Crise de confiança pode desestabilizar uma economia que voltou a crescer

28 maio 2017 às 17h18

COMPARTILHAR
Aos trancos e barrancos, a dupla Michel Temer e Henrique Meirelles comanda a recuperação da economia. Mas crise política pode retardar avanços

A crise econômica do Brasil decorre, em larga medida — já que não se pode falar em fator externo —, de uma crise política e dos equívocos de gestão do governo da ex-presidente Dilma Rousseff, do PT. Pensa-se comumente que a crise decorre da corrupção em si, porém, ainda que isto deva ser considerado, sua origem pode ser verificada muito mais na condução incompetente do governo petista, especialmente a partir do de Dilma Rousseff, em termos de economia. Pode-se dizer que o petismo, ao perder o timão da economia, deixou o Brasil à deriva até que se tornasse o Titanic dos países.
Não há dúvida de que o peemedebista Michel Temer comungou com a corrupção articulada pelo PT — e, antes do PT, pelo PSDB, quiçá nos limites ditos toleráveis (não há nenhum país ou governo honesto 100%) —, mas, ao assumir a Presidência da República, decidiu implementar medidas, e nem se fala das reformas Trabalhista e Previdenciária, que ainda não foram efetivadas, que estão contribuindo para a recuperação da economia.
Com a presença de Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda, além de Ilan Goldfajn na presidência do Banco Central, com ajustes no custo da máquina pública, criou-se uma expectativa positiva. O país e o mercado externo readquiriram certa confiança no governo patropi. Aos poucos, os investimentos retornaram e a economia voltou a crescer, ainda que lentamente.
O economista Robert J. Shiller, prêmio Nobel de Economia em 2013, escreveu um artigo, publicado na quinta-feira, 25, no jornal “Valor Econômico”, no qual fala de “estagnação secular” (ocorre em “economias fracas”) e em crise de confiança. Depois de uma crise profunda, que abalou os alicerces das empresas e o consumo popular, instala-se uma crise de confiança de amplo espectro. Derrotar tal crise de confiança, instalando outra vez o primado do otimismo — de que se poderá investir e, também, gastar —, é uma missão muito difícil.
No Brasil, a partir do governo de Michel Temer, com os ajustes nos gastos públicos feitos pela equipe de Henrique Meirelles — espécie de primeiro-ministro da economia — e com a perspectiva de aprovação das reformas Previdenciária e Trabalhista, criou-se uma expectativa de recuperação da economia. O crescimento de 0,2% ou 0,6% à primeira vista pode parecer pequeno, mas deve ser examinado a partir do dado de que a economia não estava crescendo nada. Parar de cair, mesmo crescendo pouco, é sinal de estabilização da economia. Tanto que os investimentos externos voltaram.
A crise política pode, outrossim, derrubar o parco crescimento da economia, puxando-a, mais uma vez, para baixo. Num relatório, o banco Goldman Sachs aponta a possibilidade do que chama de “recessão em W” — “quando”, afirma a “Época Negócios” , “a economia sofre duas quedas bruscas entremeadas por um período breve de recuperação”.
“A perspectiva para a atividade real se tornou muito mais incerta e com forte inclinação a um crescimento mais fraco do que o previsto em nosso atual cenário-base”, afirma o relatório do Goldman Sachs. “Nossa expectativa de crescimento real modesto de 0,6% do PIB para 2017 se baseia na hipótese de um atividade real mais firme durante o segundo semestre, mas pode ser seriamente comprometida pelos desdobramentos recentes.” Pode-se indicar que ruim com Michel Temer-Henrique Meirelles e pior sem Michel Temer-Henrique Meirelles? Talvez.
O Goldman Sachs destaca que há risco de rebaixamento da nota de crédito do Brasil. O economista-chefe do banco para a América Latina, Alberto Ramos, afirma que, “se o governo avançar na direção de reformas, demonstrando que preservou a governabilidade e tem capital político no Parlamento, mantendo o cronograma de apreciação das medidas no Congresso, será um sinal bem-vindo e positivo”. Ele acrescenta que “o mercado não se preocupa com quem ocupa” a “cadeira de presidente, mas com” a “capacidade de avançar com” a “agenda de reforma”. Adeus, Michel Temer? É que se está sugerindo.
O Credit Suisse, em relatório sobre a crise, sustenta que “a incerteza política e econômica aumentou substancialmente com os eventos das últimas semanas, dificultando ainda mais uma retomada consistente dos investimentos”. Mas o banco ainda aposta no crescimento de 0,2% em 2017 e 2,0% em 2018.
Já o CPPIB, maior fundo de pensão do Canadá — 230 bilhões de dólares de ativos —, afirma que vai continuar investindo no país. Seu chefe para a América Latina, Rodolfo Spielmann, informa que o fundo vai ampliar os investimentos. Mas ressalva: “O Brasil precisa resolver a questão fiscal”. De imediato, o que se precisa resolver é a questão política, que, se não equacionada, pode travar a economia.