Seguidores do ex-presidente, que é alvo de 5 ações penais, temem condenação dele em segunda instância e preparam narrativa de “perseguição política”

Lula e artistas pró-PT: candidatura é armação para narrativa de “perseguição política” quando ele for preso | Foto: Divulgação

Intelectuais, artistas, integrantes de movimentos sociais e simpatizantes do PT lançaram na quarta-feira, 1º, um manifesto em defesa da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência no ano que vem. Quem assina o papel são os de sempre, os cantores Chico Buarque, Martinho da Vila e Beth Carvalho, o líder do MST João Pedro Stédile, o jurista Fábio Konder Comparato, o teólogo Leonardo Boff, o escritor Eric Nepomuceno, o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, o cientista político Emir Sader, o jornalista Fernando Morais e as atrizes Marieta Severo, Dira Paes e Tássia Camargo.

Eles divulgam que a partir desta segunda-feira, 6, o documento será aberto para a captação de assinaturas em apoio ao lançamento do ex-metalúrgico, numa clara atividade eleitoral extemporânea, como tem sido costume de Lula desde sempre, com a Justiça Eleitoral fazendo vistas grossas.

Não custa lembrar: Lula é alvo de cinco ações penais, sendo quatro desdobramentos da Operação Lava Jato e outra da Zelotes — na sexta-feira, 3, o juiz Sergio Moro marcou que Lula seja interrogado como acusado no dia 3 de maio, em Curitiba. A turma petista teme que a condenação do ex-metalúrgico em segunda instância, inviabilize sua candidatura.

No manifesto chamado “Carta das (os) brasileiras (os)”, o grupo pede ao ex-presidente que se candidate novamente, numa ação ao atropelo da legislação leitoral. “É o compromisso com o Estado democrático de direito, com a defesa da soberania brasileira e de todos os direitos já conquistados pelo povo desse país, que nos faz, através desse documento, solicitar ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que considere a possibilidade de, desde já, lançar a sua candidatura à Presidência no próximo ano”.

O grupo justifica o pedido defendendo os dois mandatos de Lula e afirma que ainda é preciso fazer a inclusão social de uma parcela significativa da sociedade. O manifesto cita também a defesa da “soberania” nacional sobre o pré-sal e diz que o país precisa “voltar a ter um papel ativo no cenário internacional”.

Simbolicamente, o “lançamento” da candidatura de Lula foi feito no mesmo dia em que Marcelo Odebrecht depôs ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), revelando (ou confirmando) que 80% dos recursos doados à campanha da petista Dilma Rousseff em 2014 tiveram como origem o caixa dois; no mesmo dia em que o empresário confirma que uma Medida Provisória enviada por Lula em 2009 era do interesse do grupo, o que gerou uma compensação depois na forma de recursos de campanha.

Os artistas e intelectuais que querem a volta de Lula não estão nem aí se o PT espoliou o Brasil e fez a gestão mais corrupta da história da República brasileira.

Na verdade, essa candidatura de Lula é uma esperteza dos petistas. O que eles querem é se antecipar à mais que provável condenação do ex-presidente, para que quando ela ocorrer, eles tenham pronto o argumento: “Lula só foi condenado porque iria ser candidato e ganharia a eleição”. Ou seja, a “narrativa” de perseguição política está adrede preparada. Está pronta a desculpa para exercer um vitimismo de conveniência.

E poderão continuar fechando os olhos à realidade de corrupção, de incompetência e de desmandos que o PT praticou durante 13 anos de poder.

 

A Delúbio o que é de Delúbio: mais 5 anos de cadeia

Sindicalista Delúbio Soares: depois de ter sido condenado no mensalão, agora é condenado na Lava Jato | Foto: Divulgação

Há um ditado que vaticina: o que é do homem o bicho não come. O sentido da sentença é que aquilo que pertence a alguém, mais cedo ou mais tarde ficará com ele. É o que acontece com o ex-presidente do PT Delúbio Soares, que foi condenado no processo do mensalão, pelas várias falcatruas cometidas naquele movimento do governo de Lula para comprar apoio de parlamentares no Con­gres­so, e teve a pena perdoada pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), em 2016.

