Eleitor quer político-gestor na Prefeitura de Goiânia. Pode ser Darrot, Adriana ou Bruno Peixoto?
29 outubro 2023 às 00h01
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Em termos político-eleitorais, porque gera excesso de autoconfiança e, daí, certa acomodação, nada é mais perigoso que um candidato aparecer em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, sobretudo quando as eleições serão realizadas daqui a 11 meses, em 6 outubro de 2024.
Candidato a presidente da Argentina, Javier Milei, da direita quase extraterrena, liderava as pesquisas e parecia acreditar que estava eleito. Dada sua frente, certamente acomodou-se e não abriu espaço para alianças com setores de centro-direita no primeiro turno.
Contados os votos, Javier Milei ficou em segundo lugar — contrariando as pesquisas de intenção de voto — e o postulante peronista, Sergio Massa, ficou em primeiro.
Na disputa do segundo turno, Javier Milei está se mostrando mais aberto e negociou com Patricia Bullrich, da direita terrena. O economista — que não economiza em maluquices — percebeu que só terá chance de ser eleito se moderar o discurso… ao menos em parte. Sua expectativa de poder foi transferida para Sergio Massa.
Goiânia: quadro totalmente aberto
Em Goiânia, a quadro político — nem se pode dizer eleitoral — está inteiramente aberto. Porque, a rigor, não há candidatos efetivamente confirmados. Não há nem mesmo pré-candidatos.
Ante um quadro político de indefinição, é natural que os principais líderes estaduais — como o governador Ronaldo Caiado, do União Brasil, e o vice-governador Daniel Vilela, do MDB — se mostrem cautelosos.
Ronaldo Caiado e Daniel Vilela, ao contrário do que se pode pensar, não estão “parados”. Pelo contrário, mantêm amplos contatos e conversam nos bastidores, mas, no geral, não expõem as articulações.
É certo que, com os nomes do senador Vanderlan Cardoso, do PSD, e dos deputados federais Adriana Accorsi, do PT, e Gustavo Gayer, do PL, expostos como possíveis candidatos, é natural que a base governista — leia-se União Brasil e MDB — também mexa suas peças no tabuleiro do xadrez político.
O governismo não tem, até agora, um pré-candidato, e sim pré-candidatos. A 11 meses do pleito, isto não é ruim. Ao contrário, é positivo. Porque mostra que tem força na capital — frise-se que Ronaldo Caiado é muito bem avaliado na principal cidade do Estado (em larga medida, porque a segurança pública em Goiânia é altamente eficiente).
A força de Ronaldo Caiado é que faz com que Vanderlan Cardoso insista em buscar o apoio do governismo para disputar o pleito. No momento, o senador está isolado — sem partidos e líderes expressivos ao seu lado. Então, pode começar bem, ao estilo de Javier Milei — numa frente que se pode chamar de “inercial” (no sentido de que está praticamente sozinho no páreo — ou quase sozinho, porque Adriana Accorsi é uma postulante forte, com estrutura partidária) —, e acabar ficando para trás.
Há quem postule, entre políticos, cientistas políticos e pesquisadores, que há a possibilidade de o segundo turno em Goiânia ter um candidato do governo contra Adriana Accorsi. Seria a centro-direita contra a esquerda.
Ao buscar o apoio do governismo, Vanderlan Cardoso não quer correr risco. Ou seja, quer ser o candidato do governo. Se for, logicamente, exclui o candidato do governo e, deste modo, garante seu lugar no segundo turno — contra Adriana Accorsi, que pode ser, guardadas as proporções, a Sergio Massa do Cerrado.
Com forte apoio do presidente Lula da Silva e de seu entourage, Adriana Accorsi pode acabar disputando o segundo turno. E seu adversário pode ser Vanderlan Cardoso.
Porém, se Vanderlan Cardoso não obtiver o apoio do governismo, pode acabar fora do segundo turno, abrindo espaço para, possivelmente, Jânio Darrot, do MDB, ou Bruno Peixoto, do União Brasil, disputar contra a candidata petista.
Então, se for “o” candidato do governo, Vanderlan Cardoso “elimina” seu principal rival — exatamente o postulante governista — e tende a disputar o segundo turno contra Adriana Accorsi.
Se estiver no segundo turno, como candidato governista, Vanderlan Cardoso estará capitaneando uma frente ampla, e, deste modo, pode disputar contra uma Adriana Accorsi isolada — com mais apoio fora do que dentro de Goiás, o que, pela história das eleições, não é positivo.
Entretanto, convivendo diretamente com Lula da Silva e seus principais aliados, Adriana Accorsi — filha de Darci Accorsi, um dos melhores prefeitos da história de Goiânia — aprendeu que, se quiser eleita ser prefeita de Goiânia, precisa articular uma frente ampla, que inclua a esquerda e ao menos parte do centro.
Se Adriana Accorsi conseguir montar uma estrutura eleitoral de centro-esquerda, desde o primeiro turno, irá forte, quem sabe, para o segundo turno. A petista, diplomática e moderada por natureza, está conversando com vários aliados do presidente Lula da Silva. Porque sabiamente não quer ir para uma disputa dura apenas com o PT, o PC do B e, possivelmente, o PSB. O PT cansou-se de exércitos de brancaleones.
