Com Bolsonaro, a direita está perdendo a grande chance de conquistar o país, mostrando que, além de honesta, é eficiente e tem um projeto de nação

Carlos Bolsonaro e Jair Bolsonaro: a impressão que se tem é que, para salvar o filho, o presidente pode até esquecer os princípios da República, atropelando as instituições | Foto: Reprodução

Jair Messias Bolsonaro foi eleito presidente da República basicamente porque o país — a maioria dos brasileiros — não queria a volta do PT ao governo federal. Por causa da crise econômica, que solapava as finanças dos indivíduos, e do assalto ao Erário como uma espécie de “programa” de governo. O petismo “deixava” roubar, pois seu objetivo era manter-se no poder, e, no meio do processo, petistas também começaram a saquear os cofres públicos. A esquerda no poder não inventou a corrupção, mas azeitou-a.

Uma pequena parte dos eleitores preocupa-se com ideologias e, por isso, costuma avaliar que a maioria tem interesse pelo assunto. A maior parte das pessoas quer saber se as políticas do candidato tendem a gerar empregos, aumentar a sua renda e se os novos gestores não vão roubar. É provável até que pensem assim: “O roubo é inevitável, mas que os novos homens do poder roubem menos”. Porque o eleitorado, no geral, não acredita em políticos — em nenhum deles. Desconfia até dos melhores.

O embate de 2018 foi, portanto, entre um candidato, Bolsonaro, que prometia não roubar, e o candidato de um partido que, quando no poder, havia assaltado a Petrobrás e outros órgãos do governo. Ao mesmo tempo, Bolsonaro não era responsável por nenhuma crise econômica, enquanto o PT afundara o país numa recessão.

A disputa se deu entre esquerda, Fernando Haddad, do PT, e direita, Bolsonaro, então filiado ao PSL. A direita ganhou em grande parte porque o centro não soube fazer a crítica contundente da gestão petista. Ao contrário da militância de Bolsonaro — que fez um trabalho articulado de desconstrução do discurso petista. Em alguns momentos, a artilharia do bolsonarismo lembrava (e lembra) a velha infantaria do petismo — as duas tão agressivas quanto sem limites. Só que, desta feita, o PT não estava enfrentando a militância asséptica e elegante do tucanato. O petismo encontrou pela frente um adversário firme, com discurso atento, duro e sem pudores civilizatórios. Era pauleira contra pauleira. Os petistas, que haviam “engordado” com os anos de poder, não eram mais páreo para os “magrelos” da campanha da direita.

Retomando a tese inicial, frise-se que, se não fossem a roubalheira do petismo — que incluiu MDB, PTB, PP, PL (na época, PR), entre outros — e a crise econômica, em decorrência dos equívocos do governo de Dilma Rousseff, dificilmente o bolsonarismo teria ascendido. Portanto, a questão ideológica — a guerra entre esquerda e direita — talvez tenha menos importância do que realmente se pensa, às vezes. A radicalização política pode ter contribuído, porém, para esvaziar o centro político. O bolsonarismo e o petismo, mais afiados inclusive nas redes sociais, galvanizaram a opinião pública do país e, por isso, contribuíram para esvaziar o centro, cristalizando a ideia de que não era uma alternativa efetiva.

Costuma-se esquecer alguns dos números das eleições de 2018, notando tão-somente as votações de Bolsonaro (57,8 milhões de votos — 55,13%) e Haddad (47 milhões de votos — 44,87%). Os dados indicam a força de Bolsonaro, mas também a de Haddad (ou do PT). Mas há outros dados que merecem menção: 44.866.402 eleitores (30,87%) não votaram em Bolsonaro e Haddad. Os dados: 31.371.704 (abstenção — 21,30%), 8.608.105 (nulos — 7,43%) e 2.486.593 (brancos — 2,14%). Quer dizer, muita gente não queria os postulantes do PT e do PSL. Escolheu, no fim, aquele que avaliava como, digamos, “menos ruim”. Entre o conhecido, de imagem ruim, e o desconhecido, ainda sem imagem em termos de gestão, ficou-se com o último.

