Macroeconomista brasileira baseada em Washington, nos Estados Unidos, diz que nosso país está “liquidado e em liquidação”

Economista Monica de Bolle: “As pessoas ficam espantadas com o que está acontecendo com o Brasil” | Divulgação
Economista Monica de Bolle: “As pessoas ficam espantadas com o que está acontecendo
com o Brasil” | Divulgação

Ninguém em sã consciência tem dúvida de que a economia brasileira está caminhando a passos acelerados rumo à bancarrota, resultado de erros continuados dos governos petistas, notadamente na segunda gestão de Lula da Silva e na da presidente Dilma Rousseff, capitaneada pelo economista Guido Mantega. Agora, o novo comandante do Ministério da Fazenda, Joaquim Levy, tenta corrigir o rumo, com o propalado ajuste fiscal, que tem de ser votado no Congresso, mas é torpedeado sistematicamente pelo próprio PT, teoricamente o partido de Dilma.

Esse desarranjo na economia cobra caro dos brasileiros, principalmente dos mais pobres, com alta da inflação e aumento de desemprego, as duas consequências mais imediatas. E o pior é que Dilma parece viver num mundo alheio à realidade. A presidente se importa única e exclusivamente em não ser apeada da cadeira da Presidência.

O medo do impeachment faz Dilma errar cada vez mais, por exemplo, com reforma ministerial em que troca ministros ruins por ministros péssimos. Aliás, ela terceirizou de vez seu governo para Lula, o presidente de fato do País, e para o PMDB, que, voraz, ocupa cada vez mais espaço num governo fraco que se tornou seu refém.

E a situação econômica do Brasil vai se agravando, puxada pela crise política.

A percepção da crise brasileira, nítida no exterior, pode ser resumida na frase: “O mundo está muito perplexo com o Brasil”.

A sentença é da macroeconomista Monica Baumgarten de Bolle, professora de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), PhD em Economia pela London School of Economics and Political Science, ex-economista do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Washington, D.C. e pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, além de colunista do jornal “O Globo” e correspondente da Rádio CBN em Washington, de onde comenta a economia brasileira de uma perspectiva “estrangeira”.

No comentário da semana passada para a CBN, Monica de Bolle contou que as pessoas com quem ela conversa se mostram espantadas e perguntam, em tom de perplexidade: “Mas como o Brasil pode estar nessa situação, se há dois anos estava tão bem?”

Ela lembrou que os economistas independentes sabiam que não estava tão bem assim há dois anos. Mas, pelo menos fora, a impressão que se tinha era outra, já que o governo brasileiro debitava os problemas internos à crise financeira internacional.

Monica disse que a primeira parte da resposta aos interlocutores é tentar fazê-los entender que o Brasil não estava tão bem há dois anos, era apenas uma impressão que o governo tentava passar. Ela lembrou que em vários artigos escritos por ela e outros economistas, antes mesmo de 2013, foi mostrado que o Brasil estava indo por um caminho muito perigoso, e que se o governo não mudasse o rumo as coisas iriam piorar.

“De 2012 em diante, o rumo ruim foi escolhido de vez, com decisões péssimas para a economia, como o congelamento de tarifas, a expansão do crédito público não foi detida, a expansão fiscal também não parou, e isso foi desorganizando a economia até chegar a esse ponto crítico onde estamos hoje”, disse a economista.

O comentário de Monica de Bolle refletiu também o anúncio, no início da semana, da Hypermarcas, de um acordo para vender a divisão de fabricação e comercialização de cosméticos para a empresa global francesa Coty, dona de marcas como Adidas, Calvin Klein, Chloé, OPI e Playboy. O valor da operação é de R$ 3,8 bilhões.

Ela lembrou que o empresário Abilio Diniz disse há poucos dias que o Brasil está em liquidação e que outra pessoa emendou afirmando que o Brasil está é liquidado. “O Brasil está um pouco os dois, liquidado e em liquidação.”

