Dilma toma fôlego e tenta governar
21 novembro 2015 às 13h34
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Presidente quer imprimir uma agenda positiva e vai aparecer mais, retomando viagens regionais e internacionais
Adversários políticos à parte, nenhum cidadão, em sã consciência, quer que o governo de seu país caia na inoperância e na incompetência, como caiu o governo de Dilma Rousseff. Perdem todos quando a economia vai mal. O resultado é o que se vê atualmente no Brasil: inflação em alta, desemprego aumentando, poder aquisitivo das famílias se desmanchando…
Sobre desemprego, por sinal, na sexta-feira, 20, o Ministério do Trabalho anunciou que o país fechou 169.131 postos de trabalho formais em outubro. Foi o pior resultado para outubro desde 1992, quando começou a série histórica do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Entre outros, é um sinal inequívoco de que a condução da economia no Brasil vai de mal a pior.
Na mesma sexta-feira em que se divulgou o desemprego crescente, outra notícia nos dá um alento. Reportagem od jornal “Valor Econômico” conta que Dilma Rousseff pode começar a fazer o que ainda não fez, ou seja, tomar posse do governo de fato. Isso quer dizer tomar decisões, agir, trabalhar, atuar, ou quantos sinônimos se queira dar ao ato de sair do imobilismo. Até agora, a petista mostrou preocupação apenas com o medo do impeachment.
As coisas podem começar a mudar, segundo a publicação. Com a imprensa focada no presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, está afastado, pelo menos temporariamente, o risco de impeachment. Com isso, Dilma decidiu retomar as rédeas do segundo mandato. Na verdade, como não tem o que anunciar, ela pretende mostrar que o governo está presente na vida dos brasileiros.
O jornal registra que a partir de agora a presidente vai intensificar a exposição pública em agendas positivas, retomar viagens regionais e internacionais, enquanto age para tentar recuperar a economia. A avaliação interna no Palácio do Planalto, contudo, é de que se a economia não ganhar fôlego, a crise política não estancará.
Segundo o diário, auxiliares da presidente avaliam que o processo de impeachment deu uma arrefecida no Congresso Nacional, embora a crise política não tenha sido debelada. Comparam o governo a um “paciente que estabilizou”: respira sem aparelhos, mas “não anda nem se alimenta sozinho”.
O governo se mostra animado e comemora a vitória apertada no Congresso com a manutenção de vetos presidenciais sensíveis, como o aumento salarial aos servidores do Judiciário e a vinculação do reajuste do salário mínimo aos benefícios do INSS — a derrubada de ambos geraria despesa extra de R$ 37 bilhões até 2019. Mais foi uma vitória obtida no limite, por seis votos.
Com essa vitória, a avaliação é que o calor da crise baixou, mas a base governista no Congresso continua escorregadia. Em que pese isso, reclama-se que Dilma ainda não fez nenhum sinal efetivo para afinar a relação com os aliados. Aí, a personalidade da presidente fala mais alto, porque foi considerada desastrosa sua decisão de cancelar jantar com a bancada do PDT no Palácio da Alvorada na quarta-feira.
A presidente não compareceu, não pediu desculpas e ainda pediu que os deputados voltassem ao Congresso para a sessão de análise dos vetos, anota o jornal. E era uma agenda que vinha sendo adiada por um mês. “Repercutiu mal em outras bancadas, acham que foi só a crise esfriar e o governo voltou a ser arrogante”, disse um auxiliar de Dilma, segundo o “Valor”.
Com ou sem tropeço, o governo sentiu que dá para Dilma se “desentocar” de Brasília a partir de agora, de forma a alavancar o segundo mandato. Desde quarta-feira, 18, ela participou de quatro eventos públicos. Primeiro, abriu a 2ª Conferência Global de Alto Nível sobre Segurança do Trânsito, com delegações de mais de 120 países, onde ressaltou que o uso da bicicleta reduz emissões de CO2 e citou avanços brasileiros, como a Lei Seca.
Registra o “Valor”: Na quinta-feira, ela abriu o 20º Congresso Mundial da Consumers International, um evento das Nações Unidas sobre consumo mundial. No fim da manhã, comandou solenidade com comunidades quilombolas pelo Dia Nacional da Consciência Negra, onde embalou no colo a bebê de uma beneficiária. À tarde, sancionou a lei que instituiu o Programa de Proteção ao Emprego (PPE), que em cinco meses de vigência, preservou 30,2 mil empregos, segundo o Ministério do Trabalho.
Um assessor palaciano informou ao jornal que a presidente está mostrando que tem governo atuando na segurança no trânsito, nos direitos do consumidor, na preservação dos empregos, ressaltando, porém, que o esforço será inócuo sem a reação da economia. A fonte disse ao “Valor” o que os agentes políticos e econômicos estão “carecas” de saber: o governo precisa dar sinais efetivos de controle da inflação, de futura queda dos juros, de retomada da confiança dos investidores.
Viagens
Segundo o “Valor”, Dilma Rousseff também continuará viajando. No final do mês, ela vai ao Japão e ao Vietnã, depois chega a Paris, na França, onde participa do encontro de cúpula sobre alterações climáticas (CoP21), ao lado de mais de 100 chefes de Estado e de governo. Os brasileiros ficamos apreensivos ou contentes por saber que, apesar dos atentados terroristas, Dilma não cancelará a participação no evento?
O upgrade governamental vai ter foco no plano nacional também. A presidente, diz a publicação, manterá o foco no Minha Casa, Minha Vida. Lembra que em mês e meio, ela já entregou casas do programa em Barreiras (BA), Nova Friburgo (RJ) e no Paranoá, no entorno de Brasília. E inaugurou um laboratório de biotecnologia em Piracicaba (SP), participou de evento do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) em São Bernardo do Campo (SP), lançou a pedra fundamental de uma fábrica de celulose em Três Lagoas (MS) e um trecho do Canal do Sertão Alagoano (AL). Ufa!
Segundo o jornal, a presidente também tenta driblar o noticiário negativo. Além da ameaça do impedimento legal e dos desdobramentos das denúncias de corrupção, somente nos últimos 30 dias Dilma enfrentou: o julgamento das “pedaladas fiscais” de 2014 no Tribunal de Contas da União (TCU), que rejeitou as contas de seu governo, a revisão da meta fiscal deste ano para um déficit de R$ 119 bilhões.
E aí veio a tremenda tragédia ambiental em Minas Gerais, com o rompimento de barragens da mineradora Samarco em Mariana. Dilma demorou uma semana a se resolver aparecer no local, pelo menos por cima, num sobrevvo com o governador Fernando Pimentel. Isso pegou mal, a oposição explorou a demora.
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) criticou a decisão da petista de fazer um sobrevoo sobre a área atingida pelo “mar de lama”, sete dias após a tragédia. O tucano afirmou que era lamentável que a presidente não tenha sequer descido na cidade para ouvir os moradores e conhecer de perto a situação.
“Triste ver a pouca solidariedade que a presidente demonstrou em relação às vítimas da tragédia que ocorreu em Mariana”, disse Aécio, que governou o Estado de 2003 a 2010. “Ao decidir ir a Minas somente uma semana depois do desastre e depois das muitas críticas à sua postura de indiferença, a presidente deixa uma marca pessoal que não será esquecida pelos mineiros.”
Aécio não deixa de ter razão. Mas, pensando bem, em se tratando de Dilma, uma semana até que não foi tanto assim.