Políticas públicas para educação estão fracassadas, diz especialista sobre violência na escola
10 setembro 2022 às 16h59
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Recentemente dois casos registrados em Goiás chamaram a atenção para a violência contra crianças em escolas. Em Paraúna, no Sul goiano, na segunda-feira, 5, um ajudante de professor foi filmado agredindo fisicamente um menino de apenas 2 anos em um centro municipal de educação infantil (Cmei). Na quinta-feira, 8, em Goiânia, uma mãe denunciou que a filha de 4 anos foi agredida pelos próprios colegas, mas que a instituição tentou esconder o caso. No entanto, o que explica estes episódios de violência em ambientes onde as crianças deveriam ser acolhidas?
Para o especialista Rômulo Fabriciano, que é doutor em Educação e profissional de uma unidade de saúde mental em Goiânia que trata de crianças e adolescentes, a pandemia de Covid-19 pode ter agravado o convívio social, uma vez que as escolas ficaram fechadas por quase dois anos e muitos alunos tiveram de ficar sob responsabilidade de terceiros. “Nós temos de pensar em todo esse processo de retorno às aulas presenciais. As dificuldades que muitos pais tiveram para poderem estar presentes em casa com as crianças, que nem todo mundo viveu a realidade do trabalho remoto e com isso essas crianças ficaram com avós, ficaram aos cuidados de outras pessoas. Tudo isso interfere na relação fundamental, que existe entre pais e filhos, de autoridade e afeto”, afirma.
Nesse contexto, Rômulo Fabriciano salienta que a relação entre muitos pais e filhos foi muito afetada, o que causou fragilidade emocional em muitas crianças e adolescentes. Para ele, é preciso repensar em um novo modelo educacional, que considere, entre vários aspectos, a relação quantitativa e qualitativa entre professor e aluno. Além disso, é preciso, segundo ele, modificar a própria rotina escolar. “Nós temos a própria organização das rotinas dos processos de trabalho pedagógico na escola, que favorecem situações dessa natureza e tem um contexto prévio, anterior, que é desse retorno, dessa readaptação e das próprias dificuldades de aprendizagem das crianças”, pontua.
Com experiência na área de saúde mental, Rômulo levanta um assunto muito grave, provocado pela ansiedade e outras formas de adoecimento mental com o retorno ao convívio em grupo, sendo que isso tem resultado em suicídios, além de muitas tentativas de suicídio e atos violentos das crianças e adolescentes contra pais, professores, demais profissionais e dos colegas na escola. “É uma situação muito grave e isso precisa ser repensado por vários fatores”, acrescenta, reforçando a necessidade de estabelecer um novo paradigma para a escola.
Uma das questões abordadas é o número de alunos por que o professor é responsável por turma. “É algo inimaginável e inviável para o trabalho pedagógico. Essa quantidade precisa ser reduzida para garantir, de fato, o acompanhamento mais profundo, mais sistemático, de cada aluno”, sugere.