Bolsonaro precisa do União Brasil e o partido precisa do presidente

01 maio 2022 às 00h00

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Em vários Estados, no afã de combater o avanço do PT, vários líderes do União Brasil já estão apoiando Bolsonaro
A tendência é que o partido União Brasil e o presidente Jair Bolsonaro, do PL, se tornem irmãos siameses na eleição deste ano. Nem mesmo o médico Zacharias Calil, um expert em separar siameses, conseguirá, por certo, dissociá-los.
Por que o União Brasil e Bolsonaro, que haviam se tornado uma espécie de Caim e Abel, podem se tornar Abel & Abel? Por realismo e sobrevivência política.
Uma vitória de Lula da Silva, do PT, para presidente da República retiraria Bolsonaro de cena pelos próximos quatro anos e, também, enfraqueceria seu grupo político, hoje ancorado em centenas de cargos do governo federal.
Mas uma vitória de Lula da Silva não seria ruim tão-somente para Bolsonaro e seu grupo mais próximo (e não se está falando do PL e do pP, que logo se acoplaria ao novo governo, como faz há anos).
Na verdade, o União Brasil também sairia prejudicado com a ascensão do petista-chefe. Primeiro, porque, em virtude das divergências ideológicas com o petismo, dificilmente o partido — ao contrário de pP, PTB, PL e Republicanos — poderá fazer parte do governo. Segundo, a convivência administrativa dos governadores do União Brasil com um presidente eleito pelo PT será muito difícil, de conflito. Por mais que se fale da necessidade de um caráter republicano da gestão pública, não é assim que funciona o mundo real.
Portanto, um retorno de Lula da Silva não é positivo para Bolsonaro e, ao mesmo tempo, para o União Brasil.
No momento, Bolsonaro está pressionando deputados do União Brasil que indicaram aliados para cargos de proa no governo.
O líder do União Brasil na Câmara dos Deputados, Elmar Nascimento, da Bahia, indicou Marcelo Moreira Pinto para a presidência da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba. A Codevasf é conhecida como a “estatal do Centrão”.
O presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, Arthur Maia, do União Brasil, indicou o aliado Harley Xavier Nascimento para a Superintendência da Codevasf de Bom Jesus da Lapa, na Bahia.

