A divulgação de pesquisas de intensão de votos para presidente se tornaram quase que diária. Os números não apresentam grandes variações, seja no comparativo entre datas ou entre diferentes institutos. É a confirmação do que os analistas, eleitores e partidos já vinham indicando desde o final do ano passado: uma disputa polarizada, em que a terceira via não conseguiu viabilizar espaços para crescimento na intensão de votos. 

O eleitor brasileiro tem 13 candidatos a presidente para escolher nas eleições deste ano, mas a dinâmica eleitoral reduziu muito as opções já no começo da campanha para o primeiro turno. Os polos representados na campanha pelo presidente que busca a reeleição, Jair Bolsonaro (PL), e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dirigem as escolhas de parte da população. Os dois estão nas pontas que polarizam as eleições. Ao tornar a campanha bipolar e sem espaço para uma terceira opção com capacidade de ir para o segundo turno, os dois primeiros colocados nas pesquisas de intensão de votos –  e também na rejeição – passam a brigar pelos eleitores do centro, tendo em vista que os indecisos são poucos. 

É neste cenário que os candidatos que representam a polarização passam a apostar na cultura do voto útil. Ou seja, esperam que o eleitor deixe de escolher seu candidato favorito para tentar evitar o que identifica como o pior resultado possível. Assim, o voto útil tem que ser tratado como um instrumento legítimo da democracia, pois permite que, entre duas opções que não nos satisfazem plenamente, possamos escolher a mais aceitável.

Falar de voto útil não é novidade no Brasil e em nenhuma democracia. Basta lembrar a eleição de 2014, quando o eleitor abandonou Marina Silva (Rede), mais bem situada nas pesquisas, em favor de Aécio Neves (PSDB) dois dias antes do pleito. O tucano, com mais chance que ela, seria o candidato mais viável para derrotar Dilma Rousseff (PT).

Mas em 2022, a quem é útil esse voto? Para Lula, conseguir convencer os eleitores de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) de que seus votos o ajudariam a encerrar o embate com Bolsonaro no primeiro turno, é uma estratégia que deve ser adotada na reta final da campanha. Segundo a última pesquisa Datafolha, divulgada no dia 1º de setembro, Ciro tem 9% e Simone Tebet tem 5% das intensões de voto, mais do que suficiente para garantir os 50% dos votos validos para Lula – que aparece com 45%. Ele também luta pelos nulos e brancos (4%) – mas esse não deve se alterar no percentual.

Do outro lado, Bolsonaro, que tem na pesquisa Datafolha 32% das intensões, trabalha para convencer eleitores de Ciro e Tebet de que vale a pena levar a disputa para o segundo turno, e mais: ele quer tirar o máximo de vantagem de Lula para, no dia seguinte a 2 de outubro, o candidato petista tenha imagem de uma candidatura frágil. 

Com o cenário já dado de polarização, muitos eleitores não vão querer ‘queimar voto’ no primeiro turno em candidatos que já sabem que vão perder. Esse é um ponto cultural e até de tradição detectável no eleitorado brasileiro. Na reta final da campanha, influenciado por pesquisas e pela falta de opções viáveis, o eleitor parte para o seguinte pensamento: “o meu candidato não chegará ao segundo turno, o outro, sim, e temos um inimigo em comum”.

Neste ano os candidatos trabalharam estrategicamente pelo chamado voto útil, mas que também pode ser classificado de voto efeito manada.