Ao tentar pôr Lula no Palácio para que ele articulasse o abafa-impeachment, a presidente assumiu o Ministério do Nada

Dilma Rousseff e Lula da Silva: jogada para pôr o ex-presidente num ministério não deu certo, e o impeachment se aproxima cada dia mais
Dilma Rousseff e Lula da Silva: jogada para pôr o ex-presidente num ministério não deu certo, e o impeachment se aproxima cada dia mais

Dilma Rousseff não é mais presidente do Brasil. Se formalmente ela não deixou o cargo, efetivamente já o fez desde que fez um convite para Lula da Silva assumir um ministério à escolha dele. O plano vinha sendo cogitado há algum tempo e ganhou força desde a sugestão do cientista político Alberto Carlos Almeida, conforme gravação grampeada e posta ao público há alguns dias (ver abaixo).

A decisão não foi fácil. Dilma, Lula e o PT sabiam que haveria reação tanto da população quanto da força-tarefa que está investigando a avalanche de corrupção que suja o Brasil. Nomear no ministério um investigado pelo Justiça é uma afronta à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal. Mas eles resolveram apostar. E perderam.

Desde que a posse foi anunciada, grupos começaram a se manifestar em várias cidades, especialmente em Brasília. Mas no desespero de causa a decisão foi tomada e Lula quase assumiu a Casa Civil, o que só não aconteceu por que houve ações na Justiça.

Lula no ministério foi mais um ato desesperado e errado de Dilma Rousseff, que dessa forma entregou de vez o governo ao seu mentor. Dilma saiu do governo e assumiu a condição de inação que lhe é característica. Dilma tornou-se titular do, digamos assim, Minis­tério do Nada. Ela é a 40ª ministra do próprio governo.

A presidente já não se preocupa mais com sua biografia, o que antes ela dava mostras de querer preservar, pelo menos em parte. Ela sabe que se Lula for preso, seu mandato também vai por água abaixo. Com o ex-presidente dentro do governo, ele ganharia uma poderosa estrutura oficial para negociar com parlamentares da desmilinguida base governista a derrubada do impeachment, cuja admissibilidade começou a ser votada na comissão especial da Câmara.

Nesse departamento, a situação da petista está indo de mal a pior. A população cobra dos parlamentares uma posição clara em relação ao impeachment. A colunista Vera Magalhães, da coluna Radar Online, divulgou que a oposição começou a fazer uma espécie de recadastramento, Estado por Estado, das intenções de votos dos deputados no processo de impeachment.

Isso porque alguns deles, que eram governistas e hoje votam pela derrubada de Dilma Rousseff, ainda aparecem em listas que circulam em redes sociais como favoráveis à manutenção do governo. Movimentos contrários à presidente têm bombardeado essas listas nas redes sociais. Os deputados “vira-casaca” querem sair da linha de tiro e ter seus votos atualizados nas listas como favoráveis à deposição da presidente. É a tal história, quem depende de votos tem medo de eleitor zangado.

O papel a ser jogado pelo ex-presidente no desarmamento do impeachment é fundamental. Mesmo sem poder tomar posse como ministro, ele começou a cumprir a missão de fazer a articulação política do governo, conforme a escalação de Dilma. Reportagem do “Valor” informa que Lula se reuniu na semana passada com parlamentares do PT e de partidos aliados para “sintonizar” sua atuação com o “exército” do governo no Con­gresso, em “conversas de companheiros”, na definição de um dos presentes a um dos encontros.

Um parlamentar petista disse que já que ele, Lula, está sendo convocado para ser articulador do governo, ele quer estar em sintonia com as bancadas, lembrando que o ex-presidente tem procurado lideranças políticas de outros partidos como o PMDB, que debate a possibilidade de desembarcar do governo Dilma Rousseff.

O PMDB, por sinal, já começou a desmobilizar seu apoio ao governo, com vários diretórios estaduais, incluindo o de Goiás, tendo decidido pelo rompimento. Talvez o mais governista PMDB, o do Rio, também resolveu, na terça-feira, 22, que votará no diretório nacional do partido, pelo desembarque do governo da presidente Dilma Rousseff.

A decisão já foi tomada e até comunicada ao vice-presidente Michel Temer, na quarta-feira, 23. Além de votar pela saída do governo, o grupo do Rio vai também aproveitar a ocasião e entregar os cargos que mantém no governo federal.

