Nesta quarta-feira, 28, a comunidade surda passa a ter acesso ao Novo Testamento da Bíblia em Língua Brasileira de Sinais – Libras. A nova versão se destaca por ser a primeira feita pelos próprios surdos. O lançamento será em Anápolis, às 20h, no Colégio Couto Magalhães.

O projeto Tradução com Protagonismo Surdo (TPS) começou com voluntários unidos em torno da acessibilidade. Desde que iniciado em 2017, mais de 200 pessoas surdas estiveram envolvidas com o projeto. Hoje, são 28 funcionários fixos, entre linguistas, pesquisadores, pastores, teólogos e intérpretes; sendo que metade deles é ouvinte.

A tradução do Novo Testamento levou cinco anos, e foi feita com uma metodologia robusta de validação. Como resultado, 337 novos sinais foram desenvolvidos pelo projeto. Além disso, eles relataram que mais de 10 países já adotaram o aplicativo que disponibiliza essa versão da bíblia.

“Foi um trabalho exaustivo de pesquisa, mas estamos muito orgulhosos de mostrar essa forma bilíngue de passar a palavra de Deus. Se um dos livros mais lidos do planeta não está disponível, temos muito o que fazer ainda”, ressalta a surda tradutora, Stefany Marques.

Surda e graduada no curso de Línguas Português-Libras, Stefany foi uma das participantes do projeto. Em depoimento ao Jornal Opção, alguns dos envolvidos contam que os maiores desafios estavam ligados principalmente à dois fatores: a grande quantidade de textos originais em grego e hebraico, e a inexistência de certas palavras da língua portuguesa na língua brasileira de sinais.

“Mesopotâmia, por exemplo, não tinha um sinal. Como é uma palavra recorrente, pesquisamos em diferentes estados e países para descobrir se já tinha uma referência. E optamos por fazer uma um sinal relacionado com a formação daquele lugar, que fica entre dois rios. São dois dedos que percorrem juntos do punho e se afastam na mão, conforme se aproximam dos dedos”, contou o surdo tradutor, Gabriel Corbacho, da equipe de pesquisadores que trabalhou na criação dos novos sinais.

O evento para celebrar essa iniciativa serve também para apresentar à sociedade esses resultados e a versão finalizada, que envolveu dezenas de pessoas surdas e o apoio de diversos especialistas. Os participantes também destacaram que diversos artigos e trabalhos de conclusão de curso foram desenvolvidos, tendo o projeto como objeto principal.

“Eu nasci surdo, minha família aprendeu a Língua Brasileira de Sinais para se comunicar comigo. Depois eu estudei em uma escola bilíngue, com Libras, e ter obras disponíveis é importante. Quando a gente espalha isso, é uma forma de divulgar a própria língua também”, conta Abner Silva, surdo tradutor.

A Universidade Evangélica de Goiás – UniEVANGÉLICA e a Missão Kophós, são as principais parceiras do projeto de Tradução com Protagonismo Surdo (TPS).

Surdos brasileiros

O termo “surdo” pode ser utilizado em referência a pessoas com variados graus de surdez. No Brasil, existem mais de 9 milhões de pessoas surdas. A condição pode ser leve, moderada, severa ou profunda. Surdos oralizados se comunicam oralmente, tal qual os ouvintes, mesmo com algum grau de surdez. E, os sinalizados são aqueles que têm algum grau de surdez, e se comunicam por meio da Língua Brasileira de Sinais – Libras.

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