Um curta-metragem produzido por um estúdio goiano mistura arte e ciência. Através de imagens de microscopia eletrônica, geradas na Universidade Federal de Goiás (UFG), “O Micronauta” é resultado de quase dois anos de trabalho.

O filme, que conta a história de um explorador espacial que acabou de pousar em um universo microscópico, foi desenvolvido pelo estúdio Gabinete de Curiosidades Macaco Hábil. A produção foi selecionada pelo projeto Petrobras Cultural para Crianças.

Produção será lançada no gratuitamente no Youtube | Foto: Divulgação

Apesar da premissa relativamente simples, a proposta ganha contornos inovadores devido à ambientação, composta por cenários estabelecidos a partir de imagens de microscopia eletrônica de varredura captadas no Laboratório Multiusuário de Microscopia de Alta Resolução (LabMic) da Universidade Federal de Goiás (UFG), vinculado à Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI) da UFG. 

Inspiração

O conceito do filme surgiu após Emerson Rodrigues, diretor do curta, ficar impactado com imagens de microscopia eletrônica. “Comecei a pensar em como seria explorar um mundo assim e fui pesquisar na internet. Acabei me deparando com o LabMic”, afirma. Ele conta que o primeiro contato foi facilitado pelo fato de o laboratório estar aberto a visitantes. 

A iniciativa acabou despertando a curiosidade de Tatiane Oliveira, técnica responsável pelo LabMic, que diz ter ficado surpresa e empolgada ao receber a proposta para colaborar com a produção. “Vimos nessa oportunidade a chance de abrir as portas do LabMic para novos públicos e levar mais pessoas a conhecerem o importante trabalho desenvolvido pela UFG”, complementa. Assim teve início a parceria.

Roteiro

Para fazer a ideia funcionar, Emerson elaborou o roteiro pensando previamente em substâncias cuja captação pela microscopia eletrônica gerasse não só impacto visual como também servisse narrativamente ao desenrolar da história. Com as orientações em mãos, Tatiane e a equipe do LabMic trabalhavam nos registros e devolviam o material ao diretor, que ficava encarregado, então, de colorizar as cenas e trabalhar na animação.

Produção contou com a participação de integrantes do LabMic da UFG e teve o apoio do Núcleo Audiovisual de Produções de Foleys e Sons da Universidade | Foto: Divulgação

Devido à complexidade da produção, que envolveu técnicas de animação 2D como a quadro a quadro, foi necessária a contribuição direta de um estafe de aproximadamente 30 pessoas, sem incluir os integrantes do LabMic. São pelo menos 24 desenhos para cada segundo de animação realizada. Nesse sentido, o Núcleo Audiovisual de Produção de Foleys e Sons (Naufo) da Universidade Estadual de Goiás (UEG) também teve papel importante no desenvolvimento de efeitos sonoros.

Divulgação científica

Embora qualquer pessoa possa assistir ao filme, o estilo lúdico e cartunesco dos personagens deixa claro que o público-alvo são as crianças em idade pré-escolar. O objetivo é introduzi-las ao mundo da ciência, com ênfase em disciplinas como física, química e biologia, valendo-se de uma história bem contada, que une microscopia eletrônica, aventura e muita fantasia, para prender a atenção dos pequenos.

Por isso, além do curta, Daniela Fiuza, produtora executiva, explica que uma cartilha de apoio pedagógico também foi confeccionada para ser distribuída, a partir de agosto, a professores que desejarem exibir o filme a seus alunos. O material extra detalha aspectos relatados na produção de forma simples e educativa, expandindo a experiência. “Com isso, pretendemos construir memórias afetivas e despertar o ímpeto de explorar as coisas e objetos ao redor”, diz.

Já Tatiane tem expectativas de que o material ajude na formação de futuros cientistas. “Mais à frente, quero encontrar pessoas que tenham assistido à produção na infância e digam que, graças a ela, foram estimuladas a tomarem a decisão de se tornar cientistas e pesquisadores. Se isso acontecer, estarei realizada”, complementa.

Distribuição gratuíta

O corte final do curta será conhecido no YouTube, no canal da própria animação, de forma totalmente gratuita. A disponibilização pública e gratuita do material pelos próximos seis meses faz parte do compromisso assumido com a Petrobras, que patrocinou a iniciativa por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Em seguida, a tendência é que, para percorrer um circuito de festivais e premiações Brasil afora, o material seja ocultado da plataforma por algumas semanas, retornando posteriormente.

Mas, se depender dos realizadores, o Micronauta continuará explorando outros universos microscópicos, sendo o filme apenas um ponto de partida. O próximo passo, afirmam, é desenvolver uma série animada. “Tivemos acesso a tantas imagens legais e que rendem boas histórias, simplesmente não dava pra parar por aqui”, arremata Daniela.