A ministra Daniela Carneiro, aquela do Waguinho, está de saída do Ministério do Turismo já há semanas. Na ocasião de sua nomeação, o União Brasil (UB) afirmara que Daniela havia sido indicada para o cargo na “cota pessoal” de Lula e que, portanto, teria direito a indicar outros ministros mais pela cota da bancada do partido. Agora, o UB faz questão de qualificar a cadeira de Daniela como sua, e portanto precisa ser reposta com outro membro do UB. 

O próprio Waguinho, prefeito de Belford Roxo, deixa o União Brasil (UB) enquanto o acusa de contrabandear bolsonaristas para dentro do governo de Lula da Silva, mas a rusga não impediu que o legatário do Turismo seja do partido: tudo mais constante, será Celso Sabino (UB-PA). A razão para a força do partido é uma lorota. O líder da sigla na Câmara, Elmar Nascimento (UB-BA), conseguiu convencer o governo de que entregaria votos como “base”, um bloco único que o apoiaria em votações importantes.

Mas o União Brasil não é exatamente um partido, mas uma confederação de partidos. Por um lado, há os herdeiros do PSL clássico, como o goiano Waldir Soares, e os herdeiros do bolsonarismo do PSL, como Vitor Hugo. Pelo lado do DEM, há aqueles que vieram da Arena, partido conservador no bipartidarismo da ditadura militar, que chegaram via Partido da Frente Liberal (PFL); bem como os adeptos do centrão que vieram pelo Partido Progressista Reformador (PPR).

Como resultado, as votações têm de ser negociadas caso a caso. Sem representação com cadeiras em ministérios que satisfaça a federação, os votos devem ser contratados, um  parlamentar de cada vez, via emendas. Isso não impede a venda de terrenos na lua: o ministério do Turismo está sendo negociado “de porteira fechada”. Isso é, com a Embratur, cujo orçamento pode ser aumentado como foi o da Codevasf, que subiu de R$ 600 milhões para R$ 1,2 bilhões em 2022. 

O Progressistas (PP) demonstrou interesse em ocupar o ministério de maior orçamento do governo federal, o da Saúde, com o deputado federal licenciado, Doutor Luizinho (PP-RJ). Após uma semana de temporal, a ministra Nísia Trindade conseguiu se manter no cargo. Na quarta-feira, 21, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), se reuniu com Nísia Trindade e manifestou descontentamento com a demora na liberação de emendas para a Saúde. 

Situação semelhante aflige o Ministério das Comunicações. Desde o início do mês, o ministro Juscelino Filho (UB) está envolvido em quase uma dezena de situações imorais e ilegais. O Estadão revelou que o sogro do ministro, o empresário Fernando Fialho, despachava diretamente de seu gabinete no Ministério das Comunicações. Por alguma força, Juscelino não caiu, mas ficou a fritura.

Das Comunicações, querem o órgão com maior orçamento, os Correios. A autarquia é comandada pelo advogado Fabiano Silva, do grupo Prerrogativas. Já a Embratur, pelo ex-deputado Marcelo Freixo. Dois lulistas de primeira hora. Somada às críticas de Lira contra o Ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, a venda de terrenos na lua começa a se parecer com franca hostilidade do Centrão. É paradoxal, hostilizar o governo que se integra. Quem tem o centrão na base, não precisa de oposição.