O fato é que a direita havia conseguido eleger um presidente da República e enfrentando a escolada e aguerrida militância do PT. Subestima-se Olavo de Carvalho, sobretudo porque nas redes comporta-se como panfletário, mas o filósofo contribuiu para formar e formatar uma militância quase militarizada para o bolsonarismo (assunto que merece um estudo de caso, mas a sério). Talvez se deva falar não em bolsonarismo, e si em olavo-bolsonarismo. As pessoas formadas nos cursos do pensador da Virginia deram um discurso e um modo de agir aos apoiadores de Bolsonaro. Inundaram as redes sociais com um poderoso e, às vezes, virulento contraponto ao petismo. Era e é o anverso do petismo, que acabou perdendo a guerra digital, ainda que continue atuante. A questão é que o bolsonarismo radicalizou de tal forma que o petismo, mesmo radicalizado, ficou com a imagem de moderado. Hoje, pode-se falar em selvageria digital.

Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre não são toda essa excelência que a imprensa
faz crer, mas são menos fisiológicos do que a turma que já está “salivando”
Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, e Davi Alcolumbre, presidente do Senado |Foto: Pedro França/Agência Senado

Ao assumir o poder, Bolsonaro nomeou, por assim dizer, dois ministérios. Um com gente experimentada e qualificada para o serviço público — Paulo Guedes, na Economia, Sergio Fernando Moro, na Justiça, Tereza Cristina, na Agricultura, Tarcísio de Freitas, na Infraestrutura, e Luiz Henrique Mandetta, na Saúde. Entre eles devem ser incluídos os militares — como Augusto Heleno, do GSI, Hamilton Mourão (vice-presidente), Fernando Azevedo Silva, da Defesa, Luiz Eduardo Ramos, governo, e Walter Braga Netto, Casa Civil. Os militares são ponderados, equilibrados, competentes e realistas. Integrantes do “segundo” ministério são os auxiliares que se dizem ideológicos mas beiram o folclórico, como Abraham Weintraub, da Educação (ele lembra o personagem Sales, de Machado de Assis, que tinha vários planos, mas não conseguia retirá-los do papel), Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, e Damares Alves (que quer “regular” comportamentos — o que não pode ser uma “loucura sã”), da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Weintraub, Araújo e Damares parecem pensar pela mesma “régua” de Bolsonaro e de dois de seus filhos — Eduardo e Carluxo Bolsonaro (este, o mais próximo de Olavo de Carvalho).

Aos trancos e barrancos, o governo vinha acertando a mão — como no caso da Reforma da Previdência, que, bem ou mal, acabou por ser feita. Guedes começou a ajustar o custo da máquina pública e estava preparando um amplo programa de privatização (o mercado aprovava e ainda aprova o ministro). Tarcísio de Freitas está recuperando parte da malha viária do país. Tereza Cristina opera a área do agronegócio com habilidade — às vezes tendo de enfrentar o artificialismo ideológico do bolsonarismo — que já criou atrito com a China e com a Arábia Saudita (ao se aproximar em demasiado de Israel). Mais do que Bolsonaro e Ernesto Araújo, a ministra sabe que, nas relações comerciais entre países, prevalecem os negócios. Não se tem como ser “amigo” de todos — talvez como na própria vida pessoal — no concerto internacional. Mas a China não quer saber se Bolsonaro é de direita — quer, isto sim, comprar e vender para o maior parceiro latino-americano. O Brasil não tem como pensar diferente, ainda que não precise endossar o governo da China — que é uma ditadura que se disfarça sobre o manto do socialismo de mercado ou do capitalismo de Estado.

Jair Bolsonaro, Valdemar Costa Neto e Roberto Jefferson: o presidente vai mesmo se aliar com a dupla? Corre o risco de se tornar “Lula amanhã” | Fotos: Reproduções

Mas aí surgiu o novo coronavírus. Não é bem assim. Antes mesmo da pandemia, o governo de Bolsonaro começou a desandar por causa do caráter errático do presidente. Não há corrupção no governo. Trata-se de um fato. Mas há ilhas de incompetência e paralisia. Há uma paranoia frequente em relação aos ministros que são bem-sucedidos. A primeira grande crise se deu com Luiz Henrique Mandetta, que, como ministro da Saúde, entrou em descompasso com o presidente por dois motivos. Primeiro, porque defendia o isolamento global da população e Bolsonaro discorda, receando — e sua preocupação é válida — uma quebradeira da economia, o que, além de provocar demissões, não permitirá a geração de novos empregos. Segundo, porque, rapidamente, Mandetta se tornou popular. No imaginário de Bolsonaro, virou um concorrente para a disputa de 2022 e, por isso, foi defenestrado.

