Quem me conhece sabe que sou useiro e vezeiro da seguinte frase de Karl Marx: “Tudo que é sólido desmancha no ar”. E é pelo prisma das palavras do filosofo alemão que começo aqui a fazer semanalmente uma análise dos fatos políticos locais e nacionais, ciente que nesse mundo tudo muda rapidamente e uma tese levantada virá pó em um estalar de dedos. Mas vamos lá a essa audaciosa missão, que começa com o PSD de Kassab, Vilmar, Meirelles e cia.

O partido se movimenta para chegar em 2022 como um player importante na corrida presidencial. Chances de vitória? Ainda é cedo para colocar os pessedistas no topo desse pódio diante de um cenário polarizado entre Lula e Bolsonaro. Porém, o partido vai construindo seus palanques regionais. Goiás é um deles junto com estados eleitoralmente importantes.

Aqui, o partido resgatou para suas fileiras o ex-ministro da Fazenda de Temer (MDB) e ex-presidente do Banco Central de Lula (PT), Henrique Meirelles. O atual secretário da Fazenda de Dória (PSDB) é citado para uma vaga ao Senado, mas entre os pessedistas – aqui, em Brasília e São Paulo – não se descarta uma candidatura ao governo do estado. O próprio presidente da legenda, Vilmar Rocha, diz que “sempre defende, inclusive nos estados, candidatura própria”.

Os pessedistas também se fortalecem em estados com peso nas urnas. Nos últimos dias, Kassab conquistou para a legenda o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e deve atrair outras lideranças do DEM no estado, como os deputados federais Rodrigo Maia, Pedro Paulo e o goiano Carlo Caiado (presidente do legislativo carioca).

Bem avaliado e votado na última eleição em Belo Horizonte, o prefeito reeleito Alexandre Kalil é nome que o PSD deve apostar para o governo mineiro. Lá, o partido ainda conta com o ex-governador e senador, Antônio Anastasia. Em São Paulo, a legenda tenta filiar Geraldo Alckmin, cotado para a disputa ao governo. As chances de ser candidato pelo PSDB diminuem com a filiação de Rodrigo Garcia, vice-governador.

E a movimentação em São Paulo, com a possibilidade de João Doria deixar o governo para a corrida presidencial, abre caminho para o PSD tentar conquistar outra liderança tucana: o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. O gaúcho disse no final do ano passado que não disputará a reeleição e já sinalizou para uma candidatura presidencial. Porém, no Senado, pessedistas falam em Rodrigo Pacheco, presidente da Casa, como o nome mais cotado para a corrida ao Planalto, caso ingresse na legenda.

Com esse tabuleiro, o PSD se prepara para 2022 com a possibilidade de alcançar um resultado positivo na disputa presidencial, que o garanta uma bancada forte no Congresso e com peso para sentar à mesa das negociações em um hipotético segundo turno e na montagem do próximo governo.

E aí está um dos pontos para entender por qual motivo, nos últimos dias, Kassab tem sinalizado positivamente para o ex-presidente Lula. Dentro do partido, a avaliação é que o presidente da legenda está descrente com a reeleição de Bolsonaro, que sofre para vencer a crise provocada pela Covid-19 e já observa no horizonte a possibilidade de uma crise energética. Se com a luz da ignorada ciência o governo bateu cabeça durante quase toda a pandemia, imagina no escuro.

Kassab tem provocado um frio na espinha de lideranças do partido, em Goiás também, e gerado receio que isso se reflita no Congresso. O desembarque do ministro Fábio Faria (Comunicações), que caminha para o Progressistas, pode abrir a porteira. Mas o presidente da legenda acerta em construir uma candidatura própria a presidente, o que pode evitar uma debandada. O desafio será fazer alguns correligionários entender tal movimento. Que venha 2022.