“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude”

Rui Barbosa: jurista e político baiano | Foto: Reprodução

O jurista e político baiano Rui Barbosa (1849-1923), sem dúvida, o brasileiro mais culto do seu tempo, foi senador. Ele fez um discurso contra a corrupção, no Senado, que poderia ser pronunciado hoje, pois estaria atualíssimo. Este é o principal trecho do discurso:

“A falta de honestidade, senhores senadores, é o grande mal da nossa terra, o mal dos males, a origem de todas as nossas infelicidades, a fonte de todo nosso descrédito, é a miséria suprema desta pobre nação.

“A sua grande vergonha, diante do estrangeiro, é aquilo que nos afasta os homens, os auxílios, os capitais.

A corrupção, senhores, desanima o trabalho, a honestidade, o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vêm nascendo a semente da podridão, habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a desonestidade, promove a venalidade, promove a relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas.

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”

Alfredo Nasser e o erro de revisão que não aconteceu

Alfredo Nasser foi ministro da Justiça | Foto: Reprodução

O falecido Alfredo Nasser foi o político goiano mais culto de sua época. Pronunciava ótimos discursos e escrevia perfeitos artigos para jornais.

Certa vez, ele escreveu um artigo no qual contava que tinha ido conversar com o correligionário Jose Fleury. “Quando cheguei à casa dele, recebeu-me a plácida Helena”, escreveu Nasser. Referia-se a Helena, esposa de Fleury, que era muito bonita e elegante. À noite, já vestido de pijama para dormir, Nasser encafifou, supondo que poderia ocorrer um erro de revisão e, em invés de plácida Helena, sairia flácida Helena.

Então tirou o pijama e foi ao jornal para conferir. Mas não houve o erro. Quem me contou esta historieta foi a jornalista Consuelo Nasser, sobrinha de Alfredo. E, muitos anos depois de que isso aconteceu, tive a oportunidade de contar o faro a Helena Fleury, que riu muito da história.

Um poema Afonso Félix de Sousa

Afonso Félix de Sousa: poeta e tradutor | Foto: Reprodução

Afonso Félix de Sousa (1925-2002) foi poeta, brilhante, e um grande tradutor. Ele nasceu em Jaraguá, em 1925, e morreu no Rio de Janeiro, em 2002.

Aves sem pouso

“Onde há carne há solidão” — Ledo Ivo

Percorro o território de teu corpo

e um ninho, um pouso busca a boca cega

salivando saliências e reentrâncias

que dás e negas, tão cheia de graça,

e és tão cheia de ninhos, só que pairas

em paramos que esboças pelo teto

quando descerro as portas que me trancam

o coração, e o coração já voa

também por outros paramos, por onde

como soltos no espaço nós soltamos

asas de aves que em vão buscam um pouso.

O cronista Carlinhos de Oliveira

Carlinhos de Oliveira: um dos maiores cronistas do Brasil | Foto: Reprodução

O gênero crônica na imprensa brasileira perdeu muito de qualidade nos últimos anos. Foi bem melhor no passado. O melhor cronista, sem dúvida, foi Rubem Braga. Em segundo lugar escolho Carlinhos de Oliveira (José Carlos de Oliveira), que fazia suas crônicas no apreciado “Caderno B” do “Jornal do Brasil”, que, na época, era o melhor jornal brasileiro.

Eu o conheci quando fazia um curso de especialização no Rio. Carlinhos de Oliveira era muito amigo do importante jornalista Narceu de Almeida, goiano de Anápolis. Era capixaba, bebia muito e morreu com apenas 52 anos, em 1986. Ele se dizia “o mais ecumênico dos ateus”.

Estados Unidos desprezam brasileiros?

Muita gente no Brasil acha que norte-americanos desprezam brasileiros. Não é bem assim.

A cantora brasileira Carmen Miranda se tornou ídolo nos Estados Unidos.