Monica disse que em momentos de crise aparecem oportunidades para investidores estrangeiros e que há muitas empresas baratas no Brasil, em setores que ainda estão funcionando muito bem. Mas esses investidores, como a Coty, entram no Brasil cautelosos, não vêm com planos grandiosos de expansão nem de contratação. “Eles aproveitam a oportunidade de futuramente estar presentes num mercado que tem tudo para ser um mercado em expansão em algum dia, porque o Brasil continua sendo o País do futuro.”

Segundo a economista, esse investidor entra na País agora visando colher lá na frente e certamente terá resultados, porque ninguém imagina que a economia brasileira vá continuar da forma que está por mais cinco anos.

Mônica não é apenas pessimismo. Ela considera que algo muito interessante aconteceu esses dias: a carta do PMDB. Explica-se: o PMDB apresentou, há alguns dias, uma cartilha chamada “Uma ponte para o futuro”, com propostas para “curar” o Brasil da crise. O texto propõe uma série de medidas visando a retomada do crescimento da economia brasileira e critica “excessos” cometidos pelo governo federal nos últimos anos, que ocasionaram “desajuste fiscal”, que chegou a um “ponto crítico”.

O documento, que servirá de base para o congresso nacional da Fundação Ulysses Guimarães, no dia 17 de novembro, elenca propostas bastante polêmicas. Entre elas, acabar com a vinculação constitucional para gastos com saúde e educação, pôr um fim nas leis que garantem o aumento automático do salário mínimo e fazer com que as convenções coletivas tenham mais força que a lei trabalhista. “O País clama por pacificação, pois o aprofundamento das divisões e a disseminação do ódio e dos ressentimentos estão inviabilizando os consensos políticos sem os quais nossas crises se tornarão cada vez maiores”, reza o texto.

Ela diz que o documento é bom, pois pontua tudo o que é necessário para dar uma guinada na economia brasileira, mas põe em dúvida se a sociedade está preparada para encarar os custos de algumas das soluções apontadas.

Afirma que documento veio em boa hora, está muito bem articulado, os argumentos estão muito bem amarrados, e o que está delineado quebra paradigmas de preceitos do PT. “Então é uma mudança completa de rumos em todas as áreas, na fiscal, até na externa, sugerindo o que tem de ser feito para tirar o Brasil do isolacionismo. É um documento forte, importante. Tomara que dê em alguma coisa”.

Mas — e sempre tem um mas quando se refere ao momento brasileiro –, os próprios peemedebistas no Congresso votam diferente do que o documento do partido preconiza, disse o jornalista Carlos Alberto Sardenberg, que entrevistava Monica de Bolle. Ele lembrou mais: o pessoal do Ministério da Fazenda gostou da cartilha do PMDB, mas os parlamentares petistas detestaram. Esses parlamentares acham que a receita para corrigir os rumos da economia imediatamente é reduzir os juros e aumentar o gasto público.

Monica foi certeira: esses são os que não aprenderam a lição de nada. Não foi só a experiência que tivemos no Brasil nos últimos anos que se mostrou absolutamente desastrosa. “A gente já reduziu os juros e já expandiu o gasto público e deu no que deu. Fizemos isso lá atrás, em 2011, 2012 e 2013, anos em que o país vinha de uma posição ainda relativamente sólida. Fazer isso hoje, numa situação em que as condições do País são as mais frágeis possíveis, é uma receita clara para o desastre absoluto. É incrível que lições recentes não foram sequer internalizadas por esses políticos do PT.”

Ela lembrou que experiências nesse sentido foram malsucedidas em outras partes do mundo, tanto nos países desenvolvidos quantos em emergentes. “Não dá certo, não funciona. Gastar para aquecer (a economia) não é uma fórmula correta.”

A análise de Monica de Bolle deixa uma certeza: se o PT continuar (des)governando o Brasil, o País vai quebrar de vez.