Depois Bolsonaro encrencou-se com Sergio Moro. Não se sabe de onde retirou a informação, mas tudo indica que o presidente teria ficado sabendo que seu filho Carlos Bolsonaro poderia ser preso pela Polícia Federal. Era alarme falso: não há nenhum pedido de prisão de Carluxo — que, comenta-se, seria o formulador do Gabinete do Ódio, que ataca adversários do pai, reais ou imaginários, e também seria patrocinador das campanhas que propõem a retomada da ditadura militar. Apesar dos indícios, não há provas cabais — pelo menos não foram divulgadas — de que o Zero 3 é o articulador da máquina de produção de maldades digitais. O presidente partiu para cima de Maurício Valeixo, que acaba de deixar a diretoria-geral da Polícia Federal, por entender que “jogava” a favor da prisão de Carluxo. Sergio Moro reagiu e, provando que sua caneta tem tinta, Bolsonaro exonerou Valeixo — sem avisar Moro, que, sentindo-se pressionado, pediu demissão.

João Doria, Wilson Witzel e Ronaldo Caiado, governadores de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Goiânia: eficiência no combate à pandemia do novo coronavírus, com a adoção de isolamento social, não agradou Jair Messias Bolsonaro | Fotos: Reproduções

A estatura de Moro dava ao governo de Bolsonaro uma cara de seriedade, de retidão moral. Porque, quando juiz federal, havia condenado à prisão figuras coroadas da política e do empresariado patropis. Sua saída sugere que, quando quer, o governo de Bolsonaro negocia politicamente (numa mensagem para Moro, ele sublinha que políticos estavam reclamando da Polícia Federal). Não à toa figuras que chegaram a ser presas, como Valdemar Costa Neto, o “dono” do PL, e Roberto Jefferson, o “dono” do PTB, estão se aproximando do presidente — e defendendo-o. “Brigar” com Moro e ficar com Fernando Bezerra, Arthur Lira, Roberto Jeferson e Valdemar Costa Neto é uma prova de que Bolsonaro sabe aderir ao velho realismo e que está se sentindo tão isolado quanto acuado. Isto não quer dizer, porém, que o presidente está roubando ou deixando roubar. Ele é decente. Mas os chegantes, alguns deles envolvidos no mensalão e no petrolão, não estão se aproximando porque Bolsonaro é bonito, elegante e bonzinho. Sem Moro por perto, e com uma PF “domesticada” — o que não será fácil, porque a instituição não pode ser tão manipulável quanto querem alguns —, o cordão dos ex-aliados do PT só vai engrossar. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, não são toda essa excelência que a imprensa faz crer, mas talvez sejam menos fisiológicos do que a turma que está chegando e salivando. Lula da Silva, porque resistia ao MDB, no primeiro governo, caiu nas mãos desta turma — secularmente espertíssima. A turma do que Bolsonaro chama de “establishment” está se “achegando”, para digeri-lo, como fez com o PT de Lula da Silva e Dilma Rousseff. Se cair no canto da sereia, em busca da governabilidade a qualquer custo, sairá tão chamuscado quanto a turma red do petismo. Talvez seja menos ruim buscar governabilidade com os menos ruins. Puros, na e fora da aldeia, não há. “Quer pureza? Não vá ao convento” — já disse um filósofo pouco conhecido.