Alguns peemedebistas mais governistas querem manter a aliança com o PT, e os cargos, mas o vice-presidente Michel Temer, que é presidente nacional da sigla, resistiu a novos apelos dessa turma no início da semana passada, e manteve a reunião marcada para esta terça-feira, 29, para decidir se o partido sai já do governo.

Temer consultou um grupo de deputados, mas a maioria opinou pela manutenção da reunião, sob pena de o partido se desmoralizar. Os oposicionistas argumentaram que vários partidos da base já estão abandonando Dilma Rousseff.

O vice-presidente lembrou aos governistas que vinha dando prazo ao governo, mas Dilma atropelou a decisão do PMDB de não aceitar novos cargos ao nomear Mauro Lopes para a Aviação, o que precipitou a decisão sobre o rompimento definitivo.

Da parte de Lula, além de articulações com seus auxiliares no Congresso para evitar o pedido de impeachment da presidente Dilma pela Câmara, ele está preocupado também com as tentativas de impedir sua nomeação para a Casa Civil, atualmente suspensa pela Justiça. De acordo com relatos, Lula não está irritado com a circunstância política atual, mas “energizado para agir”, apesar de “muito gripado e detonado”.

“Já que ele foi chamado para salvar o governo, ele está querendo trabalhar coletivamente”, disse um aliado de Lula, conforme o “Valor”. “A luta não é nem para ele ser a todo custo nomeado ministro, mas para que a presidente tenha assegurado o direito de nomear sua equipe. Ela não pode nomear sua equipe? O juízo está exorbitando ao proibir que uma presidente eleita democraticamente possa montar sua equipe”, disse esse aliado de Lula.

Nessa altura, ninguém em sã consciência tem dúvida de que as campanhas de Dilma Rousseff foram financiadas com dinheiro desviado da Petrobrás. Dilma sabe que apenas Lula tem condições – que se vão minguando cada vez mais a cada dia que passa e que vem à tona novas informações sobre o escândalo relatadas por delatores premiados – de negociar no varejo do Congresso a derrubada do impeachment.

Das análises pseudoisentas aos maus conselhos

Cientista político Alberto Carlos Almeida: “Vai, Lula, ser ministro, porra”
Cientista político Alberto Carlos Almeida: “Vai, Lula, ser ministro, porra”

Quem leu com um pouquinho de atenção os artigos escritos à profusão em vários grandes veículos de comunicação, pelo cientista político Alberto Carlos Almeida, nos últimos anos, não tem dúvida. São peças de propaganda do lulopetismo. Em meio a análises aparentemente profundas, as louvaminhas aos feitos do governo de 2003 para cá são óbvias, embora na maioria das vezes misturadas a gráficos e números, o que torna a coisa ainda mais isenta e técnica, na aparência.

Agora, os brasileiros puderam finalmente saber porque Alberto Carlos Almeida escrevia assim. Ele é conselheiro do lulopetismo, conforme ficou demonstrado numa ligação de cinco minutos e quinze segundos no dia 8 de março. A conversa do cientista político com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é esclarecedora. O áudio foi gravado na operação Lava Jato. Lula fala pouco, praticamente só ouve.

Na conversa gravada pela Polícia Federal, Almeida fazia uma avaliação incisiva da situação jurídica de Lula diante da acusação recente de que as “palestras” ministradas por ele foram pagas com dinheiro desviado da Petrobrás por empreiteiras. “Eles já te condenaram. Não tem defesa jurídica que salve. É uma decisão individual do cara de Curitiba (o juiz Sergio Moro)… Quando toma a decisão, acabou. É uma guerra política. O cara lá, o juiz, é um tucano. Formação, Opus Dei… Está na mão dele, da cabeça dele. Vai que ele é maluco o suficiente para tomar uma decisão nessa direção”.

Lula permanece em silêncio, continua atento à fala do conselheiro. Almeida então sugere o que diz considerar ser a única saída para Lula: “Você tem uma coisa na sua mão hoje. É ministério. Usa, caralho. Vai ter porrada? Vão criticar? E daí? Aí você resolve um outro problema. Que é o da governabilidade. Você e Dilma dependem um do outro, cacete”.

