O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), pode trocar seu atual partido pelo PL. A migração foi tomando forma aos poucos; ao longo da semana, declarações de Bolsonaro (PL) e de Marcos Pereira (presidente do Republicanos), foram vazadas à imprensa. Há uma razão pela qual o partido da Igreja Universal não está descontente em perder seu único governador, e o fato pode afetar a campanha presidencial de Ronaldo Caiado (UB) em 2026. 

A separação entre Tarcísio de Freitas e seu partido é consensual, e não um divórcio litigioso. O governador do mais populoso estado brasileiro, mesmo sendo bem avaliado e um quadro importante para o Republicanos, se tornou um contratempo. Acontece que Marcos Pereira, presidente do partido, está em campanha desde 2023 para se tornar o presidente da Câmara dos Deputados para o próximo biênio. 

A eleição só acontece em fevereiro de 2025, mas Marcos Pereira já se movimenta. O presidente do Republicanos se aproxima do presidente da República, Lula da Silva (PT). Ambos viajaram no avião presidencial para Santos no início de fevereiro e, segundo a coluna de Malu Gaspar n’O Globo, Pereira é o candidato favorito de Lula para ocupar a cadeira que hoje é ocupada por Arthur Lira (PP)

Arthur Lira, por sua vez, tem em Marcos Pereira apenas uma de suas três opções. Elmar Nascimento (UB) e Antônio Brito (do PSD e apadrinhado por Gilberto Kassab) são outras opções. Isso significa que o presidente do republicanos tem de passar por uma competição acirrada, e não pode preterir do apoio do presidente Lula se quiser se tornar presidente da Câmara. Para conquistar esse apoio, entretanto, é fundamental que ele não seja percebido como uma ameaça eleitoral por Lula. 

Neste momento, com Tarcísio em seu grupo, Marcos Pereira encampa o maior adversário eleitoral ao presidente da República. Por isso, abrir mão do governador de São Paulo não é um contratempo tão grande. O Republicanos, afinal, tem ministros no governo federal, e abrigar um pré-candidato de direita não pega bem. 

2026

No dia 5, Bolsonaro afirmou que a migração de Tarcísio de Freitas para o PL já está 90% certa. O espólio eleitoral do ex-presidente é disputado por outro pré-candidato à presidência da República — o governador Ronaldo Caiado. Tarcísio, que foi ministro no governo do ex-presidente, tem identificação com o bolsonarismo — sua chegada ao PL significa que ele será o pré-candidato apoiado por Bolsonaro? Dificilmente. 

Primeiro, porque o ex-presidente, notório pela paranóia, não costuma consagrar políticos que não estejam completamente sob seu controle. Tarcísio, que teve uma vida política prévia com a petista Dilma Rousseff, já foi escanteado e até humilhado publicamente por Bolsonaro. Em julho de 2023, durante discussão da reforma tributária, Bolsonaro interrompeu o governador paulista e afirmou que ele não tem experiência política — Tarcísio foi vaiado.

É difícil imaginar Bolsonaro lançando um político que não esteja sob seu controle — talvez um dos filhos ou a esposa — mas isso não significa que políticos deixarão de disputar o eleitorado de Bolsonaro. Até porque o poder de transferência de votos do ex-presidente é questionável. A ida de Tarcísio para o PL certamente ajuda esse eleitorado a identificá-lo como herdeiro do ex-presidente, mas Bolsonaro ainda deve lançar um herdeiro “mais” legítimo; alguém que não lhe faça sombra em um futuro possível em que ele se encontre elegível. 

Nesta perspectiva, o cenário para todos os interessados nesse segmento começa a se transformar. Até aqui, viemos nos perguntando “com quem vão os bolsonaristas?”, como se esses apoiadores ainda fossem um bloco único, sob a coordenação do capitão. Agora, a pergunta correta parece ser “este candidato é alguém com o selo de aprovação dos bolsonaristas?”

Sem a coesão digital da presidência de Bolsonaro, o que parece acontecer é a divisão desses eleitores entre candidatos que compartilhem seus valores. Romeu Zema (Novo), Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, um “herdeiro legítimo” lançado por Bolsonaro — pelo menos até 2026, todos esses vão buscar abocanhar o grupo por diversas estratégias. Uma possível estratégia é assimilar o discurso agressivo de Bolsonaro; outra é adotar políticas públicas caras a este segmento, como o combate ao crime; outra estratégia é migrar para o partido do ex-presidente.