Vale listar, além de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, mais alguns políticos com os quais Bolsonaro atritou-se: os governadores Ronaldo Caiado (DEM), de Goiás; Wilson Witzel (PSC), do Rio de Janeiro; e João Doria (PSDB), de São Paulo. Mais do que outros, o presidente sabe que Ronaldo Caiado é um político republicano, cujos pleitos em Brasília são em defesa de seu Estado, pois não coloca interesses pessoais à frente do interesse público. A guerra aberta contra Doria e Witzel tem a ver com 2022, pois Bolsonaro avalia que os dois serão seus adversários. Na interpretação bolsonarista, estariam usando a questão da pandemia do novo coronavírus com objetivos eleitorais.

Cristaliza-se no imaginário do país a tese de que o presidente nunca é a “favor” — está sempre “contra” alguém ou alguma coisa. Alimenta-se da “destruição” e não sabe ser um agente da “construção”.

Se a esquerda, governando mal, ajudou a criar Bolsonaro, é possível
que Bolsonaro contribua para recuperar parte da imagem da esquerda

Se persistir governando de maneira errática — os próximos a cair devem ser Paulo Guedes (está virando “dama de companhia” da rainha da Inglaterra) e, depois, Tereza Cristina —, Bolsonaro pode contribuir para a efetivação de outro fenômeno. Ele pode acabar se tornando o artífice do enfraquecimento da direita no Brasil e, ao mesmo tempo, pelo restabelecimento de parte da esquerda. Se a esquerda, governando mal e roubando o Erário, ajudou a “criar” Bolsonaro, é bem possível que Bolsonaro, com seus equívocos e brigas, contribua para recuperar parte da imagem da esquerda no Brasil.

Jair Bolsonaro e Sergio Moro: o ex-ministro não quis proteger Carlos Bolsonaro e um grupo de políticos que apoiam o governo do ex-líder do PSL | Foto: Adriano Machado/Reuters

Por causa da ditadura civil-militar — os generais e seus aliados civis ficaram 21 anos no poder —, há um consenso, equivocado, de perceber liberais e conservadores como “atrasados”, “reacionários” e “bestas feras”. Por isso, até herdeiros de banqueiros, como os irmãos Moreira Salles — Walther (cineasta) e João (diretor da revista “Piauí”) —, posam de esquerdistas ou de quase-esquerdistas. Porque receiam ser confundidos com pessoas que trabalham contra a “atualização” capitalista do Brasil. Em geral liberais e conservadores (um exemplo é Angela Merkel) são progressistas e democráticos, contemporâneos dos cidadãos de seus países.

Bolsonaro, repita-se, é decente, seu governo tem ministros competentes e bem intencionados. Mas a pauta comportamental é mais “desatualizada” do que liberal ou conservadora. É atrasada mesmo, para utilizar o termo apropriado. O debate ideológico tem mais a ver com os tempos da guerra fria, e até antes, do que com os tempos atuais — que são mais de convergências entre forças que, mesmo pensando de maneiras diferentes, entendem que a construção do país — com a democratização de oportunidades — é mais importante do que questiúnculas ideológicas. Não que o enfrentamento ideológico não deva ser feito — o filósofo italiano Norberto Bobbio sugeriu, num livro, que o debate sobre esquerda e direita não está superado. Mas ele não é de importância capital para governos e cidadãos. Discussões selvagens, em que se pretende mais destruir do que superar ou persuadir o adversário, também não interessam à sociedade — exceto aos guetos ideológicos.

Denis Lerrer Rosenfield, filósofo, defensor da liberdade individual: distância do errático governo de Jair Messias Bolsonaro | Foto: Reprodução

Por não admitir seu gradual “isolamento” (nada a ver com a pandemia), por ter escassa compreensão de que áulicos não ajudam a pensar um governo pra frente, de maneira positiva, Bolsonaro não está percebendo que parte da direita democrática e que não aceita agressões está se distanciando dele e de seu governo — que estão se tornando indefensáveis. Veja-se o filósofo Denis Lerrer Rosenfield, que não é de esquerda e votou em Bolsonaro. Não há dúvida de que é um quadro qualificado da direita brasileira. Sobretudo, é um indivíduo civilizado. Mas, horrorizado com a selvagerização do bolsonarismo e a falta de rumo do governo (na Educação predomina o caos, com um ministro tão errático quanto o presidente), se afastou. Outros intelectuais da direita pouco a pouco estão se distanciando. Luiz Felipe Pondé, por exemplo, quer distância do bolsonarismo, mas é um dos mais contundentes e qualificados críticos da esquerda patropi. Mas ser crítico da esquerda, e trabalhar por sua superação, não equivale a aderir a um estilo de governar que, não podendo cooptar, procura destruir não só os adversários, mas também aliados reflexivos — que logo são chamados de “isentões”. A linguagem (escatológica) do bolsonarismo, quando se trata de avaliar adversários — que são vistos como inimigos —, é uma apologia da barbárie. “Ameaça” não é e nunca será sinônimo de “crítica”.

