi Perillo disputar o governo de Goiás.

O caso do PT é curioso: tem excelentes nomes, como os deputados Adriana Accorsi e Rubens Otoni e o vereador Edward Madureira, mas nenhum quer ser candidato a governador. Fala-se em alinhamento com Marconi Perillo. Mas o tucano tem atacado o governo de Lula d Silva.

Quadro para 2026 não tem a ver com 1998 e 2018

Há um aspecto pouco analisado pela imprensa e agora será exposto pelo Jornal Opção.

Ampliando o que se esboçou acima, a eleição de um candidato de oposição para o governo depende de uma série de fatores. O principal deles é o desejo de mudança por parte dos eleitores. Há, neste momento, um processo de ruptura, ou seja, os eleitores querem retirar do poder o grupo que dirige Goiás desde 2019? A resposta é não.

Em 1998, os eleitores “usaram” Marconi Perillo como “arma” para arrancar o MDB do governo de Goiás. O emedebismo governava o Estado havia 16 anos. Não fazia gestões ruins, mas os eleitores queriam e exigiam mudança. O problema nem era Iris Rezende, o candidato que perdeu para o tucano, e sim o longo tempo no poder — que desgasta até mesmo os gestores eficientes.

A aliança tucana, associada ao ex-governador Alcides Rodrigues, ficou 20 anos no poder, acima dos 16 anos do MDB. Quando chegou 2018 Marconi Perillo havia ganhado a cara de Iris Rezende — ou seja, estava desgastado — e, por isso, os eleitores decidiram arrancar seu grupo do poder. Por que devolveriam o poder ao tucanato oito anos depois? Não parece ter nenhuma lógica, do ponto de vista dos eleitores.

Os indícios para 2026 é que os eleitores querem continuidade, e não mudança. O governo de Ronaldo Caiado não acumulou desgastes que possa derrotar o seu candidato, Daniel Vilela. Pelo contrário, acumulou popularidade e credibilidade que podem ser decisivas para garantir a vitória do sucessor.

As pesquisas, daqui para frente, tendem a ampliar a frente de Daniel Vilela (político que, embora jovem, foi vereador, deputado estadual, deputado federal e é vice-governador. Seu pai, Maguito Vilela, foi governador, senador e prefeito de Aparecida de Goiânia). É o jogo real. Jair Bolsonaro e Major Vitor Hugo, experts em política, sabem disso. Marconi Perillo, que não é nenhum néscio, também sabe. Por isso, se mudar o projeto de governador para deputado, que ninguém estranhe. Ele sabe que não pode ficar fora do jogo político por mais quatro anos.