Eleitor quer votar no candidato a prefeito que lhe faça ter orgulho de Goiânia
20 agosto 2023 às 00h01
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O escritor americano William Faulkner disse que o passado nunca está morto, e nem mesmo é passado. Sim, o que passou, a rigor, continua em nós. O presente contém pedaços substanciais do passado, pois é seu “filho”. É uma questão quase genética.
Posta a questão de que o passado “vive” — nos fatos e em nós —, retomemos, de maneira breve, o que aconteceu na disputa eleitoral de 2020 — há quase três anos.
Em 2020, no segundo turno, Maguito Vilela venceu Vanderlan Cardoso. O candidato do MDB obteve 277.497 votos (52,60%) e o candidato do PSD conquistou 250.036 votos (47,40%). Não foi uma vitória folgada. (Um dado relevante: o número de eleitores que se abstiveram de votar foi muito alto: 356.949, ou seja, 36,75%.)
Por que, entre 15 candidatos (como Adriana Accorsi, Gustavo Gayer, Elias Vaz, Major Araújo, Dra. Cristina Lopes, Virmondes Cruvinel, Samuel Almeida, Talles Barreto, entre outros), os eleitores optaram por Maguito Vilela e Vanderlan Cardoso?
No pleito de 2020, os eleitores escolheram, para a disputa no segundo turno, os dois políticos que tinham mais experiência com gestão. Maguito Vilela havia sido governador de Goiás e prefeito de Aparecida de Goiânia (por dois mandatos). Vanderlan Cardoso havia sido prefeito de Senador Canedo (por dois mandatos). Eram, portanto, os mais experimentados.
O recall positivo de Maguito Vilela tinha a ver com o fato de ter sido um prefeito eficiente em Aparecida de Goiânia, cidade conurbada com a capital. O recall positivo de Vanderlan Cardoso tinha a ver com o fato de ter sido um prefeito eficiente em Senador Canedo. O líder do MDB contava 71 anos. O líder do PSD tinha 58 anos. Nenhum era jovem. Os dois eram moderados.
Ao escolherem Maguito Vilela e Vanderlan Cardoso, colocando-os no segundo turno, os eleitores de Goiânia enviaram um recado preciso: votaram em dois administradores com experiência pública e escolheram aquele que era o mais experimentado, dado o fato de ter sido governador do Estado e prefeito de uma cidade maior do que Senador Canedo. Ou seja, aos eleitores, Maguito Vilela tinha mais cacife administrativo e expertise política para dirigir a capital.
Pode-se dizer que a vitória de Maguito Vilela — e com boa figuração de Vanderlan Cardoso — se deu por uma escolha racional dos eleitores. Estes não priorizaram o “novo” e tampouco belos discursos dos que habitualmente propõem o paraíso na Terra. Escolheram pela lógica, pela história de cada um dos postulantes.
Há quem postule que eleitores fazem escolhas emocionais e racionais. Os eleitores de Goiânia costumam fazer escolhas racionais, examinando tanto as propostas quanto a biografia de cada candidato. Veja-se que Iris Rezende e Nion Albernaz, considerados administradores eficientes, foram prefeitos várias vezes.
Sob Nion Albernaz, Goiânia se tornou uma cidade mais aprazível para se viver. Plantou árvores, colocou flores nos canteiros e as praças se tornaram belas para se olhar e agradáveis de frequentar (ele costumava dizer: “As borboletas voltaram às praças, e isto é sinal de vida”). Nas suas gestões, a cidade se tornou uma das mais limpas do país. Tanto que se dizia que havia “desencardido” a cidade.
Depois de Nion Albernaz, os demais prefeitos deram sequência à ideia de cidade limpa, bem-cuidada e bela. Dizia-se, em nível nacional, que Goiânia era a cidade das flores, dos jardins e dos parques. Darci Accorsi (criador do Parque Vaca Brava), Pedro Wilson, Paulo Garcia e Iris Rezende cuidaram bem da capital que, daqui a dois meses, fará 90 anos.
