País de maricas
07 junho 2021 às 09h59
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Me faltam rimas, falta o som de belas palavras/Fica o horror do som dos gritos de quem perdeu alguém que tanto amava
Daniella França
Me faltam rimas, falta o som de belas palavras
Fica o horror do som dos gritos de quem perdeu alguém que tanto amava
Ficou o desespero de não saber se dormia e depois acordava
E o choro calado de quem sofria enquanto cuidava
O povo perdido em meio as notícias
Não sabia quem mentia, em quem acreditava
E a todo tempo tantas grandes e falsas profecias
Falsos profetas, monstruosos, disseminavam
Ouvi dizer que tudo isso passaria logo
E foi exatamente o que eu disse pro meu filho
E dói no peito ver, agora, depois de um ano
Os olhinhos dele, cansados, perderem o brilho
Crianças perdendo o brilho, a esperança
Perdendo amigos, pais e mães, avô e avó,
Perdendo a casa, a escola, a perseverança
Perdendo a gana de viver num país melhor
Ouvi dizer que essa tal doença
Era só uma gripezinha, uma grande frescura
Mas quem perdeu aqueles que tanto amava na vida
Sabe que para a morte nós não temos nenhuma cura
Enquanto isso, no hospital, um batalhão de anjos
Tenta salvar o máximo de vidas que é possível
Mas também estão adoecendo e deprimindo
Tentando ser nossos heróis fortes e imbatíveis
Nas nossas ruas aparece cada vez mais gente
Que não tem o que comer e nem onde morar
Pois sabemos que o plano desse presidente
É com todos nós, maricas, logo acabar
Gente morrendo de fome, morrendo de vírus
Da falta de amor e falta de esperança
Mas nada tem matado mais nesse país
Do que a falta de governo e de liderança
Vacinas indo pros países do mundo inteiro
Imunizando as nações e devolvendo a vida
Mas parece que o nosso povo, o brasileiro
Não tem tanto direito a dose, tanto pedida
E ao mesmo tempo que a ciência salva esses povos
Alguns falam que a terra é mesmo toda plana
Criam a ideia suja que a vacina mata
Espalhando descarada ideia leviana
Parem agora com as festinhas, imediatamente
Vocês estão contribuindo com morte da gente
Não corte a fila, deixe o idoso vacinar
Não seja hipócrita de a ciência ignorar
Fique em casa, amigo, pelo amor de deus
Se mantenha isolado pra proteger os seus
Saia apenas quando extremamente necessário
Nós estendemos que é preciso ganhar um salário
Por falar nisso, presidente, idiota banal
Pare de falar asneira, seja racional
Diga pro seu governo tosco e disfuncional
Devolver ao pobre o auxílio emergencial
Depois me faça um favor, seu abestalhado
Pare de seguir fazendo tudo, tudo errado!
Você não passa de um mongo, um arruaceiro
Não merece nem o título de brasileiro!
Daniella França é cientista, professora, mãe de dois filhos, esposa, filha, irmã e em isolamento social. É colaboradora do Jornal Opção.
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