Não foi uma grande surpresa ver as imagens de carros em chamas, explosões de bombas de efeito moral e tiros de borracha, em transmissões de canais de TV e redes sociais, durante a noite da última segunda-feira, 12. Há tempos se especula se os apoiadores de um golpe militar seriam inflados ao ponto de partirem para violência. Ainda me restava alguma dúvida se chegariam a esse ponto. Tinha a crença de que, ao se apoiarem no discurso de cidadão de bem, os grupos acampados em frente a quarteis não iriam querer sujar a imagem de “patriota”. Mas também sabia que se sentindo “confortáveis”, parte do grupo aguardava apenas uma chance para, vestidos com a camisa da seleção, aderir ao terrorismo. Portanto, não foi uma total surpresa. 

Os atos cometidos em Brasília denotam terrorismo. Não se pode querer maquiar e defender que houve em Brasília apenas uma baderna ou que se tratou apenas de uma manifestação que saiu do controle. O certo é que se tratou de terrorismo. Para quem tem dúvidas, o jurista Wálter Maierovitch detalhou bem ao comparar outros atos de protestos violentos e os que aconteceram no começo da semana passada. “Manifestações black blocks terminam na ação e no dano causado. Mas esses casos que assistimos seguem a matriz terrorista porque existe uma meta direta – que é criar intranquilidade, incendiar e causar dano – e uma segunda meta indireta, que é impedir a posse do presidente eleito.”

A prisão de um líder indígena, ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), surge como um pretexto para quem, já há algumas semanas, aguardava uma oportunidade para aterrorizar. Ao saberem da prisão de um dos seus, os “patriotas”,  começaram com uma tentativa de invasão à sede da Polícia Federal (PF) – instituição que até recentemente era uma das mais defendidas pelos bolsonaristas, em razão da atuação na Força-tarefa Lava Jato.

O fato principal é que eles não lutavam pela soltura do líder indígena. Os atos de terrorismo foram para afrontar o resultado das eleições. Tanto o é, que ocorreram logo no dia da diplomação de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), cerimônia que habilita os dois a tomarem posse no dia 1º de janeiro. Os atos violentos ocorrem na esteira da mobilização da ala radical da base de apoio a Jair Bolsonaro (PL) após a derrota nas eleições presidenciais de outubro.

Esses extremistas apoiadores de Bolsonaro, que agora aderem com o terrorismo, acampam em frente a quartéis e fazem apelos golpistas por intervenção militar. Eles são os mesmos que promoviam atos de ataque a sede da PF, queima de ônibus e carros, além de criar o pânico na capital do País. Esse grupo afirmava fazer parte do “movimento” que “luta pelo Brasil”. Na noite de segunda-feira, eles estavam, em sua maioria, com camisas verde-amarela e gritavam frases ouvidas em atos golpistas ou em comícios do presidente Jair Bolsonaro: “Brasil acima de todos” e “prende o Lula”.

Esses terroristas, que buscam se disfarçar de manifestantes, foram certeiros em iniciaram ataques a patrimônios públicos. Sabiam a repercussão do ato e queriam publicidade ao terror que mostram ser capazes de provocar. Esse novo modo de agir é por saberem que já não existe a esperança de que haja o que chamam de “intervenção federal” e muito menos de promover uma reversão do resultado das eleições presidenciais. Esses grupos também sabem que seus desatinos não vão ser encarados da mesma forma a partir da posse de Lula, em menos de 15 dias. 

O discurso do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante a cerimônia de posse de Lula foi representativo, pois dá o tom de como os golpistas deverão ser tratados quando Bolsonaro não lhes der mais nenhum tipo de guarita. Por nove vezes o ministro Alexandre de Moraes citou ataques à democracia e ao Estado de Direito perpetrados por criminosos [quatro vezes] extremistas [sete vezes] movidos por ódio [seis vezes], violência [seis vezes] e pensamento antidemocrático [seis menções].

Complacência

Foi notável a complacência das forças de segurança do Distrito Federal, que é governado pelo bolsonarista raiz Ibaneis Rocha (MDB), que no início mencionou “manifestações pacíficas” e relutou em condenar e reprimir os atos terroristas. Ninguém foi preso, o que é interpretado pelos bolsonaristas como uma carta branca para a barbárie.

A omissão institucional e o descontrole são intencionais; tudo é metodicamente programado para manter o clima de tumulto, caos, pânico e medo – ingredientes que, na ilusão delirante dos fascistas, legitimaria a intervenção militar para “salvar o Brasil”.

O ato terrorista é a última instância da resistência antidemocrática, que acaba afastando quem é a favor do golpe e contra a violência. Esses eventos repercutem mal e o grupo começa a deixar o movimento, os surtados desistem de prosseguir, enquanto os terroristas serão identificados e punidos.