Elmar Nascimento e Arthur Maia, além de outros união-brasilistas, estão sendo pressionados pelo senador Flávio Bolsonaro a trabalharem pelo apoio do partido a Bolsonaro já no primeiro turno.
Por que o União Brasil é tão importante para Bolsonaro? O partido tem quase 1 bilhão de reais de fundo eleitoral, seu tempo de televisão é o maior de todas as legendas e está enraizado em todos os Estados do país — inclusive no Nordeste, onde o presidente está bem atrás de Lula da Silva nas pesquisas de intenção de voto.
Bolsonaro está crescendo nas pesquisas de intenção de votos e parece acreditar que precisa de um “empurrãozinho” — e não de um big “empurrão” —, senão para superar, ao menos para encostar ainda mais no petista-chefe, caracterizando um empate técnico. O empate técnico pode gestar a expectativa de “virada”.
Se colar em Lula da Silva, cria-se expectativa de poder. Ou seja, a possibilidade de, aos poucos, superar o postulante do PT.
As pesquisas iniciais sugeriam que Lula da Silva poderia liquidar a fatura já no primeiro turno. O petista fez a lição de casa, ao buscar um vice de centro-direita, Geraldo Alckmin, e ao sugerir que, se eleito, irá fazer um governo moderado e realista, com segurança jurídica garantida.
Hoje, o mais provável é que a eleição vá para o segundo turno — com a disputa sendo entre Bolsonaro e Lula da Silva.
Há um aspecto positivo para Bolsonaro. O presidente está crescendo e se aproximando do pré-candidato petista à revelia do União Brasil, o partido de centro-direita mais ideológico do país.
O União Brasil corre o risco de Bolsonaro crescer mais, empatando com Lula da Silva, e quem sabe superando-o, e sem precisar de sua força política.
Se superar Lula, indo para o segundo turno em vantagem — frise-se que se trata de uma hipótese, pois não é o quadro de hoje —, Bolsonaro pode acabar prescindindo do União Brasil.
Porém, como sabe que está atrás e que o segundo turno será uma guerra, Bolsonaro precisa de aliados fortes, como os líderes estaduais do União Brasil. Ademais, se reeleito, vai precisar, para governar, de uma base parlamentar ampla, o que certamente o União Brasil poderá oferecer, quiçá até mais do que o PL.
Se Bolsonaro crescer, criando expectativa de poder, pode se tornar um dos principais cabos eleitorais de candidatos a governador nos Estados. Em 2018, João Doria, candidato a governador contra um postulante do PT, agarrou-se ao Bolsonaro, absorvendo o eleitorado bolsonarista, e foi eleito. Assim como Romeu Zema, do partido Novo, em Minas Gerais.
Até pouco tempo, ser aliado de Bolsonaro era ruim, dado o desgaste do presidente. O desgaste, por sinal, ainda existe, mas está se reduzindo. Porque a imagem de Bolsonaro começa a melhorar — lentamente — a imagem do governo. O que sugere um paradoxo: porque o governo é, de acordo com algumas análises, melhor do que o presidente.
Se a economia melhorar um pouco mais nos próximos meses, com a queda da inflação — que permanece alta —, há possibilidade de Bolsonaro ultrapassar Lula da Silva? Não se sabe. Mas a questão econômica, o que se traduz em melhoria (ou não) de condições de vida das pessoas — inclusive da ampliação do consumo —, certamente será decisiva. O preço da gasolina, que está impactando a inflação, pode cair? É difícil, quase impossível, porque os preços estão altos no mercado externo (a invasão da Ucrânia pela Rússia, gerando uma crise internacional, contribuiu fortemente para encarecer os combustíveis).
Mas o presidente pressiona a Petrobrás, chegou a trocar seu presidente, para reduzir os preços. De qualquer modo, a popularidade de Bolsonaro tem melhorado, apesar da inflação alta e do preço elevado dos combustíveis.
Lula da Silva e Bolsonaro esvaziaram a terceira via e há escassa possibilidade de os nomes colocados — Ciro Gomes, do PDT, João Doria, do PSDB, e Simone Tebet, do MDB —se aproximarem dos postulantes da esquerda e da direita.
Fica-se com a impressão de que os eleitores brasileiros, ao menos no momento, estão aprovando e, até, torcendo pela polarização entre Lula da Silva e Bolsonaro. É uma espécie de tira-teima, porque o duelo eleitoral, que deveria ter acontecido em 2018, foi postergado para 2022.
Voltando ao União Brasil. O presidente do partido, Luciano Bivar, é cotado para disputar a Presidência da República. Mas tem estatura para tanto? Talvez não tenha. Mas tantos outros disputam sem ter estatura alguma.
A questão nem é que, se disputar, Luciano Bivar irá apequenar o União Brasil. Os problemas são outros. Primeiro, se for candidato, pode obter uma votação bisonha, acabando por prejudicar os candidatos a governador e deputado. Segundo, o partido pode, se Bolsonaro crescer muito, perder a utilidade para o pré-candidato do União Brasil.
Então, o mais racional é, desde o primeiro turno, uma aliança entre Bolsonaro e União Brasil. O presidente ganhará mais estrutura nos Estados, tempo de televisão, dinheiro para a campanha. Ao mesmo tempo, os governadores do União Brasil ganharão a chancela de um político que está, aos poucos, restaurando sua popularidade e que conta com uma militância aguerrida tanto nas redes sociais quanto nas ruas. Frise-se que, em vários Estados, no afã de combater o avanço do PT, vários líderes do União Brasil já estão apoiando Bolsonaro.
O União Brasil poderá indicar o vice de Bolsonaro? É possível. Mas também é provável que o vice não seja Luciano Bivar (pernambucano de Recife) — um político que tem desgastes — como revelou uma extensa reportagem da revista “Veja” —, quiçá incontornáveis. Para contrabalançar a força de Lula da Silva no Nordeste, o vice de Bolsonaro tende a ser desta região.
No caso de aliança entre Bolsonaro e União Brasil, o que acontecerá em Goiás? No momento, não dá para saber, é claro. Mas pode se especular que o governador Ronaldo Caiado, pré-candidato à reeleição, estará no mesmo palanque do pré-candidato do PL a governador, deputado federal Major Vitor Hugo. Portanto, no palanque de Bolsonaro.
Num possível acordão nacional, que chegará ao regional, Major Vitor Hugo certamente sairia da disputa e apoiaria a reeleição de Ronaldo Caiado. Poderia, por exemplo, ser candidato a senador ou mesmo a deputado federal. É uma hipótese, claro, mas com ampla possibilidade de se tornar tese.