Motivo de orgulho para os petistas goianos, a ponto de ter recebido homenagem em 2013, na Assembleia Legislativa, patrocinada pelo então deputado estadual Mauro Rubem, Delúbio foi agora “brindado” com mais cinco anos de condenação pelo juiz Sérgio Moro. O magistrado condenou o goiano e o empresário paulista Ronan Maria Pinto a cinco anos de prisão por lavagem de dinheiro na Operação Lava Jato.

Ronan foi preso na 27ª fase da Lava Jato enquanto Delúbio foi alvo de condução coercitiva em abril do ano passado. Essa fase foi denominada Operação Carbono 14, deflagrada para investigar a prática dos crimes de extorsão, falsidade ideológica, fraude, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.

A denúncia do MPF diz que Ro­nan foi o beneficiário final de parte do empréstimo de R$ 12 milhões que o PT conseguiu no banco Schain por meio do pecuarista José Carlos Bumlai. O pecuarista afirma ter quitado o empréstimo por meio da entrega de sêmen de boi. Para a investigação, porém, essa versão é falsa e os valores foram pagos a partir da contratação da Schain pela Petrobrás para operar o navio-sonda 10.000.

Delúbio foi denunciado por lavagem de dinheiro porque teria participado da operação de transferência do dinheiro. Sergio Moro escreveu na sentença que Delúbio tem maus antecedentes e lembrou sua condenação por corrupção ativa no mensalão. “A lavagem no presente caso, envolveu especial sofisticação, com utilização de duas pessoas interpostas entre a fonte dos recursos e o seu destino final, além da simulação de dois contratos falsos de empréstimo.”

Moro conclui na sentença que Delúbio foi o responsável pelo pedido do empréstimo ao banco e “tinha ele também o controle do destino final, já que metade dos valores deveria chegar de forma dissimulada a Ronan Maria Pinto, de forma a evitar a vinculação entre este e José Carlos Costa Marques Bumlai e de ambos com agentes do Partido dos Trabalhadores”.

“A lavagem, no presente caso, envolveu especial sofisticação, com utilização de duas pessoas interpostas entre a fonte dos recursos e o seu destino final, além da simulação de dois contratos falsos de empréstimo”, escreveu moro na sentença. Para o juiz federal, “a lavagem de grande quantidade de dinheiro merece reprovação especial”.

Segundo o Ministério Público Federal, os 12 milhões de reais saíram do Banco Schahin para uma conta de Bumlai, que repassou o dinheiro à empresa de Bertin. O frigorífico pagou os 6 milhões de reais reservados a Ronan Maria Pinto à Remar Agenciamento e Assessoria Ltda, que por sua vez destinou 5,6 milhões de reais à Expresso Nova Santo André, do empresário. Contratos falsos de empréstimo foram firmados entre as empresas para dar aparência legal às transações.

Em uma comparação com o mensalão, Moro afirma que “segue-se o mesmo modus operandi da concessão de empréstimo fraudulento, a pessoa interposta, por instituição financeira, no interesse de agentes do Partido dos Trabalhadores, e com posterior direcionamento, com ocultação e dissimulação, a terceiros, com a diferença que nesse caso o beneficiário não é agente público”.

O ex-tesoureiro petista também é réu em outra ação penal sob responsabilidade de Moro, que apura o destino dos outros 6 milhões de reais do empréstimo fraudulento do Banco Schahin. Ele já havia sido condenado no julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2012, a seis anos e oito meses de prisão. Em março de 2016, o ministro Luís Roberto Barroso concedeu o perdão da pena a Delúbio.

Agora, confirmando o dito popular, o que é de Delúbio volta a Delúbio: condenação por crimes cometidos.