Por certas nomeações na equipe, dá para perceber que a corrupção e a inoperância
causada pelo inchaço do ministério continuarão sendo as marcas do governo Dilma 2

Antes da metade do primeiro governo Dilma Rous­seff, ali pelo final de 2011, já se pôde perceber que os problemas na gestão estavam instalados. Seja por incompetência pura e simples da equipe ministerial, seja pelo caráter voluntarioso da presidente, que se acha dona de verdade e tem imensas dificuldades em reconhecer seus erros. Em vista dos erros, os números da economia vieram descendo ladeira abaixo desde então.

Como registra o doutor em Economia pela Unicamp Guilher­me Costa Delgado: “O ano de 2014 sintetiza três características, até certo ponto comuns ao mandato inteiro: a) baixo crescimento; b) elevação do desequilíbrio externo (o ‘déficit’ em Conta Corrente com o exterior pula de pouco mais de 50 bilhões de dólares no primeiro biênio para mais de 80 bilhões no segundo biênio); c) tensões inflacionárias no nível do teto da meta oficial de inflação.”

Por sinal, o Tesouro divulgou na segunda-feira, 29, que o rombo das contas públicas de janeiro a novembro chegou a R$ 283 bilhões. Só em novembro, foi de R$ 6,7 bilhões, o maior em 17 anos para o mês.

Se considerarmos que a recuperação econômica dos Estados Unidos e a diminuição sensível do crescimento da China nos afetam fortemente, o ano de 2015 será muito difícil. EUA se recuperam e atraem investimentos que poderiam vir para o Brasil; o gigante chinês reduz a importação de commodities que produzimos e diminui nossas exportações. Esses fatores, e outros mais, nos pegam pelo contrapé.

Em termos políticos, as coisas também não se apresentam nada alvissareiras. Pelos primeiros nomes anunciados para seu imenso ministério, está claro que o Dilma 2 será uma continuação de improvisos e acochambros de aliados indicados em postos para os quais não têm nenhuma aptidão.

Um exemplo é o futuro ministro dos Esportes, deputado federal George Hilton, do PRB. O homem não tem absolutamente nenhuma afinidade para o cargo, mas preenche a “cota” seu partido no governo Dilma. Sem contar que Hilton foi expulso do PFL em 2005, após ter sido flagrado num aeroporto com R$ 600 mil em caixas de papelão. Não conseguiu explicar de onde vinha a dinheirama. Ou seja, é um finório juramentado.

Com a reeleição, que ficou por um triz, esperava-se que o segundo governo da petista pudesse se diferente do primeiro. Isso, porque, sem a possibilidade de “trieleição” ela talvez raciocinasse que não precisaria entregar a alma aos aliados.

Dilma não tem personalidade para tentar dar uma “cara” própria ao seu governo. É refém dos acordos para a tal governabilidade. E, para resguardar um mínimo de condições no sentido de recuperação da economia, teve de atender orientação do ex-presidente Lula, colocando na Fazenda o economista Joaquim Levy, um eleitor de Aécio Neves. Levy na condução da Economia pode devolver a credibilidade que o País perdeu. Isso se Dilma deixá-lo fazer o que é preciso: aplicar o ideário que certamente Aécio Neves iria aplicar se tivesse sido eleito, porque urge consertar os estragos cometidos pela dupla Dilma-Mantega.

Mesmo com Joaquim Levy no comando da Economia, o restante do governo será mais do mesmo. Isso se os brasileiros tiverem muita sorte. Por que pode ser que este ano seja de degringolada com as dificuldades externas previstas, que refletirão no mercado interno.

Corrupção

Para piorar o quadro do primeiro ano deste governo que começou há três dias, a corrupção vai continuar sendo a marca das gestões petistas, como foi no governo Lula, com o mensalão. Haverá novas revelações no escândalo do petrolão — ou petropina, como prefere o procurador da República em Goiás, Helio Telho.

Dilma está preocupada com o problema, que dificulta muito a estabilidade política de sua gestão, inclusive no Congresso. São vários apoiadores de seu governo que estão envolvidos no esquema de desvio de dinheiro na petrolífera. Incluindo aí os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, os peemedebistas Enrique Alves e Renan Calheiros. Além de petistas de proa, como os senadores Gleisi Hoffmann (PR) e Humberto (PE).

E mais, pelo que confessaram os delatores Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, parte do dinheiro desviado serviu para financiar a campanha de Dilma, em 2010. Por aí se vê, que o novo governo começa sob tensão. Foi sim por medo que há poucos dias Dilma disse que iria consultar o Ministério Público sobre os nomes que ela escolheria para formar seu ministério. Ela tinha medo de nomear envolvidos no escândalo e depois ter de demitir.

Bem, a presidente já tem sua cota de ministros envolvidos no petrolão. Jaques Wagner, o novo ministro da Defesa, pode estar no olho do furacão. Lembremos. A ex-gerente da Petrobrás Venina Velosa denunciou em 2009 que o então gerente de Comunicação da área de Abastecimento da petroleira, Geovane de Morais, havia autorizado irregularmente gastos milionários sem qualquer comprovação da efetiva prestação de serviços, com fortes indícios de desvio de recursos.

Morais é baiano, ligado ao grupo político petista oriundo do movimento sindical de químicos e petroleiros do Estado, do qual fazem parte Wagner e Rosemberg Pinto, então assessor especial do então presidente da Petrobrás Sérgio Gabrielli, também baiano. Após reportagem da “Folha de S.Paulo”, uma auditoria interna realizada na Petrobrás constatou as suspeitas de fraudes e desvio de recursos nos pagamentos autorizados por Morais.

Duas produtoras de vídeo que trabalharam nas campanhas do ex-governador Jaques Wagner e de duas prefeitas do PT receberam R$ 4 milhões da Petrobrás em 2008, sem licitação, em projetos autorizados por Morais, que era subordinado ao ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, delator e pivô do escândalo de corrupção na Petrobrás. Os nexos são conexos, como diria um poeta.

E o que dizer de Cid Gomes (Pros-CE) na Educação? O homem é sutil como um elefante em loja de cristais. Já deu declarações de franca hostilidade aos professores em seu Estado, quando era governador. Problema à vista para Dilma, é só esperar. Kátia Abreu na Agricultura, em que pese a competência e o histórico de atuação no setor primário, é tida como inimiga figadal pelo PT e pelo braço petista no campo, o MST. Ou seja, mais problemas para Dilma. É só esperar.

Portanto, pelo cenário econômico externo complicado, pela fraca equipe ministerial, pelo panorama nublado de corrupção que fica mais denso a cada dia, Dilma Rousseff terá muita sorte se 2015 chegar ao fim como um ano normal, e não um annus terribilis, politicamente falando.