Está falhando a lei da reciprocidade?

24 março 2014 às 14h21

COMPARTILHAR
Peemedebistas avaliam que seu partido fortaleceu o PT no cenário político goiano e agora não recebe o apoio que é devido

Um pouquinho de história serve para iniciar a análise que segue, do ponto de vista de peemedebistas. Em 2004, Iris Rezende candidatou-se à Prefeitura de Goiânia, depois de duas derrotas seguidas e até certo ponto humilhantes: em 1998, para o governo estadual, quando perdeu para Marconi Perillo (PSDB) e em 2002, para o Senado, quando foi suplantado por Demóstenes Torres (então PFL) e Lúcia Vânia (PSDB).
Naquela quadra, muitos davam Iris como acabado, mas ele venceu o pleito de 2004, suplantando nada menos que o então prefeito Pedro Wilson (PT), depois de uma duríssima disputa em que o epíteto mais leve que os petistas pespegaram no peemedebista foi “coronel”.
Vencida a eleição, Iris agregou valores jovens à sua equipe e com a disposição que lhe é peculiar, fez um governo ousado, inovador, e terminou o mandato com o prestígio nas alturas. Por isso, não precisava de nenhum partido aliado para se reeleger. Mas com a visão de que política não se faz em apenas uma gestão, Iris aliou-se ao PT, que indicou o vice, o médico Paulo Garcia. Os peemedebistas dizem: naquele momento o PT passou de figurante de terceira para uma posição de relevo na cena eleitoral goiana, graças ao PMDB.
Em 2010, Iris renunciou para se candidatar ao governo, deixando a prefeitura para Paulo Garcia. Na eleição municipal de 2012, novamente o PMDB apoiou o PT, dando força total para a reeleição de Paulo, que por sinal nunca negou que seu sucesso nas urnas teve em Iris a principal alavanca. Os peemedebistas lembram que para viabilizar a reeleição de Paulo, o PMDB abriu mão de lançar candidato à Prefeitura de Goiânia, o que nunca tinha acontecido desde a redemocratização.
Lembram, ainda, que o PMDB apoiou o PT em Anápolis, mas os petistas fizeram uma chapa puro sangue (João Gomes, petista, continuou na vice de Gomide), sem dar lugar ao PMDB. Em Aparecida, Maguito Viela, também muito bem avaliado para a reeleição, a qual ganharia “com um pé nas costas”, sem nenhuma necessidade de apoio do PT, deu de graça a vice. Com esse arranjo, das três maiores cidades, o PT ficou com duas (Goiânia e Anápolis) e o PMDB com uma (Aparecida).
E, além disso tudo, dizem os peemedebistas, o PMDB sempre deu seu palanque goiano para o PT no plano federal, em apoio a Lula e a Dilma. Por essas e outras, eles entendem que a aliança tem sido amplamente favorável ao PT.
E aí, eis que chega 2014. E o PT lança um nome, o prefeito Antônio Gomide, para ser cabeça de chapa, quebrando a aliança que vem desde 2008 de forma benevolente por parte do PMDB. Dizem os peemedebistas que a proposta dos petistas agora é: já temos as duas das três maiores cidades goianas graças ao apoio de vocês, então agora queremos que vocês nos apoiem na eleição ao governo.
Está certo isso? Não, dizem, não está. E esgrimem alguns números que comprovam a força do PMDB em relação ao aliado, o que justifica que o partido seja a cabeça de chapa: 60 prefeitos, 25 vice-prefeitos, muito maior número de vereadores, quatro deputados federais, bancada de deputados estaduais quase o dobro que a do PT.
Lembram, ainda, que a pretensão petista até teria uma justificativa se Antônio Gomide estivesse na frente nas pesquisas, mas não é o caso. Quem está na frente, muito na frente, é Iris Rezende. Nesse sentido, o PT estaria baseando apenas na fé, ao acreditar no possível crescimento de Gomide na campanha. Faltariam aos petistas capilaridade, partidos para aliança (o que implica tempo minguado de TV) e nomes para compor chapa viável na proporcional (deputados estaduais e federais).
A argumentação dos peemedebistas tem fundamento. Mas os fatos mostram que petistas não estão dando o peso devido a ela, afinal, sabe como é, política muda, uma hora está assim, outra hora está assado. Ps petistas devem imaginar que as coisas agora não são mais como eram naqueles momentos — 2008, 2010 e 2012.
Então, aguardemos o próximo grande capítulo desse enredo, certamente no dia 29, quando Antônio Gomide anuncia se sai ou não da Prefeitura de Anápolis para disputar o pleito estadual.
Houve pré-acordo para 2014?
Não há como responder de forma categórica à pergunta do entretítulo, simplesmente porque há respostas no sentido negativo e positivo, conforme o lado em que esteja quem a responda. Na campanha pela reeleição de Paulo Garcia à Prefeitura de Goiânia, em 2012, tanto petistas quanto peemedebistas diziam alto e bom som que a aliança não era somente para aquela eleição — afinal, vitoriosa —, e sim, para mais além, para 2014.
De novo a pergunta: em que bases teria sido esse acordo? Aí as vozes já não eram tão evidentes assim. Não se dizia quem apoiaria quem para a cabeça de chapa. E ficava o dito pelo não dito.
O problema é que o tempo passa e 2014 chegou. Na semana passada, o deputado federal Sandro Mabel (PMDB) pôs mais um pouco de lenha na fogueira. Ele disse que o PT tem se esquivado do compromisso firmado com o PMDB para as eleições majoritárias de 2014.
Mabel apresentou nota publicada na época, em um informativo do articulador da pré-campanha de Gomide, deputado federal Rubens Otoni. Em reportagem no Jornal Opção Online na terça-feira, 18, Otoni negou e buscou encerrar o assunto pontuando que “quem tem de responder para ele [Sandro Mabel] é o próprio presidente do PMDB, Samuel Belchior.” “Tanto Samuel Belchior como o próprio Iris Rezende já disseram que não existiu esse acordo, eu não preciso nem responder.”
Sandro Mabel enviou ao Jornal Opção Online e-mail com os textos que segundo ele são a prova do acordo ignorado por petistas. Eis um dos trechos destacados pelo peemedebista, em matéria publicada em 17 de março de 2012: “Camarcio dá garantias ao PMDB para 2014 e tenta evitar crise. O presidente estadual do PT, Valdi Camarcio, garante aos peemedebistas, entre eles Iris Rezende, Adib Elias e Sandro Mabel, que seu partido vai fazer aliança com o PMDB em 2012 e 2014. O dirigente petista diz que seu partido não tem dificuldades em apoiar um nome peemedebista para o Palácio das Esmeraldas daqui e três anos. “Já o fizemos em 2010”, avisa. Valdi Camarcio ressalta que empenho do PT e PMDB deve ser o de obter um bom resultado nas eleições deste ano, o que fortalecerá a aliança entre os dois partidos para as eleições estaduais de 2014. A novela sobre o apoio se arrasta há algum tempo e sempre é motivo de tensão entre os partidos. Rubens Otoni (PT) de vez em quando se comporta como candidato em 2014. Aí, o PMDB reage. A última é que Sandro estaria disposto a disputar a Prefeitura da Capital caso o PT não manifeste logo o apoio para 2014”.
Em ambas as épocas, o PT encontra-se com a necessidade de garantir todo o apoio possível à reeleição, no presente caso, por ora, de Dilma Rousseff.
Como se vê, o tal acordo não foi lavrado em cartório, mas ficou implícito. Mas, afinal, quem deve apoiar quem?