A direita civilizada talvez um dia, ao fazer autocrítica, se quedará arrependida de ter investido seus esforços na eleição de um político como Bolsonaro. Ele, de fato, não faz um governo autoritário (nem corrupto, frise-se). Ainda. Mas seus aliados pregam o tempo inteiro a retomada da ditadura militar e do AI-5 (que significa a ditadura se tornando ainda mais ditadura). Não percebem que Bolsonaro já está no governo e cercado por vários generais? Por que ditadura? (e por que o irracionalismo?) No governo democrático, que tende a ser contido por si e pelos poderes correlatos, há pesos e contrapesos. O presidente não pode ter poder excessivo para fazer tudo o que quer — ainda que queira, de fato, o bem de todos. Governos, todos eles, precisam ser limitados pelas leis e pelas instituições, como o Legislativo e o Judiciário. Pode não ser muito agradável. Mas é assim que funciona a democracia. Projetos na ditadura podem avançar mais velozmente, mas as sociedades pagam um alto preço político — e de educação, em termos de comportamento democrático — quando passam por regimes discricionários. Não já nenhuma possibilidade de se construir sociedades e indivíduos perfeitos. As ditaduras até que tentam, mas os resultados, ao final do processo, são os mais pobres possíveis. A direita, com Adolf Hitler, o ditador nazista da Alemanha, matou milhões de pessoas — e não só nos campos de concentração e extermínio. A esquerda de Stálin e Mao Tsé-tung, na União Soviética e na China, matou cerca de 100 milhões de pessoas. Quer dizer que, para construir o bem, pode-se fazer o mal? Para conquistar o paraíso num futuro improvável pode-se sacrificar o presente? O filósofo britânico Isaiah Berlin é um dos críticos seminais da ideia de que o presente deve ser sacrificado pelo futuro.

Boris Johnson, primeiro-ministro da Inglaterra, e Angela Merkel, chanceler da Alemanha, são conservadores (e não pensam da mesma forma) e são modernos | Foto: Reprodução

No século 20, a esquerda quis “apressar” a história, em nome do bem da humanidade, e, na verdade, acabou sendo responsável por um recuo ainda não inteiramente mensurável. Bolsonaro, ainda que adepto de Olavo de Carvalho, não é dado a filosofices — aproxima-se muito mais do humorismo torpe —, mas, talvez sem perceber, segue ideário parecido ao da esquerda, por isso está tentando “apressar” a história. Não que um presidente não deva “puxar” seu país para a frente. Mas não deve fazer isto atacando e destruindo pessoas.

Com Bolsonaro, a direita está perdendo a grande chance de conquistar o país — mostrando que, além de honesta, é competente, conciliadora, aberta ao diálogo e moderna (alguém pode sugerir que Angela Merkel e Boris Johnson, da Alemanha e da Inglaterra, não são modernos? Os dois são conservadores, e também diferentes). Ou seja, que tem um projeto de nação. Um projeto de país não equivale a destruir a esquerda — o “comunismo”. É muito mais um projeto de convivência democrática. Quanto mais democracia — espaço para o intercâmbio de ideias —, menos espaço sobrará para autoritarismos de esquerda ou de direita. O debate entre diferentes pode até ser duro, mas não deve ser destrutivo. Do jeito que as coisas estão se encaminhando depreende-se que o projeto de Bolsonaro é parecido ao da esquerda comunista: parece que quer, também, destruir a direita. Seria Bolsonaro um comunista “enrustido”? Claro que não. Mas a direita que se cuide — se quer continuar viva no país.