No momento, há seis políticos que, por vários motivos, estão na disputa pela Prefeitura de Goiânia (listados, a seguir, em ordem alfabética): Adriana Accorsi (PT), Bruno Peixoto (União Brasil), Gustavo Gayer (PL), Jânio Darrot (MDB), Rogério Cruz (Republicanos) e Vanderlan Cardoso (PSD).

Os seis são mais políticos do que gestores? É provável. De que Goiânia realmente precisa: de um gestor ou de um político? Talvez de um político.

Gestão não é trabalho apenas do prefeito, e sim de uma equipe azeitada (como a do governador Ronaldo Caiado, que é o timoneiro político que, no poder, se tornou um gestor eficiente, acima da média). O mais provável é que, neste momento, Goiânia precise de um político que, operando com habilidade — sabendo formatar uma equipe de longo prazo (trocas constantes inviabilizam a continuidade dos projetos) —, destrave a gestão.

São políticos atentos, capazes de agregar gestores competentes e íntegros — homens e mulheres públicos —, que costumam destravar as administrações públicas. Há gestores que, de tão burocratas, nunca terminam as obras. Em geral, não são criativos. Têm os pés tão fincados no presente que não sonham com o futuro.

1

Vanderlan Cardoso

Vanderlan Cardoso: senador pelo PSD | Foto: Leoiran/Jornal Opção

Fala-se que Vanderlan Cardoso é “o” gestor. Talvez seja. Talvez não seja. Suas empresas são administradas por profissionais, porque, a rigor, o senador não tem tempo para geri-las. O que ele faz, há muitos anos, é política. Como há o “fetiche” de que Goiânia precisa de um gestor, o senador não o questiona. Mas ele, inteligente e atento, sabe que, hoje, falta, na Prefeitura de Goiânia, um político que saiba operar os gestores. Ressalve-se que, com um pouco mais de arrojo, Rogério Cruz cresceria como gestor, sobretudo se operasse, de maneira mais adequada, a política, a grande política. Ele é mais bem-intencionado do que se imagina, mas muda demais a equipe, o que sugere que tem dificuldade de escolher aliados eficientes e, digamos, confiáveis.

2

Adriana Accorsi

Adriana Accorsi, deputada federal pelo PT | Foto: Leoiran/Jornal Opção

Adriana Accorsi é, acima de tudo, política. Por ser ligada ao presidente Lula da Silva (PT), se eleita, terá condições, no limite do interesse público, de obter mais apoio para obras estruturais. No caso, se a deputada federal for eleita, será a política operando para melhorar a gestão.

A petista, delegada da Polícia Civil, aparece bem nas pesquisas de intenção de voto — colada em Vanderlan Cardoso. Por sinal, nenhum dos postulantes chega a 30%. O que quer dizer duas cousas. Primeiro, nenhum deslanchou; portanto, o cenário está aberto para os principais candidatos. Segundo, os eleitores, a nove meses e alguns dias das eleições, ainda não estão motivados (e talvez pensem num “gestor”, nas pesquisas qualitativas, porque não consideram Rogério Cruz como gestor) — o que é perfeitamente normal (as decisões da maioria dos eleitores se dão, quase sempre, em cima da hora).

As chances de Adriana Accorsi de figurar no segundo turno, como único nome consistente da esquerda, são altas. Frise-se que o PT já elegeu três prefeitos em Goiânia: Darci Accorsi (pai da deputada), Pedro Wilson e Paulo Garcia — todos professores (filósofo, sociólogo e médico). O que quer dizer que há espaço para um nome da esquerda na capital. A parlamentar é moderada e tem bom trânsito na sociedade. Não é um nome que assuste. Pelo contrário, é palatável para a população goianiense.

3

Rogério Cruz

Reforma administrativa Rogério Cruz Goiânia
Rogério Cruz, do Republicanos: prefeito de Goiânia | Foto: Jucimar de Sousa

Há um aspecto pouco notado pela mídia: a gestão de Rogério Cruz está melhorando. Aos poucos, está concluindo as obras iniciadas por Iris Rezende. O problema é que deixou sua imagem erodir por um longo tempo — quase três anos — e será difícil recuperá-la. Mas, se é difícil, não é impossível.

Político afável, que não bate na mesa, Rogério Cruz perdeu muito tempo nas negociações políticas com a Câmara Municipal, com os vereadores. E, por não negociar bem politicamente, acabou se tornando refém de aliados que, no Paço Municipal, não se comportaram como gestores — e deixando o desgaste para o prefeito, não para eles, que são figuras anódinas.

4

Jânio Darrot

Jânio Darrot: ex-prefeito de Trindade | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Jânio Darrot é um craque da gestão pública e, sim, da política. Foi eleito duas vezes prefeito de Trindade e elegeu o sucessor — provando capacidade de transferir votos. É um mestre da simpatia. Diplomático, se dá bem com todo mundo.

Com um exército eleitoral ao seu lado, Jânio Darrot será um candidato consistente. Mas precisa motivá-lo. Necessita convencer os aliados de que dias melhores virão. Então, precisa ser mais presente, agregando forças diretamente, sem esperar que seus patrocinadores entrem em campo e organizem os acordos. Na política, as pessoas querem articular diretamente com os candidatos, não com intermediários.