Os goianienses apreciam aqueles políticos que, independentemente dos partidos políticos, zelam bem da cidade, que a deixam de “roupas” limpas todos os dias. Eles têm orgulho da cidade que escolheram para morar, estudar e criar seus filhos.
Rogério Cruz é um mau prefeito? A rigor, não é. Mas os eleitores da cidade escolheram um gestor experimentado, Maguito Vilela, e não o ex-vereador, que não tinha experiência com gestão e o manejo político adequado para lidar com vereadores.
Por falta de experiência, e não de boa vontade, Rogério Cruz não soube, de cara, concentrar-se nas obras essenciais, deixando outras de lado. Ao contrário dos políticos “barulhentos”, o integrante do Republicanos não quis fazer a crítica de seu antecessor, Iris Rezende — até porque ele morreu —, e nada fala do legado de obras deixadas incompletas e, ao mesmo tempo, dispendiosas. Recebeu uma herança e, ao ficar silente, se tornou responsável por ela — sozinho — ante o olhar implacável dos goianienses.
O fato é que Rogério Cruz não caiu no gosto dos goianienses — ao menos até agora. Ele governa Goiânia há dois anos e oito meses. Não é, claro, um tempo muito longo. Mas não conseguiu deixar uma marca, um símbolo.
Diz-se, à boca miúda, que, quando a Comurg vai mal, a imagem da prefeitura fica desgastada. Bem-intencionado e afável, Rogério Cruz deixou a Comurg ao deus-dará, ou seja, nas mãos (indiretamente) de políticos que sempre estiveram mais preocupados com suas campanhas eleitorais do que com a cidade. A estrutura foi usada, bem usada, em termos políticos. Mas o desgaste do mau funcionamento — a demora em recolher o lixo das ruas — ficou para o gestor municipal.
O desgaste de Rogério Cruz é incontornável? Não é. Mas o tempo dele está ficando cada vez mais curto. A eleição será disputada daqui a um ano e um mês — quatro meses de 2023 e nove meses de 2024. Entretanto, o tempo dele, como gestor, é ainda mais curto. O prefeito precisa, entre abril e maio, ter consolidado a imagem de que é o gestor que merece continuar à frente do Paço Municipal.
O que os goianienses querem? Voltar a ter orgulho de Goiânia, sua cidade “cheirosa”, com o lixo recolhido, as praças bem-cuidadas. É preciso admitir que algumas já estão com flores e que há harmonia na disposição delas. Quem passa pela Avenida 136, para mencionar um exemplo, já percebe que há uma mão diferenciada cuidando da cidade. Mas a imagem de cidade suja — e ela está menos suja, diga-se de passagem — permanece instalada no imaginário coletivo. É preciso reinstalar a imagem anterior.
Quando uma “ideia” cristaliza é muito difícil removê-la. Torna-se uma pedra gigantesca. Será possível ajustar uma nova política de comunicação para melhorar a imagem do prefeito? Rogério Cruz, se quer ter alguma chance de vencer o pleito — e ele não pode ser descartado de maneira alguma —, deve recuperar a imagem da prefeitura sob sua gestão. E também deve operar para que os goianienses não fiquem indiferente ao indivíduo e ao político Rogério Cruz.
Se os goianienses voltarem a falar bem de Goiânia, e eles querem fazer isto, aí, então, Rogério Cruz terá alguma chance de criar uma imagem positiva de sua gestão e dele próprio. Mas não será nada fácil.
Estabelecer uma imagem positiva, depois que outra, negativa, se instalou, é muito difícil. Mas não é impossível. A rigor, o que falta a Rogério Cruz é uma imagem, é estabelecer uma marca que o torne conhecido, positivamente. Ele nem é malvisto. Na verdade, é pouco visto. Sua comunicação precisa apresentar elementos para que ele possa efetivamente ser julgado, com parâmetros e objetividade, pela sociedade.
