A promessa de ressureição do Meio Ambiente
29 dezembro 2022 às 15h25
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O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), confirmou que terá novamente à frente do Ministério do Meio Ambiente a ex-senadora e deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP). Marina foi ministra do Meio Ambiente de Lula entre 2003 e 2008. O retorno à pasta ocorrerá agora, 15 anos após deixar o cargo concorrer três vezes à presidência e fundar o partido Rede. Lula busca, de alguma forma, repetir o sucesso de sua gestão. Foi nela que se conseguiu reduzir em 83% a taxa de desmatamento na Amazônia entre 2004 e 2012. Ainda que a indicação de Marina fosse tida como certa em meados de dezembro, seu nome não estava nas duas primeiras levas de ministros anunciadas pelo presidente eleito.
Marina volta exatamente no momento em que os cientistas avisam que a Amazônia está prestes a chegar ao “ponto de não retorno”. Conceitualmente, seria quando entrasse em modo de autodestruição, deixando de funcionar como uma floresta umbrófila densa – ou seja, extremamente úmida e com farta cobertura vegetal. No jargão do meio ambiental, seria quando o bioma perder seus serviços sistêmicos. Lula tem repetido em discursos, inclusive no exterior, que dará destaque à agenda de preservação ambiental e de combate às mudanças do clima e o nome de Marina é fiador desse compromisso.
A floresta amazônica esteve no centro das discussões da COP-26 entre governantes, empresários, investidores e líderes de organizações não-governamentais para tratar das relações entre a preservação de biomas, o uso da terra de forma sustentável e a necessidade de manter a meta de temperatura global.
Vale lembrar do por que se fala tanto de Amazônia quando se trata de mudanças climáticas, meio ambiente e biodiversidade. A Amazônia abriga uma parcela relevante da biodiversidade já conhecida: são 22% das espécies de plantas vasculares, 14% das aves, 9% dos mamíferos, 8% das anfíbios e 18% dos peixes que habitam os trópicos. Em partes dos Andes e planícies amazônicas, um único grama de solo pode conter mais de 1.000 espécies de fungos geneticamente distintos.
Além disso, a diversidade de peixes em seus rios representa aproximadamente 13% dos peixes de água doce do mundo, 58% dos quais não são encontrados em nenhum outro lugar da Terra. Esses dados são do Painel Ciência para a Amazônia (SPA, na sigla em inglês), uma iniciativa inédita convocada pela Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (UNSDSN).
Mas, parece tão distante falar de Amazônia para quem está no Cerrado, certo? Errado. Evidências sobre o impacto da perda de floresta nas chuvas se acumulam. Estudos seguem mostrando que períodos secos já são mais frequentes e deixam o agronegócio vulnerável. Dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) mostram que, durante a última década, o volume das chuvas no Brasil diminuiu quase 17% quando comparada à média das últimas quatro décadas.
Falar de meio-ambiente é uma pauta comum, porque interfere de uma forma ou de outra na vidaa de todos. O aumento nas temperaturas causada pelo aquecimento global explicam a mudança no comportamento das chuvas. Agora parece estranho falar em estiagem porque estamos em período de muitas chuvas, mas cientistas têm, aos poucos, documentado que anomalias regionais são resultado direto do desmatamento.
Estudiosos do clima encontram cada vez mais evidências de que o período chuvoso está chegando mais tarde e durando menos tempo nas regiões produtoras de soja e milho no Brasil. Em um país cuja agricultura é essencialmente alimentada por chuvas — apenas um décimo das áreas cultivadas são irrigadas.