Há quem aposte que Vanderlan Cardoso estará no segundo turno, baseado no fato de que aparece em primeiro lugar nas pesquisas. Entretanto, tal frente pode ser, digamos assim, “inercial”. O primeiro colocado, a mais de nove meses das eleições, às vezes é apenas o mais conhecido. Num embate direto com Jânio Darrot — num duelo de gestores —, o senador pode se dar mal. Porque lhe falta o que é relevante em campanhas: um exército eleitoral arrojado e grande. Pois exército eleitoral é o que não faltará a Jânio Darrot, se for candidato a prefeito. Ele tem a simpatia tanto do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, quanto do vice-governador Daniel Vilela (MDB).

5

Bruno Peixoto

Bruno Peixoto, presidente da Assembleia Legislativa de Goiás | Foto: Sérgio Rocha

Um candidato a prefeito deve ser uma figura inspiradora. E os políticos inspiradores são dotados de imensa energia, de um gosto até excessivo pela vida, pelas articulações. Fica-se com a impressão de que dormem acordados. Porque não têm preguiça de articular, de conversar, de participar da vida pública. Por isso muitos deles parecem onipresentes.

O presidente da Assembleia Legislativa, Bruno Peixoto, é aquele tipo de político que pode ser chamado de uma “força da natureza”. Parece que nasceu para a política como Pelé nasceu para o futebol.

Bruno Peixoto gosta de política, aprecia dialogar com as pessoas. Por isso, na Assembleia Legislativa, vive cercado de uma multidão — são padres, pastores, políticos, empresários, populares. Ele é uma estrela, um superstar, por assim dizer.

Engana-se aquele que pensa que, por fazer política 24 horas por dia — Chiquinho Oliveira, Virmondes Cruvinel, José Nelto e Gugu Nader costumam dizer que seu dia tem 30 horas, de tão “esticado” que é —, Bruno Peixoto não é gestor.

Com habilidade e pertinácia, Bruno Peixoto montou uma equipe de gestores experimentados na Assembleia. Ele conta tanto com aqueles que indicou — muitos deles sugeridos por deputados — quanto com um quadro de funcionários públicos, técnicos, de alta qualidade. Por isso, a Alego funciona por música.

Na Assembleia, Bruno Peixoto iniciou uma experiência que pode dar certo na Prefeitura de Goiânia — a do político que sabe operar a gestão. Parece simples o que se vai dizer, mas, como poucos percebem, é preciso ressaltar: as pessoas que cercam o deputado estão sempre motivadas. Porque ele sabe motivá-las.

Bruno Peixoto é político, é gestor, é articulador (e agregador). Como tal, tende a montar não uma, mas várias frentes políticas — com várias chapas de candidatos a vereador. Quando alguns pré-candidatos “acordarem”, se acordarem, o pré-candidato do União Brasil estará consolidado como candidato unânime da base governista. Se brincar, vão sobrar poucos apoiadores para os demais candidatos.

Nos bairros de Goiânia, há duas presenças, neste momento: a de Rogério Cruz, com obras, e Bruno Peixoto, com seus aliados, informando o que planejam fazer por Goiânia. Ao visitar um bairro da região Noroeste, recentemente, o deputado federal José Nelto foi perguntado por uma mulher de mais de 50 anos: “O sr. conhece o Bruno Peixoto?” Quando o parlamentar disse que conhecia, a professora acrescentou: “Pode ser que eu esteja enganada, mas me parece que surgiu um novo líder em Goiânia, uma mistura de Iris Rezende e Maguito Vilela”. O líder do pP disse: “Voto nele”. A sra. corroborou: “Eu também. Ele é simpático, é bonito e sabe ouvir com as pessoas com atenção”. “Toda pessoa que conversa com Bruno sai com a impressão de que é importante para ele, de que foi notada”, afirma Virmondes Cruvinel.

Se Jânio Darrot sair do páreo, a tendência é que, operando um grande exército eleitoral, Bruno Peixoto vá para o segundo turno. Contra quem? Óbvio que não dá para saber. Mas a lógica sugere que o segundo turno pode ter, no espectro de centro-direita, Bruno Peixoto e, no campo da esquerda, Adriana Accorsi.

Bruno Peixoto tende, se crescer, a esvaziar não Adriana Accorsi, e sim Vanderlan Cardoso. Por isso, é grande a possibilidade de um segundo turno entre a petista e o postulante do União Brasil. Com a vantagem de que o nome da base governista deve colher o apoio dos eleitores e dos políticos de centro e da direita. Tais eleitores dificilmente acompanharão a candidata red.

6

Gustavo Gayer

Gustavo Gayer, deputado federal pelo PL | Foto: Câmara dos Deputados

Por fim, não se deve subestimar o deputado federal Gustavo Gayer, que, como filho irascível das redes sociais, é imprevisível. Tanto pode ir muito bem quanto não ser visto como um político adequado para administrar Goiânia, possivelmente pela dificuldade de agregar uma força política ampla. Uma Câmara de vereadores hostil trava qualquer gestão pública.

Uma coisa é ser deputado, quando se pode adotar um discurso agressivo, mas outra coisa é prefeito, quando se deve optar por um discurso conciliador. Porque, na gestão de uma prefeitura, aquele que fica sozinho acaba por perder o mandato ou por terminar muito mal o mandato.

Entretanto, Gustavo Gayer é popular e atrai, em larga medida, o eleitorado apontado como bolsonarista. Tanto pode surpreender positivamente quanto decepcionar.