O presidente Franklin Delano Roosevelt (assim como seu parente Theodore Roosevelt, que andou pelo Brasil, ao lado do marechal Cândido Rondon) apreciava muito o Brasil. Em Nova York há uma estátua de José Bonifácio, o chamado patriarca da Independência brasileira, em um local muito nobre da cidade. Fica na praça onde se situa o verdíssimo Bryant Park.

O belga Douliez e a criação do Conservatório Goiano de Música

Jean Douliez | Foto: Reprodução

A criação do Conservatório Goiano de Música, na década de 1950, foi de grande importância para projetar Goiás na cultura musical brasileira.

Tiveram papel relevante Belkiss Spenciére, Dorinha de Aquino, Tânia Cruz e Maria Lucy da Veiga Teixeira, a grande pianista Fifia, como é chamada, que havia estudado música no Rio, sendo aluna do notável maestro Heitor Villa-Lôbos.

Um músico de origem belga teve também papel muito importante.  Foi Jean François Douliez.

As duas mil almas e a falta de cemitério

Governador de Goiás entre 1966 e 1971, Otávio Lage teve certa vez uma reunião com prefeitos do então extremo Norte do Estado, que hoje faz parte do Tocantins.

Um deles fazia sempre questão de dizer que falava em nome dos moradores de sua terra, nunca falando em habitantes, mas em “duas mil almas” de sua cidade. No final, disse Otavio Lage que iria também conseguir para ele uma verba para construir novo cemitério.

Violência inglesa

Os ingleses são hoje considerados cordiais e pacíficos, mas cultivaram muita violência no passado, como se demonstrou na Índia. Foi a Inglaterra que induziu Brasil, Argentina e Uruguai a promoverem a covarde Guerra do Paraguai.

Em Londres muitas denominações lembram conflitos. Como a ponte de Waterloo, que lembra uma vitória inglesa contra a França de Napoleão. A Tralfagar Square, bem no centro cidade, lembrando vitória inglesa contra França e Espanha.

Há um local em Londres que se chama Knights Bridge, ou seja, Ponte dos  Cavaleiros. Lembra dois cavaleiros que morreram lutando em uma antiga ponte. Em Nothighan Hill, uma rua muito conhecida, na qual funciona uma feira, tem nome castelhano, Porto Belo Way. Era a designação de uma ilha no Caribe, na época parte da Colômbia, tomada  pelos ingleses.

Cassinos no Brasil: liberação pode ser um bom negócio

Existe forte possibilidade de o Congresso aprovar a liberação de cassinos no Brasil.

Tirando algumas inconveniências, cassinos não seriam um mal para o Brasil, um dos poucos países onde hoje são ilegais. Cassinos geram renda e empregos.

Alguns temem que pobres podem perder dinheiro, o que não é verdade, pois pobres não frequentam cassinos. Eles perdem dinheiro, isto sim, nesses jogos bancados pela Caixa Econômica Federal.

Claro que os concessionários da exploração de cassinos precisam ser rigorosamente selecionados, de modo tal que, por exemplo, traficantes de drogas e outros criminosos não banquem o jogo. Cassinos não podem estar em todos os lugares, sendo recomendado, por exemplo, que se localizem em resorts. Em Goiás, o eixo Caldas Novas-Rio Quente seria o ponto ideal.

Localidades nas quais existem cassinos geralmente não sofrem problemas de desemprego e insegurança. Bons exemplos nesse sentido são Mar del Prata, na Argentina, e Viña del Mar, no Chile.

Em Atlantic City, no Estado de Nova Jersey, nos Estados Unidos, tempos atrás existia movimento turístico por causa de suas praias. Mas a era do jato na aviação aproximou dos norte-americanos praias muito mais agradáveis, como as do Caribe. Atlantic City entrou em decadência, com desemprego e insegurança. A legalização do jogo restabeleceu o bom nível de renda e a segurança.