Escritor Mário Vargas Llosa confessa sua desilusão com o ex-presidente brasileiro e condena “falta de coragem” dos governos latino-americanos para denunciar violação dos direitos humanos na Venezuela

Escritor peruano Mário Vargas Llosa: “Lula implantou um governo profundametne corrupto. Dá até vertigem”
Escritor peruano Mário Vargas Llosa: “Lula implantou um governo profundametne corrupto. Dá até vertigem”

O escritor peruano Má­rio Vargas Llosa é um dos meus ídolos in­telectuais. Escritor prolífico e brilhante, au­tor de romances de rara maestria, como “A guerra do fim do mundo” e Con­versações no Catedral”, como também análises literárias (seu “A orgia Perpétua” deve ser o melhor estudo sobre o clássico realista “Ma­dame Bovary”, de Flaubert) e políticas.

Llosa já foi um apaixonado pela revolução cubana. E como tal militou rapidamente no Partido Comu­nista Peruano, quando estudante universitário. Consta que, em Paris, em 1959, ao saber da entrada dos guerrilheiros em Havana, sua reação foi: “Me emborraché de alegría”.
Foi a Cuba pela primeira vez em 1961, como jornalista. Depois, manteve contato com a comunidade intelectual cubana.

Mas em 1965, já escrevia carta a Fidel Castro para protestar contra as perseguições promovidas pelo ditador. Três anos depois, escreveu artigo que ficaria famoso – “El Socialismo y los Tanques” –, de reação ao apoio de Fidel à invasão de Praga pelo exército soviético.

Em 1971, o caso Padilla pôs fim ao que pudesse restar de ilusão com Castro. O poeta Herbert Padilha ganhou, em 1968, o Grande Prêmio da União Nacional dos Escritores e Artistas de Cuba com o livro “Fuera de Juego”, o qual não ocultava as mazelas das autoridades cubana. O que despertou a ira do regime de Fidel Castro. Apesar das pressões feitas pela direção da União de Escritores, o júri outorgou por unanimidade o prêmio a Padilha.

Com o prosseguimento da polêmica, quando o autor lança em leitura na Universidade de Havana o seu novo livro “Provocaciones” em 1971, é preso em 20 de março daquele mesmo ano, junto com sua esposa, a poeta e escritora Bel¬kis Cuza Malé. Acusação: “atividades subversivas” contra o governo revolucionário de Cuba.

Padilha e sua mulher foram libertados por causa da forte reação internacional. A grita veio de intelectuais como Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, Carlos Fuentes, Octavio Paz, Alberto Moravia, Susan Sontag, Hans Magnus Enzensberger, Juan Goytisolo, além de Vargas Llosa.

Mas Padilha teve de fazer uma re­tratação pública, uma dura autocrítica, assumindo culpa perante um tribunal. Com isso, muitos intelectuais se desiludiram com o regime dos Castro, cortando laços com as ideias libertárias que supostamente defendia.

Mário Vargas Llosa continuou sua evolução política, às vezes por caminho um tanto tortuoso, mas nunca sem coerência e firmeza de opinião. Sempre defendendo a democracia e a liberdade, tornou-se arauto de políticas econômicas de direita, criticando as tentativas de intervenção do Estado para dominar ou regular o mercado.

Admirador confesso de Rea­gan e de Thatcher nos anos 80, em 1990 decidiu candidatar-se à presidência do Peru. Perdeu para um populista quase desconhecido, Alberto Fujimori. Dez anos depois, Fujimori foi apeado do poder pela pressão popular e condenado em 2009 por violação de direitos humanos.

Llosa permaneceu na trincheira pela liberdade, contra qualquer tentativa de tirania. Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 2010, o que amplificou sua voz como uma das mais ativas da intelectualidade latino-americana, ouvida em todo o mundo.

Há poucos dias ele manifestou asco pela prática política do ex-presidente brasileiro Lula da Silva. Numa assembleia da Sociedade Interamericana de Imprensa, na cidade de Charleston (EUA), Vargas Llosa destacou a falta de escrúpulos do petista, a quem chamou de imoral. Referindo-se à situação atual do Brasil, mergulhado na pior crise de corrupção da história com o PT no poder, Llosa foi peremptório: “Corrupção de Lula dá até vertigem”.