Quem se aproxima de Rogério Cruz fala de sua simpatia, de suas boas ideias para a capital. Mas isto não tem se traduzido em imagem pública. A imagem que está se cristalizando é a de um gestor anódino, ausente. Vale insistir: um político não pode deixar os moradores da cidade que administra indiferentes (ou “raivosos”, por assim dizer).
No momento, Gustavo Mendanha, do MDB, e Vanderlan Cardoso, do PSD, aparecem mais bem ranqueados para prefeito de Goiânia — seguidos pelos deputados federais Adriana Accorsi, do PT, e Gustavo Gayer, do PL. Os primeiros mantêm a imagem de gestores eficientes.
Portanto, aquele que será eleito prefeito de Goiânia não é exatamente o que diz que tem o apoio de fulano e sicrano, e sim aquele que convencer, pela lógica, que será capaz de desencardir Goiânia e sua imagem (a imagem talvez esteja mais corroída do que a cidade em si), que souber mostrar que dará conta de concluir as obras na área de mobilidade urbana, por exemplo.
Na semana passada, um pesquisador disse a um repórter do Jornal Opção: “Os goianienses são ciumentos e, por isso, querem votar num político que dê conta de cuidar, da melhor forma possível, de sua cidade. Goiânia quer voltar a ser amada por seu gestor e quer amar quem a dirige”. O expert acrescenta: “O próximo prefeito será aquele que, na prática, devolver o orgulho do goianiense pela cidade”.
A hora e a vez de Bruno Peixoto
O Editorial versou sobre Gustavo Mendanha (que, anote, não será candidato, pois a lei não permite), Vanderlan Cardoso, Rogério Cruz, Adriana Accorsi e Gustavo Gayer. Mas e o candidato da base governista? Por que não foi mencionado?
Porque, se os demais estão praticamente definidos, o candidato (ou candidatos) da base governista não está firmado.
Ana Paula do Iris, do MDB, diz para um que ser candidata e fala para outro que não se definiu. O resultado é que gera instabilidade na sua possível base de apoio. Corre-se o risco, assim que Gustavo Mendanha sair em definitivo do páreo, tendo retirado seu nome das pesquisas, de Vanderlan Cardoso deslanchar, cristalizando-se como praticamente imbatível.
Políticos experimentados como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do União Brasil, e o vice-governador Daniel Vilela, do MDB, certamente terão de interferir no processo antes do fim deste ano. Ana Paula do Iris não é articuladora política e não tem a experiência e a energia do pai, Iris Rezende. Se deixarem o processo sob sua condução, os ases da política vão, eles próprios, caminhar enfraquecidos para a disputa de 2024 — que é quando se reformatará a base para a disputa eleitoral de 2026 (governo, Senado, Câmara dos Deputados e Assembleia Legislativa).
Entre o que hesita, e poderá acabar não sendo candidato, é razoável e realista ficar com quem quer realmente disputar, e nada teme, mesmo a derrota (só ganha, em política, aquele que arrisca tudo). O presidente da Assembleia Legislativa, Bruno Peixoto, do União Brasil, quer ser candidato a prefeito de Goiânia. Ele integra a turma dos políticos que estão sempre presentes — os proativos — e sabe agregar apoios.
Se for anunciado como “o” candidato da base governista — com o apoio de Ronaldo Caiado, Daniel Vilela, Gracinha Caiado, Romário Policarpo, Gustavo Mendanha, Delegado Waldir Soares, Silvye Alves —, Bruno Peixoto provavelmente aparecerá, em pouco tempo, entre os primeiros colocados. Como quer ser candidato, tem traquejo político e agrega, o presidente a Assembleia Legislativa pode começar em segundo ou terceiro lugar, ou até em quarto, mas, ao término do segundo turno, pode acabar sendo o primeiro colocado — tornando-se prefeito de Goiânia (cidade que ama e da qual gostaria de cuidar tão bem quanto Nion Albernaz).