Representantes dos povos indígenas em Goiás têm travado uma batalha judicial há três anos para levar energia elétrica à aldeia da etnia Ava-Canoeiro, localizada em Minaçu. A busca pelo recurso, porém, se intensificou após a descoberta de um câncer na cabeça por parte do cacique Trumak, de 37 anos. Ele é o último homem descendente do grupo em Goiás. Assim como a maioria dos povos indígenas do Brasil, os Avá-Canoeiro têm uma história marcada por massacres e uma quase extinção étnica.

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Além do cacique, há apenas outros três membros da etnia vivos: sua avô, mãe e irmã. O tumor de Trumak foi identificado em dezembro de 2023, fazendo com que ele fosse internado em um hospital da região. Dias depois, em janeiro deste ano, ele precisou ser transferido para o Hospital Albert Einstein, em Goiânia, onde se encontra atualmente. A unidade de saúde possui uma parceria com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o que possibilitou o encaminhamento do cacique.

“A gente vive nessa expectativa. O cacique precisa da energia para seguir com o tratamento após a alta porque tem medicamentos que ele só consegue tomar com equipamentos elétricos. Ele está consciente, mas não consegue se comunicar e pode receber alta em breve. É uma questão de vida, dos povos avas-canoeiros continuarem existindo”, explicou o gerente de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social (Seds), Sinvaldo Wahuka Iny. 

A aldeia fica a dois quilômetros da rede de energia, de acordo com Sinvaldo. No inicídio, quando foi solicitado o fornecimento do recurso na região indígena durante o governo Bolsonaro (PL), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) não aceitou o pedido, sob justificativa de que iria prejudicar a reserva ambiental.

Entretanto, no início do governo Lula (PT), o órgão ambiental e o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima autorizaram que a rede se estendesse até a aldeia, de acordo com o gerente. O trabalho, no entanto, nunca foi realizado pela Equatorial.

“Já levamos a solicitação ao Ministério Público e agora falta só a Equatorial se manifestar. Estamos sofrendo uma pressão dos povos indígenas, que querem levar uma manifestação na porta da Equatorial, mas queremos evitar isso”, afirmou. 

Em nota, a Equatorial informou que aguarda o Ibama concluir o processo de licenciamento ambiental para começar os trabalhos de implantação da rede elétrica na aldeia. A nota diz ainda que a estatal agira com “máxima urgência” depois do aval.

Veja a nota completa:

“A Equatorial Goiás informa que o pedido de ligação de energia feito em nome do Sr. NIWATHIMA AVA CANOEIRO está em andamento dentro da companhia. 

A concessionária salienta que após a elaboração dos levantamentos técnicos em campo, ficou evidenciada a necessidade de emissão licença ambiental para construção da rede de energia elétrica que garantirá o fornecimento à unidade consumidora do cliente.

A distribuidora esclarece que, durante o processo de licenciamento ambiental, foram apontadas pelo órgão licenciador, o IBAMA, necessidades de adequações ao estudo de impacto ambiental. Em atendimento à solicitação do órgão, a Companhia já concluiu as adequações e enviou para nova submissão de análise do IBAMA.

Assim que o órgão ambiental, após a reanálise, concluir o processo de licenciamento ambiental, a Equatorial seguirá com máxima urgência e envidará todos os esforços para conclusão da ligação do cliente.

A concessionária está empenhada em resolver com a maior agilidade possível este assunto e permanece a disposição para orientar o cliente durante todo esse processo”.