São declarações devastadoras que enterram o pouco que restou da reputação de Lula no mundo:

“A corrupção é um problema grave, a maior ameaça para a democracia, especialmente com as novas e recentes democracias latino-americanas. O Brasil parecia ter decolado, mas o que freou de repente e está provocando o retrocesso? A corrupção, que está de volta mais forte que nunca, acima do pico de todos os níveis já alcançados, vinda de um governo que todos no mundo acreditavam que era exemplar: Lula implantou um governo profundamente corrupto.

Dá até vertigem os montantes bilionários roubados pelos grandes ladrões do governo Lula. A história da Petrobras é incrível. É uma indicação do que pode acontecer se combater a corrupção, que se manifesta na América Latina maneira muito perturbador. Já não são os guerrilheiros, utopias socialistas, os golpes. São todos ladrões, como os narcotraficantes. Seria terrível que a democracia continue a ser esmagada e sufocada pela corrupção”, afirmou.

Fifa e Volkswagen
Ele falou mais: “Só faltava a Fifa e a Volkswagen, porque Lula não deixou a pedra da corrupção esfriar”, afirmou, se dizendo indignado com o fato do milagre econômico brasileiro ter descambado na extrema corrupção dos governos de Dilma Rousseff e Lula da Silva.

O escritor não deixou o brasileiro sozinho nesse balaio de escroques políticos, ao descrever como “demagogia racista” o oportunismo do norte-americano Donald Trump, pré-candidato do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos.

O peruano condenou ainda a “falta de coragem” dos governos latino-americanos para denunciar ditaduras e a violação dos direitos humanos na Venezuela, que se encontra em estado de “putrefação total” e advertiu que corrupção é a maior ameaça à democracia na América Latina. Num recado direto aos governos de Dilma Rousseff e Cristina Kirchner, coniventes com o massacre de civis na Venezuela, Vargas Llosa apelou aos líderes da região para expressar defesa inequívoca da democracia, durante a Assembleia.

E engana-se quem pensa que a clarividência de Mário Vargas Llosa sobre a situação do Brasil é recente. Em sua primeira visita ao país após ganhar o Nobel de Literatura, em outubro de 2010, o escritor chamou de “esquizofrênica” a conduta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no governo brasileiro.

“Lula fez evolução notável na política interna. Há no Brasil um desenvolvimento que impressiona o mundo inteiro, conduzido por posições democráticas admiráveis. O que lamento é que (ele) não tenha uma política internacional equivalente”, disse Vargas Llosa, que criticou a relação que Lula mantém com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad.

“Lá (Irã) estão atirando pedras em mulheres adúlteras! Como (Lula) vai legitimar um tirano assassino que representa uma forma anacrônica de fanatismo? (…) Há razões políticas, geopolíticas, mas não há razão ética ou moral que justifique esse tipo de esquizofrenia na conduta de um governante”, afirmou o peruano.

Ele ainda se disse “desconcertado, entristecido e indignado” com o encontro entre Lula e o líder cubano Raúl Castro em janeiro de 2011, quando o dissidente político cubano Orlando Zapata morreu em razão de uma greve de fome. “Por que um democrata no Brasil vai se abraçar com um ditador repelente como o sr. Castro no mesmo momento em que está morrendo um dissidente?”

Em julho do ano passado, quando estava claro que os estragos na economia brasileira perpetrados por Lula-Dilma estavam levando o país à bancarrota, Llosa assinou um artigo no jornal espanhol “El País”. No texto, iniciado com lamentos pela humilhante derrota da seleção do Brasil para a da Alemanha na Copa (“confesso que não me surpreendeu tanto”), o peruano analisa a cena política brasileira sob Dilma Rousseff.

“Tudo nasce com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), que, segundo o mito universalmente aceito, deu o impulso decisivo para o desenvolvimento econômico do Brasil, despertando assim esse gigante adormecido e posicionando-o na direção das grandes potências. As formidáveis estatísticas que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística difundia eram aceitas por toda a parte: de 49 milhões os pobres passaram a ser somente 16 milhões nesse período, e a classe média aumentou de 66 para 113 milhões. Não é de se estranhar que, com essas credenciais, Dilma Rousseff, companheira e discípula de Lula, ganhasse as eleições com tanta facilidade. Agora que quer se reeleger e a verdade sobre a condição da economia brasileira parece assumir o lugar do mito, muitos a responsabilizam pelo declínio veloz e pedem uma volta ao lulismo, o governo que semeou, com suas políticas mercantilistas e corruptas, as sementes da catástrofe.”
Sabe tudo esse Mário Vargas Llosa.