A pergunta de 1 milhão de euros ou yuans é: o governismo (leia-se Ronaldo Caiado e Daniel Vilela), que não recebeu o apoio de Vanderlan Cardoso na disputa pelo governo do Estado em 2022, terá como apoiá-lo em 2024? Não se sabe.
O que se sabe é que cada eleição tem sua própria história e, portanto, novos corpos de alianças. Pode-se sugerir, então, que dificilmente o governismo terá como apoiar Vanderlan Cardoso em 2024.
Porém, é preciso atentar para uma questão: “dificilmente” não é o mesmo que impossível. Vanderlan Cardoso, se eleito prefeito da capital — com mais de 1 milhão de eleitores —, apoiaria Daniel Vilela para governador em 2026, daqui a dois anos e 11 meses? Talvez.
Se o candidato do PL a governador for Wilder Morais, o nome de Jair Bolsonaro em Goiás, como se comportará Vanderlan Cardoso? Sua mulher, Izaura Cardoso, é a primeira suplente do senador do PL. Se ele for eleito governador, Izaura Cardoso assumirá o mandato por quatro anos. É uma questão relevante e, por isso, precisa ser examinada quando se discute a conexão entre as eleições de 2024 e 2026.
Sublinhe-se que, se Vanderlan Cardoso for eleito prefeito de Goiânia e não se alinhar com Wilder Morais, o senador do PL ficará isolado e dificilmente terá condições de disputar o governo com Daniel Vilela em igualdade de condições. Talvez nem dispute o pleito — resguardando-se para 2030, quando, quem sabe, seu adversário poderá ser exatamente Vanderlan Cardoso.
Jogo passa por Ronaldo Caiado
Como está no auge de sua força política — portanto, será o principal general eleitoral do pleito de Goiânia —, Ronaldo Caiado participará do pleito de 2024, não como mais um, e sim como o player decisivo. A disputa pela prefeitura da capital passará por suas mãos. No momento, parece que “nada” está acontecendo porque o governador está aguardando as coisas se desenrolarem — e, claro, tem um Estado para administrar, o que, a rigor, é o mais importante.
“Aguardar” não é o mesmo que “segurar”. Porque, na política, não se consegue “segurar” o processo eleitoral. Porém, ao deixar as coisas rolarem, como se não estivesse interferindo — e está, sim, interferindo —, Ronaldo Caiado puxa o jogo para si, determinando os principais lances. Se assim não fosse, Vanderlan Cardoso não estaria tentando obter o seu apoio.
O senador sabe que o apoio de Ronaldo Caiado vai desequilibrar a disputa em Goiânia. Quando definir seu candidato, este, de cara, ganhará expectativa de poder — circulando entre os favoritos. Perspicaz, Vanderlan Cardoso sabe que, sem o apoio do governador e sem o apoio de Daniel Vilela, dificilmente chegará ao segundo turno. Quem poderá retirá-lo do segundo turno não será apenas Adriana Accorsi, mas também o postulante governista.
Bem avaliado em todo o Estado, inclusive em Goiânia, Ronaldo Caiado não tem pressa para definir seu candidato. Por isso observa o quadro, conversa com os aliados — fala sobre viabilizar cada vez mais o governo, mostra-se altamente preocupado com a Reforma Tributária (um acinte para o desenvolvimento dos Estados menos ricos) e sobre a possibilidade de ser candidato a presidente da República — e vai “administrando”, com habilidade, o processo pré-eleitoral (aliás, não chega nem a ser pré-eleitoral).
O MDB poderá lançar uma chapa com Jânio Darrot e um vice do União Brasil? É possível. Se ele estiver mesmo no jogo, é sinal de que o governismo está buscando um candidato com perfil parecido com o de Vanderlan Cardoso. Ou seja, ele será, de alguma maneira, o Vanderlan Cardoso do governismo. Com a diferença de que o apoio político de Ronaldo Caiado e Daniel Vilela será decisivo, o elemento definidor — e não acessório.
O raciocínio seria mais ou menos assim: “Se temos o nosso Vanderlan Cardoso, por que vamos apoiar o Vanderlan Cardoso de Senador Canedo?” Observe-se que Jânio Darrot foi prefeito de uma grande cidade do entorno de Goiânia — Trindade — assim como o senador foi prefeito de outra grande cidade, Senador Canedo. Note-se que os dois são empresários, e bem-sucedidos.
Uma pesquisa indica que os eleitores goianiense querem na prefeitura um gestor que seja político. Porque acreditam que o político viabiliza o gestor. Por isso, há também a possibilidade de uma candidatura de Bruno Peixoto.
Porque o presidente da Assembleia Legislativa está se revelando um gestor eficiente e, também, um articulador político do primeiro time. Uma candidatura leve como a de Bruno Peixoto pode surpreender as figuras coroadas da política. O deputado está no jogo, como titular e, se contar com bons técnicos — como Ronaldo Caiado e Daniel Vilela — poderá se tornar o “artilheiro” da copa de 2024. Quer dizer, com apoio decidido, tem condições de se eleger prefeito de Goiânia.