Almeida afirma na ligação que fez o que chama de “balão de ensaio” com seus clientes. Na hipótese testada, Lula seria o novo ministro do governo e Antonio Palocci assumiria a Fazenda. “Os caras começaram a me ligar. ‘Vai acontecer isso?’. Cara, acaba a crise. Põe o mercado no bolso e faz o que tem de ser feito. Só o PT tem isso. Os dois quadros que acabam a crise. Vai fazer o quê? Que arranjo vocês estão esperando?”, diz Almeida. Lula se mantém reticente. “Não tô esperando nenhum arranjo, não. Para mim essa hipótese é muito difícil. Na verdade, ela (a presidente Dilma Rousseff) até já ofereceu. Mas eu vou ter conversas hoje. Depois te ligo”, afirma Lula.

Diretor do Instituto Análise, autor de vários livros que analisam a política e o eleitorado brasileiro, Alberto Carlos Almeida tornou-se uma espécie de guru para vários candidatos, aconselhando estratégias e fornecendo base de dados para campanhas eleitorais. Sabemos agora, ele também é um mau conselheiro, além de boca-suja.

O desespero para ter 172 deputados

O número 172 virou uma obsessão para a presidente Dilma Rousseff. Esse é o número de deputados que ela precisa para barrar o impeachment na Câmara dos Deputados. Para isso, o governo iniciou ofensiva para mapear o real apoio nos partidos da base aliada. O “Valor” noticiou que a presidente passou a Semana Santa recebendo presidentes e líderes governistas para pedir apoio, medir o número de dissidentes e prometer atender as demandas de cada partido.

Um dos primeiros movimentos foi demitir o deputado George Hilton (Pros-MG) do Ministério do Esporte na quarta-feira, 23. Hilton estava na cota do PRB, que rompeu com o governo na semana passada e se declarou independente, sem anunciar ainda posição sobre o impeachment. Apegado ao cargo, Hilton migrou para o Pros para ficar na “cota pessoal” de Dilma.

O problema é que Hilton não garantia nem os votos do Pros — dos seis deputados, quatro são a favor da saída de Dilma — e ainda poderia levar o PRB a fechar questão pelo impeachment. O Planalto trabalha para que o partido libere seus 22 deputados para votar como quiserem.
Dilma deve colocar um interino ligado ao PCdoB na Pasta até o impeachment e os secretários indicados pelo PRB serão mantidos. Caso o impeachment seja debelado, a sinalização era de que o partido poderia ser reincorporado à vaga.

O governo está mapeando o papel e número de votos que outros ministros garantem contra o impeachment. A ideia, afirma um governista, é manter só quem tem apoio partidário e respaldo dos parlamentares. Um dos nomes sob lupa é do ministro do Turismo, Henrique Alves (PMDB), indicado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB).

O Planalto avalia que não vale manter um ministro pela ligação com Temer e Cunha, cada vez mais distantes do governo, e que Alves, embora ex-líder do partido e presidente da Câmara, não tem influência entre os deputados da atual legislatura. Até o primo dele, o deputado Walter Alves (PMDB-RN), já se declarou favorável ao rompimento e ao impeachment.

“Mas o Henrique é presidente do PMDB no Rio Grande do Norte e tem trabalhado para evitar que o partido aprove o rompimento na reunião do diretório nacional [dia 29]”, pondera um governista. “Todos os movimentos nos próximos 15 ou 30 dias são muito sensíveis e terão que ser medidos com todas as suas consequências.”

Conforme o “Valor”, a avaliação do ministério e as conversas com os partidos avançariam durante o feriado. Dilma, ao lado do ministro Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo, tenta consolidar uma base sólida de apoio. Já conversou com PSD, PP e PMDB. Nesta semana, terá conversas com PDT, PR e PCdoB.

Segundo apurou o jornal, nestes diálogos, a presidente pede que os dirigentes “falem a verdade” sobre quantos votos seriam contrários ao impeachment. Os números apresentados, contudo, são diferentes dos comentados nos corredores da Câmara.

O PP diz ter 20 votos a favor do governo, mas pepistas afirmam que há, no máximo, 10. No PSD, a conta oficial é de que há empate entre os contrários e os favoráveis, mas a maioria está indecisa. Um dos principais líderes da legenda afiança, porém, que 70% da bancada votaria pela troca de governo. O PMDB garante a Dilma de 15 a 20 votos dos 69 possíveis.

Três pessoas que participaram das conversas afirmam que não há sugestão de cargos, pagamento de emendas ou outras ofertas que não possam ser comentadas em locais públicos, embora a oposição esteja acusando o governo de “operar” no varejo para cooptar parlamentares.