Além do mensalão, partido agora tem mais um emblema negativo com o petrolão, que parece ser o maior roubo de dinheiro público no Brasil e talvez no mundo

Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef: eles estavam a serviço do esquema na Petrobrás e resolveram revelar os escaninhos da corrupção sistemática montada na empresa sob os auspícios do governo petista / Laycer Tomaz/ Agência Câmara / Sérgio Lima
Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef: eles estavam a serviço do esquema na Petrobrás e resolveram revelar os escaninhos da corrupção sistemática montada na empresa sob os auspícios do governo petista / Foto: Laycer Tomaz/ Agência Câmara / Sérgio Lima

Após o primeiro turno da eleição à Presidência, o ministro-chefe da Secre­taria da Presidência, Gilberto Carvalho, disse num discurso a trabalhadores rurais em Pernambuco, que os petistas não deveriam se envergonhar quando fossem chamados de ladrões. Logo depois da reeleição de Dilma Rousseff, Carvalho, em entrevista a blogueiros do UOL, admitiu que seu partido, o PT, acabou se assemelhando a outros partidos — “a corrupção infelizmente entrou dentro de nós, é verdade”.

E emendou: “O que não dá para aceitar é a gente ser considerado como aqueles que inventaram a corrupção no Brasil, é absolutamente desmedida a maneira como nós fomos tratados nesse tempo. É como se a corrupção tivesse sido inventada por nós. Quando, na verdade, o que nós fizemos, embora tendo caído em erros, é verdade isso, eu não tenho como negar, não tenho por que negar, mas é como se o passado todo fosse um passado limpo nesse país e nós é que trouxemos para a cena da política a corrupção, quando na verdade, o que nós fizemos, foi ter a coragem de fazer a investigação e cortar na própria carne”.
O ministro afirmou ainda que companheiros do PT “caíram” por motivo de corrupção, mas o problema foi multiplicado pela mídia a ponto de não poderem mais sair às ruas porque são chamados de ladrões.

Sim, Gilberto Carvalho está coberto de razão quando diz que o PT não inventou a corrupção no Brasil. Recuando só um pouquinho na história, no período dos governos militares houve sim corrupção. Dizia-se de um ministro do governo Ernesto Geisel (que morreu com o mesmo patrimônio que tinha antes) que ficou tão rico que chegou a comprar poços de petróleo no Texas. E o que dizer do período Sarney, servidor de todos os governos e ele próprio um compêndio vivo de coisas nada republicanas?

Collor de Mello foi apeado do poder por… corrupção. Collor tinha até uma espécie de Delúbio Soares que lhe organizava as finanças “não contabilizadas”, na pessoa de Paulo Cesar Farias. Os escândalos se sucediam tal como agora, a imprensa mostrou tal como agora, e Collor caiu.
O período Fernando Henrique Cardoso foi marcado pelas muitas e inegáveis medidas de racionalização administrativa, modernização da máquina pública, mas também pela compra da reeleição. Aquilo foi um típico caso de corrupção sim, com compra de parlamentares para votar a tal emenda da reeleição. Logo após a aprovação da emenda na Câmara, a “Folha de S.Paulo” manchetou na primeira página: “Deputado conta que votou pela reeleição por R$ 200 mil”.

Por essas e muitas outras, claro está que a corrupção não entrou no governo federal no dia que Lula da Silva subiu a rampa do Planalto, no dia 1º de janeiro de 2003. Ninguém que raciocine com isenção vai imputar esse feito ao PT.

Mas, continuemos no recuo histórico. Aí veio o primeiro governo de Lula. E em 2005 estoura o mensalão. Que foi, não custa lembrar, a compra de parlamentares para aprovar projetos de interesse do governo federal, esquema coordenado pelo capitão do time de Lula, então ministro Zé Dirceu.

O esquema foi investigado e os culpados condenados no Supremo Tribunal Federal (STF). Entre os que foram cumprir pena na cadeia, José Dirceu, o goiano Delúbio Soares, o homem-caixa do PT, José Genoino, João Paulo Cunha, políticos de outros partidos, além de operadores civis do esquema.

Pois bem, o que o PT fez? No calor das denúncias, e antes mesmo que houvesse condenação, o partido expulsou Delúbio, oferecido como bode expiatório à opinião pública. Depois reabilitou o ex-tesoureiro, que se refiliou e foi tratado como herói.

