Seguindo o desejo do mercado financeiro, o Banco Central (BC) decidiu interromper a série de baixas na taxa de juros Selic e manter o atual valor em 10,5% ao ano. Desde agosto do ano passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) da Instituição vinha baixando a taxa, que foi de 13,75% para o valor recentemente aprovado de 10,50% ao ano. A contragosto de Lula e do Partido dos Trabalhadores (PT), todos os nove integrantes do Copom votaram pela manutenção da atual taxa básica de juros. 

Segundo informações do próprio Banco Central do Brasil, a taxa selic é o principal instrumento de política monetária à disposição da Instituição para controle da inflação. “É a taxa básica de juros da economia, que influencia outras taxas de juros do país, como taxas de empréstimos, financiamentos e aplicações financeiras”, afirma o BC. 

Na última terça-feira, 18, em entrevista à CBN, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez duras críticas ao Banco Central e ao presidente da instituição, Roberto Campos Neto. O chefe do Executivo Federal disse que o presidente do Banco não demonstra autonomia, externaliza seu “lado político” e que trabalha para “prejudicar o país”.  “ Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil nesse instante: é o comportamento do Banco Central”, disse Lula.  

A decisão do BC vem num contexto de aumento do valor do dólar, de ausência de políticas para contenção de gastos, além da alta na inflação corrente (que já está distante da meta de 3% para este ano), que levou o indicador de 3,69% para 3,93% no último período que se concluiu em maio. Dessa forma, o aumento dos riscos fiscais traz impactos inflacionários para a economia. 

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Tanto o Boletim Focus quanto o próprio Copom possuem projeções para 2025 e 2026 já acima da meta estabelecida para a inflação. No Focus, as previsões para o ano que vem e o ano seguinte, colocam a inflação, respectivamente, para 3,8% e 3,6%. As últimas previsões colocavam esses valores em 3,64% e 3,50%. Já o Copom, contrariando as previsões do próprio BC (que queria colocar a inflação dentro da meta de 3% em 2025), coloca o medidor em 3,3% para o ano que vem. O cenário é inflado com o diagnóstico de manutenção das altas taxas de juros das instituições estadunidenses. 

Nesse cenário, as expectativas sobre os quatro membros do Copom que foram indicações do PT aumentam, principalmente sobre Gabriel Galípolo, cotado para assumir a vaga de Campos Neto. 

Clima tenso 

Enquanto isso, não apenas o presidente da república, mas a base governista também demonstrou insatisfação com relação às decisões do BC. “Não há justificativa técnica, econômica e muito menos moral para manter a taxa básica de juros em 10,5%, quando nem as mais exageradas especulações colocam em risco a banda da meta de inflação. E não será fazendo o jogo do mercado e dos especuladores que a direção do BC vai conquistar credibilidade, nem hoje nem nunca”, disse Gleisi Hoffmann, presidente do PT, em seu perfil no X (antigo Twitter). 

O líder do governo na Câmara, o deputado federal Zé Guimarães (PT-CE) destacou o fato de que R$ 102 bilhões de reais sairão dos cofres públicos no intuito de atender as demandas da taxa de juros. “ “Muito se fala em corte de gastos, mas não se fala em corte de juros”a, disse o parlamentar logo antes de complementar: “é uma sabotagem a todos os esforços do governo para o crescimento do Brasil”. 

Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado, disse que a manutenção da taxa Selic anual a 10,5% indica uma política “contracionista” e que um valor considerado “neutro” estaria na casa dos 8,5%. Outros parlamentares petistas lamentaram ainda a manutenção do indicador de forma unânime.      

Vale destacar que existe ação popular protocolada pelo PT, na 6ª Vara Federal Cível da Justiça do Distrito Federal, que visa proibir Campos Neto de fazer “pronunciamentos de natureza político-partidárias”. A ação foi motivada pela recente aproximação do presidente do BC com o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos).  Enquanto isso, lideranças de centro aconselham o gestor financeiro a praticar a autonomia operacional conquistada pelo BC em 2021.