Emoção do prefeito de Goiânia na terça-feira, 22, quando completou 87 anos, mostra sensibilidade de um homem que dedicou sua existência à vida pública

Ao completar 87 anos, prefeito Iris Rezende (MDB) se entregou às lágrimas ao se emocionar com homenagens recebidas depois de mais de 62 anos dedicados à vida pública | Foto: Jackson Rodrigues/Prefeitura de Goiânia

Um gigante da vida pública desabou. Caiu em lágrimas e não conteve a emoção na manhã de terça-feira, 22. A solenidade marcava a inauguração do Viaduto Luiz José da Costa, primeira parte liberada do Complexo Viário da Avenida Jamel Cecílio. Luiz José da Costa, para quem não se lembra, é o nome do cantor Leandro, que fez parte da dupla Leandro & Leonardo. O músico morreu em 1998 vítima de um câncer. Um carro de som tocou músicas do homenageado antes da liberação do trânsito no elevado que ganhou seu nome.

Ao falar na solenidade, o aniversariante do dia não conseguiu segurar o choro. Com mais de 62 anos de vida pública, o prefeito Iris Rezende (MDB) completou 87 anos, mesma idade de Goiânia, em meio a homenagens e lágrimas. Era como se aquela obra, concluída em sua primeira etapa, fosse a mais nova grande marca de um exemplo de vida pública que, aparentemente, chega ao fim na próxima sexta-feira, 1º de janeiro. Provavelmente, a chave do Paço Municipal será entregue ao vice-prefeito eleito, vereador Rogério Cruz (Republicanos).

O parlamentar deve assumir a cadeira em exercício até que o prefeito eleito Maguito Vilela (MDB) se recupere totalmente e esteja em condições plenas de saúde para comandar a gestão da capital. O eleitor goianiense escolheu Maguito seu representante legal e assim deve ocorrer quando isso for possível. Livre da batalha contra a Covid-19, o emedebista segue internado para enfrentar as sequelas deixadas pela doença que já vitimou mais de 1,7 milhão de pessoas no mundo e mais de 190 mil brasileiros até o fechamento desta edição.

Nome na história

Iris viu naquele viaduto inaugurado, com homenagens prestadas a um cantor goiano que marcou a história da música brasileira, sua história com Goiás e com Goiânia passar como em um filme. Por mais clichê que a frase anterior seja, a vida do natural de Cristianópolis (GO) que dedicou sua existência à política pública é muito maior do que as obras de infraestrutura e os mutirões que marcaram suas quatro gestões à frente da capital do Estado. Líder do movimento das Diretas Já no início dos anos 1980 em Goiânia, Iris Rezende se colocou, pelos serviços prestados ao povo goiano, ao lado da importância que teve Pedro Ludovico Teixeira na história de Goiás.

Ter passado o comando da prefeitura ao seu amigo e parceiro de MDB Maguito Vilela mostra o quanto Iris soube respeitar o tempo de Goiânia e o momento exigido pela família para se dedicar a outras atividades. É hora de estar mais próximo dos parentes, visitar as fazendas e encontrar amigos para conversas menos protocolares e burocráticas, como as que impõem para solucionar problemas as demandas da capital. O morador quer ver o buraco da rua desaparecer, o vizinho da praça obriga a prefeitura a manter a arborização bem cuidada, os jardins floridos, não deixa que falte água ou energia na sua casa. E o prefeito não pode ignorar os problemas cotidianos da população.

Iris soube cuidar bem dos moradores de Goiânia. Nem todas as demandas foram solucionadas. Tanto que foi aberta uma investigação no Ministério Público do Trabalho (MPT) para averiguar quem mobilizou a paralisação do serviço de ônibus no final de semana passado na Região Metropolitana. Esta é uma promessa não cumprida por Iris Rezende, que garantiu em 2004 resolveu os problemas do transporte coletivo na capital em seis meses. Os desafios do sistema precisarão ser encarados pelos prefeitos das cidades que fazem parte da Região Metropolitana de Goiânia. E a pandemia da Covid-19 agravou a situação.

Independente do caminho que decidir trilhar, Iris Rezende deixou seu nome bem marcado na história | Foto: Jackson Rodrigues/Prefeitura de Goiânia
Parque Mutirama

Cassado pela ditadura militar no primeiro mandato, em 1969, o prefeito não pôde inaugurar uma de suas principais marcas em Goiânia, o Parque Mutirama. Mas teve a oportunidade de reabrir o espaço, que até hoje é uma das principais opções de diversão das crianças da capital, com enorme movimentação nas férias. Talvez não fosse o momento adequado de permitir o uso do espaço e de seus brinquedos, quando o Brasil começa a viver um aumento nos novos casos e mortes por Covid-19. Mas seria difícil para Iris Rezende ver sua grande obra da primeira gestão fechada nos últimos dias antes da aposentadoria.

Não há quem converse com o prefeito e não se sinta um amigo de longa data de Iris Rezende. O emedebista é daquelas pessoas que sabem envolver as pessoas próximas em uma conversa. Mesmo que conte mais de uma vez a mesma história. É sempre uma oportunidade única poder escutar o que tem a dizer o grande líder do MDB e a maior referência viva da política goiana. Todo gestor erra. Iris Rezende não é diferente. Mas a média da avaliação dos mandatos do prefeito, seja à frente de Goiânia, do Estado, como deputado, senador ou como ministro da Agricultura no governo José Sarney (MDB) e da Justiça na era Fernando Henrique Cardoso (PSDB), é mais do que positiva.

Seja o dom de Deus, ao qual o prefeito se refere com frequência, ou a vocação para se dedicar à política pública, o emocionado Iris Rezende de 22 de dezembro, ao completar 87 anos, demonstrou que a frieza do cargo não tira a sensibilidade do ser humano que reage como qualquer pessoa aos dissabores e vitórias da vida. Se irá para o devido descanso a partir de 1º de janeiro ou se aceitará ser candidato a senador, a resposta só virá no segundo semestre de 2022. Independente do caminho que decidir trilhar, Iris Rezende deixou seu nome bem marcado na história. Não só nas obras, como no viaduto inaugurado no dia de seu aniversário, mas em lágrimas justificadas por mais de 62 anos a suportar a pressão da liderança que tão bem desempenhou.