Esse tratamento de herói foi dado aos outros companheiros condenados. Ainda está fresco na memória uma das cenas mais grotescas da política brasileira em todos os tempos, no momento da prisão de Genoino, ele levanta a mão fechada, coberto com uma toalha de mesa, como se fosse assim, um “chapolim colorado” — no caso, um “chapolão atoalhado”.
Genoino fez tal gesto e se cobriu com uma capa-toalha para simbolizar a dimensão de heroicidade que seus companheiros vinham manifestando a eles e aos outros condenados. Os “heróis” petistas foram devidamente enjaulados, embora por pouco tempo. Alguns já estão livres.

E o mais recente aplaudido por petistas como foi João Vaccari Neto, tesoureiro nacional do PT, o homem que cuida das finanças do partido, que cuidou das doações para a campanha da reeleição de Dilma, etc. Vaccari foi ovacionado em reunião do diretório nacional do partido, em Fortaleza, quando se defendeu das acusações de envolvimento com o petrolão. Segundo ele, todas as contribuições que recebeu para a legenda são legais.

Vaccari foi citado pelo ex-diretor de Abastecimento da Pe­tro­brás Paulo Roberto Costa como intermediário do PT no repasse de dinheiro desviado da estatal no esquema de corrupção investigado pela Operação Lava-Jato.

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, saiu em defesa do companheiro e disse que “a maior defesa de Vaccari é a sua vida”. O dirigente petista pediu palmas em solidariedade ao tesoureiro e foi prontamente atendido.

Sem esquecer outros escândalos, como o da ex-ministra Ere­nice Guerra traficando influência a poucos metros do presidente, a primeira-amante Rosemary No­ronha gastando a rodo, demitindo e nomeando gente nos primeiro e segundo escalões, chegamos então aos dias de hoje, quando estourou o escândalo da Petrobrás.

Preso no curso da investigação pela Polícia Federal, um indicado de Lula na diretoria da empresa, Paulo Roberto Costa, aderiu à delação premiada (denunciar como o esquema funcionava e as pessoas envolvidas em troca de pena menor). A casa caiu. Logo, outro agente civil do esquema, o doleiro Alberto Youssef, também deu com a língua nos dentes.

Com a avalanche de escândalos, Dilma diz que não sabia de nada. Ela, que era presidente do conselho da Petrobrás e depois, já como presidente da República, referendou a permanência de Paulo Roberto Costa na diretoria da estatal. O homem que operava o esquema desde o governo Lula continuou operando no governo Dilma.

O resultado até agora, é que o escândalo do petrolão se anuncia como o maior do Brasil em todos os tempos. Há quem avalie que é o maior do mundo.

Na semana segundo turno da eleição, Alberto Youssef diz que Lula e Dilma sabiam de tudo. Alguém tem dúvida? Um esquema que desvia bilhões — não são milhões — de reais para campanhas políticas do partido que está no poder e siglas aliadas e os dois maiores interessados não sabiam de nada?

Vaccari é citado pelos delatores como envolvido até o pescoço no esquema. Os delatores dizem que boa parte da grana desviada foi para campanhas do PT, do PMDB e do PP. O tesoureiro do PT foi rápido em dizer que é inocente e que abre suas contas. Logo, eis que é citada como também envolvida no esquema uma cunhada de Vaccari. Bem, já começa a ficar interessante essa história de abrir conta…

O presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), ministro João Augusto Nardes, disse que o superfaturamento em obras da Petrobrás pode chegar a R$ 3 bilhões. O valor inclui o prejuízo apurado na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, e perdas em empreendimentos, como o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e as refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco; Duque de Caxias (Reduc), no Rio de Janeiro; e Presidente Getulio Vargas (Repar), no Paraná. “Maior escândalo da história do TCU”, disse.

A verdade é que mais, muito mais, foi desviado. Fala-se em mais de 20 bilhões de reais. A imprensa internacional está repercutindo o escândalo. O “New York Times” aponta o Brasil como recordista mundial de corrupção. O jornal norte-americano registra que o escândalo Petrobrás com seus desdobramentos é o maior caso de corrupção em país democrático na história do mundo moderno, com as somas de dinheiro roubado superando o PIB de muitos países.

Capítulos da roubalheira se sucedem quase diariamente. A Petrobrás é hoje a empresa mais endividada do mundo e está sendo investigada também nos Estados Unidos e na Holanda.
O PT conseguiu realizar um escândalo de corrupção como nunca houve antes na história desse país.

Esperamos que os ladravazes paguem por seus crimes. E que o verdadeiro chefe do esquema seja alcançado e punido. Porque no mensalão ele não foi.