Disputa pelo apoio de prefeitos demonstra força desses como cabos eleitorais
28 agosto 2022 às 00h00
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Desde a campanha eleitoral municipal de 2020 já era possível sentir que os prefeitos eleitos seriam peça-chave para as eleições de 2022. Naquele período já se notava a presença de possíveis candidatos a deputado-federal, senador e governador atuando nas articulações. Houve, naquela campanha, uma disputa velada entre grupos que trabalhavam por projetos eleitorais já com olhos no pleito deste ano. Agora se percebe que, mais do que nunca, os prefeitos se fazem presente neste cabo de guerra.
A movimentação política entre prefeitos no interior nos últimos dias foi intensificada com a definição dos candidatos ao governo de Goiás nas eleições de outubro. A boa avaliação de prefeitos no interior do Estado aumentará o protagonismo dos mandatários enquanto cabos eleitorais para candidatos ao Palácio das Esmeraldas, bem como à Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) e à Câmara Federal. Enquanto cientistas políticos atribuem maior influência de munícipes em eleições proporcionais, já que as campanhas são regionais, por outro lado o impacto de prefeitos na campanha de candidatos majoritários ainda pode ser relevante.
Tornou-se rotineiro a divulgação de manifestação de apoio de prefeitos a candidatos ao governo, senado e deputados estaduais e federais. Por vezes a conta nem fecha – parece ter mais apoiadores do que prefeitos em Goiás. Essa é uma visão que torna evidente guerra por esses apoios. Um candidato quer não só contar com uma aliança com o gestor de um município, mas também minar a força de um adversário naquela região.
Há uma interessante conexão entre os diferentes níveis de poder que cada vez mais se torna relevante para qualquer projeto eleitoral. Desde a redemocratização, e com mais força desde a Constituição de 1988, os prefeitos são responsáveis pela implementação de importantes políticas públicas, como as de saúde e educação. Essas demandas municipais resultam em uma articulação interpartidária entre governadores, deputados estaduais, federais e os prefeitos. Assim, a busca por obras e recursos para os governos locais, refletem em dividendos eleitorais.
Nas eleições municipais se manteve as relações já costumeiras entre deputados e candidatos a prefeito. À medida que os parlamentares apoiam os seus candidatos para os municípios, posteriormente, os prefeitos endossam os seus deputados. A influência da atuação de prefeitos enquanto cabos eleitorais é, historicamente, ao menos no Brasil, maior em eleições proporcionais do que nas majoritárias.
Entretanto, prefeitos bem avaliados têm de alguma maneira um capital político para influenciar os eleitores em menor ou maior grau. Há uma conexão muito forte entre as eleições para deputado federal e prefeito à medida em que os parlamentares apoiam os seus candidatos para os municípios e, posteriormente, os prefeitos endossam os seus deputados. Essas ligações podem ser partidárias ou não, mas é muito forte. Deputados têm apoios consolidados em alguns prefeitos e depois esperam alguma reciprocidade.
O prefeito tem, sim, o papel de aproximar os candidatos dos eleitores, uma vez que os eleitores não conseguem fazer uma conexão direta com os seus representantes. Dada a invisibilidade das campanhas legislativas, os prefeitos têm o papel fundamental de dar visibilidade aos candidatos. Prefeito bem avaliado é protagonista na eleição de deputados e senadores.
Embora afirme que a regra geral é a de que um prefeito bem avaliado consegue transferir parte do prestígio para quem apoia. O eleitor pode gostar do prefeito e não gostar do candidato que o prefeito está apoiando.
Em 2020 houve uma forte conexão entre os que postulavam cargos nos executivos municipais e o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) – este se fez presente nas articulações e construções de palanques municipais. A ligação entre governador e candidatos estava na construção de alianças e na definição dos melhores nomes naquele momento para estar nas urnas. Passo fundamental para arregimentar apoio que lhe será retribuído em 2022.
Entre os 246 municípios goianos, apenas 20 condensam 60% dos 4.7 milhões de eleitores do Estado. Ou seja, mais da metade do eleitorado se concentram em Goiânia (1 milhão), Aparecida de Goiânia (325 mil), Anápolis (280 mil), Rio Verde (138 mil), Luziânia (122 mil), Águas Lindas (102 mil), Trindade (86 mil), Valparaíso (85 mil), Senador Canedo (80 mil), Itumbiara (73 mil), Formosa (73 mil), Catalão (73 mil), Jataí (70 mil), Caldas Novas (63 mil), Planaltina (58 mil), Goianésia (55 mil) Novo Gama (47 mil), Mineiros (46 mil), Santo Antônio do Descoberto (42 mil) e Cidade Ocidental (40 mil).
A lista é das cidades-chave para a estratégia eleitoral deste ano. Mas não se finda aí. As 226 cidades que somam os 40% dos votos também são valorizadas. Lideranças presentes nestas cidades detêm neste período pre-eleitoral uma agenda intensa junto a candidatos a deputados e, claro, governadores. Em uma campanha para o governo do Estado, ter prefeitos e vereadores ao lado é a garantia de que os eleitores daquela cidade estarão mais dispostos e receptivos em relação às propostas do candidato — é sinônimo de palanque amplo.
Contar com o apoio de um número grande de prefeitos e tornar essa aliança pública tem um forte impacto entre os eleitores. A formação de grupos políticos, principalmente entre os que tem mandatos, é sinônimo de força eleitoral.