Cães e seus tutores compartilham traços de personalidade, diz estudo

10 junho 2025 às 12h09

COMPARTILHAR
É comum ouvir que os cães se parecem com seus donos, seja na personalidade sociável, no temperamento calmo ou até em traços teimosos. No entanto, mais do que uma curiosidade popular ou um comentário espirituoso entre tutores, a ciência começa a mostrar que essa semelhança pode ter fundamentos reais. Uma revisão recente de 15 estudos científicos, divulgada pela Galileu, revela que, tanto fisicamente quanto emocionalmente, humanos e cães compartilham mais do que o mesmo teto: há traços de personalidade e características físicas que, surpreendentemente, podem coincidir.
De acordo com esses estudos, traços como extroversão, ansiedade e sociabilidade tendem a ser paralelos entre cães e seus tutores. Além disso, padrões de comportamento, estilo de vida e até aspectos corporais – como o índice de massa corporal (IMC) – também podem se alinhar, reforçando a ideia de que essa conexão é mais profunda do que aparenta.
Além das características comportamentais, a aparência física também tem despertado o interesse de pesquisadores. Um dos achados mais curiosos é o vínculo entre a aparência das mulheres e suas escolhas de raças caninas. Por exemplo, mulheres de cabelos longos tendem a preferir cães com orelhas compridas, enquanto aquelas de cabelos curtos optam por raças com orelhas mais curtas. Isso sugere uma tendência subconsciente de buscar semelhança visual ao escolher um animal de estimação, sobretudo quando se trata de raças puras.
Em outro experimento, um grupo de participantes que nunca havia visto os cães e seus respectivos tutores foi convidado a associar fotos de ambos com base em semelhanças percebidas. Os resultados surpreenderam: a maioria acertou a correspondência dos pares, sugerindo que a semelhança entre humanos e cães vai além da percepção do próprio tutor.
Mas, afinal, por que humanos e cães se parecem tanto? A explicação pode estar em nossa evolução. Em ambientes ancestrais, formar grupos com indivíduos semelhantes favorecia a cooperação e aumentava as chances de sobrevivência. Hoje, esses padrões continuam a influenciar nossas relações, não só com outros seres humanos, mas também com nossos companheiros de quatro patas.
A escolha por cães de raça pura também pode estar ligada à busca por previsibilidade. Como esses cães apresentam traços de personalidade mais padronizados, as pessoas tendem a selecionar raças que correspondem ao seu próprio perfil comportamental. Assim, semelhanças observadas entre tutor e animal podem ser reforçadas pela previsibilidade do temperamento da raça escolhida.
Além da seleção inicial, o relacionamento humano-animal é moldado por trocas emocionais e por mecanismos de aprendizado mútuo. Cães, por exemplo, podem aprender comportamentos por observação e imitação, enquanto os tutores reforçam atitudes que se alinham a seus próprios hábitos ou rotinas.
Essas trocas emocionais também afetam os estados internos de ambos. A convivência contínua promove uma regulação mútua que influencia o bem-estar emocional do tutor e do cão. Ao longo do tempo, isso pode resultar em comportamentos e respostas emocionais cada vez mais semelhantes, criando um ciclo de afinidade e sintonia.
Além disso, pesquisadores observaram que o IMC dos cães frequentemente acompanha o de seus donos. Essa correlação provavelmente se deve a um estilo de vida compartilhado – seja por rotinas sedentárias ou padrões alimentares semelhantes.
Embora essas semelhanças possam fortalecer o vínculo, elas também carregam outras implicações. A identificação de traços em comum pode gerar maior tolerância a comportamentos considerados desafiadores. Ao reconhecer esses comportamentos nos cães como um reflexo de si mesmos, tutores podem demonstrar mais paciência e compreensão.
No entanto, há também riscos. Ao projetar suas próprias características nos cães, os humanos podem deixar de enxergá-los como seres com individualidades próprias. Em vez de perceber o animal como ele é, o tutor pode superestimar traços humanos, o que gera expectativas irreais e possíveis frustrações.
Ainda assim, a compatibilidade continua sendo um fator, mesmo quando não há semelhança evidente. Um exemplo disso seria um cão cheio de energia morando com uma pessoa mais introspectiva. Nesse caso, a diferença pode ser benéfica: a vivacidade do cão pode estimular hábitos mais saudáveis, como caminhadas diárias, e favorecer a socialização do tutor.
Leia também:
PF desmantela grupo hacker que atacou STJ, Petrobras, Gov.br e mais; confira lista
Justiça homologa acordo e condena envolvidos em casos de irregularidades na Comurg