Da direita à esquerda, passando pelo Poder Judiciário, há consenso de que internet será decisiva nos resultados das urnas

Entre analistas, marqueteiros e políticos há unanimidade em dizer que a eleição de 2018 foi um “ponto fora da curva” e que dificilmente se repetiria o fenômeno que elegeu o Jair Bolsonaro (PL) para presidente. Essa é uma constatação fácil. O conjunto de fenômenos daquele pleito não encontram campo fértil para se repetir. A campanha realizada há quatro anos foi impulsionada pela aversão geral a partidos políticos tradicionais, e então elegeu-se presidente sem dinheiro ou tempo de televisão, movido pela força das redes sociais. Acrescenta-se a esse cenário todo o impacto da operação Lava-jato e o ataque a faca que vitimou o então presidenciável.

Para 2022 as forças políticas se organizam e realinham. Os recursos financeiros para campanhas vão jorrar. E os partidos tentam retomar protagonismos. Mas as redes sociais serão ainda mais decisivas para a escolha do eleitor. 

Levantamento feito pela Genial/Quaest, divulgado no início de dezembro mostrou que mais da metade da população brasileira tem a televisão como principal fonte de informação sobre política. Em segundo lugar aparecem as redes sociais.

Os entrevistados pela pesquisa responderam: Como você se informa sobre política, principalmente?

  • TV: 52%
  • Redes sociais: 22%
  • Site, blogs e portais de notícias: 9%
  • Amigos familiares ou conhecidos: 5%
  • Não costumo me informar sobre política: 3%
  • Rádio: 3%
  • Whatsapp: 2%
  • Jornais impressos: 2%
  • Não sabem/não responderam: 1%

O movimento de ascensão da importância das redes sociais na política brasileira não é segredo para ninguém. A movimentação do então candidato Jair Bolsonaro, em 2018, de utilizar com força a internet mostrou para todo o mundo que a realidade mudou e ter tempo de televisão não garante mais uma vitória. Vale lembrar que na campanha, Bolsonaro tinha 8 segundos na TV no primeiro turno.

A mesma pesquisa mostrou a relação entre como a pessoa se informa e qual a avaliação do governo de Jair Bolsonaro. Veja os resultados:

Quem mais se informa pela TV avalia o governo como

  • Positivo: 18%
  • Regular: 27%
  • Negativo: 54%
  • Não sabem: 2%

Quem mais se informa pelas redes sociais avalia o governo como

  • Positivo: 29%
  • Regular: 25%
  • Negativo: 44%
  • Não sabem: 1%

Foram ouvidas 2.037 pessoas com 16 anos ou mais entre os dias 2 e 5 de dezembro. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.

Os números indicam, apesar de não necessariamente comprovarem, que as pessoas que se informam pelas redes sociais avaliam melhor o governo do presidente Jair Bolsonaro.

Pandemia favoreceu o conexões virtuais

Os 150 milhões de usuários de redes sociais no Brasil têm rotinas predominantemente conectadas desde o início da pandemia de COVID-19. É o que indica o estudo da Hootsuite em parceria com a We Are Social, divulgado em agosto de 2021. O número de usuários das redes, quando comparado ao total de habitantes, é de 70,3% da população. Esse dado coloca o Brasil como uma das nações protagonistas da interação social por meio das telas. O brasileiro é o terceiro do mundo a passar a maior média de tempo nas mídias sociais, o equivalente a 3h42min diárias. Isso representa mais de 56 dias por ano inteiramente vividos no feed das redes sociais.

Neste ambiente tão conectado e decisivo para os rumos políticos do país, as fake news continuam como pauta latente. A disseminação de notícias falsas e a desinformação que determinados comportamentos no consumo de notícias podem gerar é uma preocupação que cresce junto com o tempo de uso da internet. 

Da direita à esquerda, passando pelo Poder Judiciário, há consenso de que as redes sociais estarão no centro do debate eleitoral em 2022.  O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou uma resolução que estabelece regras para a propaganda de candidatos, partidos, federações e coligações no rádio, televisão, internet, imprensa e, ainda, condutas ilícitas nas eleições de 2022. A norma foi aprimorada e atualizada, principalmente no que diz respeito à propaganda eleitoral na internet e por meio de aplicativos de mensagens.

A pauta da desinformação também é destaque na resolução. A norma pune a veiculação de notícias falsas ou contendo injúrias, calúnias ou difamações com o intuito de beneficiar candidatos, partidos, federações ou coligações. A divulgação de fatos sabidamente inverídicos pode ser punida com prisão de dois meses a um ano e pagamento de 120 a 150 dias-multa. A fiscalização da propaganda é feita pelo Ministério Público Eleitoral (MPE).