Desmoralizado, PT pode se ver obrigado a apoiar Ciro em 2018
15 outubro 2016 às 11h11
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Confirmada nas urnas a derrocada eleitoral do partido, dirigentes petistas admitem apoiar candidato de outra sigla
O PT não terá como lançar um nome próprio para a disputa à Presidência da República em 2018. É o que os próprios dirigentes petistas admitem, conforme reportagem da Folha de sexta-feira, 14. Esses dirigentes do partido e do instituto Lula reconheceram a possibilidade de lançamento de um candidato de outra sigla para a próxima disputa presidencial, especialmente se nascido de uma frente ampla.
O acolhimento à tese de apoiar um não petista se deu ao comentar entrevista do presidente do PDT, Carlos Lupi, à própria Folha na semana passada, quando o pedetista disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estaria aberto a um nome de outro partido.
Segundo a reportagem, os petistas reconheceram que faz sentido a informação de Lupi e um colaborador de Lula chegou a lembrar que o plano original do ex-presidente era de lançar a candidatura do governador Eduardo Campos (PE-PSB) em 2018, morto em um acidente aéreo durante a campanha eleitoral de 2014.
Um dos nomes admitidos como possível para ter o apoio do PT em 2018 é o do pedetista Ciro Gomes. Ciro, por sinal, que sabe que a política não admite vácuo, tem se manifestado nesse sentido. Há algumas semanas afirmou que entrará na disputa pela Presidência da República em 2018 caso Lula não seja candidato. “Lula é maior do que eu”, disse ele, que não vê sentido em dividir os votos da esquerda.
Nessa perspectiva, para Ciro, ser vice de Lula está fora de questão, por enquanto.
À reportagem da Folha, o presidente do PT de São Paulo, Paulo Fiorilo, afirmou que a hipótese Ciro é possível, mas “ainda é cedo” para definições.
Outro dirigente petista repete a ideia de prematuridade da discussão. Mesmo admitindo a tendência de lançamento de nome fora do PT, esse petista reclama do tom adotado por Lupi. O pedetista disse que o PT tem que “cair na real” e recuar para se dedicar a sua restruturação.
Na verdade, Lupi disse mais. Segundo ele, mais que “cair na real”, o PT terá apoiar a candidatura de Ciro Gomes à Presidência em 2018. O dirigente do PDT fez um balanço do primeiro turno das eleições municipais e afirmou que seu partido “está maior que o PT” e mandou um recado: “A candidatura de Ciro é irreversível”.
O presidente do PDT disse que “mais do que o PT, a grande derrotada da eleição é a Marina Silva”, cujo partido, a Rede, teve fraco desempenho na disputa. “Cadê a Marina? Cadê a Rede?”
Ainda segundo Lupi, Ciro está “todo feliz” e tem se dedicado às campanhas no segundo turno, sendo Osasco e Ribeirão Preto os principais Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o PDT elegeu 332 prefeitos no Brasil, crescimento de quase 10% em comparação a 2012. O PT elegeu 255 prefeitos neste primeiro turno. O PDT elegeu 3.749 vereadores, contra os 2.797 do PT.
Lupi rechaçou ainda a tese de que Ciro não tem visibilidade nacional para a corrida presidencial. “Ele concorreu há 14 anos. É nacionalista e relativamente conhecido.”
Ciro Gomes tem buscado uma aproximação com o eleitorado do PT, mas ao seu estilo “deixa que eu chuto”. Há poucos dias ele disse que quem está em final de ciclo é Lula, ao ser perguntado se acreditava que depois do resultado das eleições municipais o PT iria acabar.
Para Ciro, Lula, de quem foi ministro da Integração Nacional, adotou práticas equivocadas. “O Lula descolou-se da realidade. Começou a brincar de Deus, a se autorizar a praticar todo o tipo de coisas intoleráveis.”
Se a tese Ciro Gomes é aceita entre os dirigentes petistas, por reconhecerem que a derrocada moral do partido impactou fortemente no resultado da eleição, diminuindo a sigla, eles reclamam da rudeza de Carlos Lupi. Segundo eles, Lupi não precisava ser tão explícito, já que prega a unificação da esquerda.
Para os petistas, falar a verdade até pode, e a verdade é que o PT se estiolou na corrupção e na incompetência, o que levou à derrocada eleitoral, como a perda da Prefeitura de São Paulo com Fernando Haddad no primeiro turno. Mas que se diga essa verdade de forma bem suave, por favor.
Temer diz o óbvio
A Constituição e as leis devem ser respeitadas. Sob essa égide, o presidente Michel Temer (PMDB) disse o óbvio ao admitir que deixará o governo caso o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) casse a chapa formada por ele e a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). “Se decorridos todos os recursos processuais que serão cabíveis nesse caso e o judiciário decidir que a chapa deva ser cassada, você sabe mais do que ninguém que eu prego a reconstitucionalização do país. Eu jamais me insurgiria contra uma decisão definitiva do poder judiciário”, disse o peemedebista em entrevista à jornalista Miriam Leitão, no canal de TV por assinatura ‘GloboNews’, na quinta-feira.
Temer disse que tem sustentado, ele acredita que com sucesso, a ideia de que, examinando a Constituição, são diferentes a figura do Presidente da República e a figura do Vice-Presidente. “Aliás, no Presidencialismo, a única razão para a existência do vice-presidente é que se houver algum problema institucional o vice-presidente assume”, completou.
O presidente descartou a candidatura à reeleição em 2018. “Pela enésima vez, não [sou candidato]”, respondeu após ser questionado por Miriam Leitão. “Eu quero colocar o país nos trilhos, não vou dizer que vou colocar o país como segunda economia do mundo, mas se colocar o país nos trilhos eu já me dou por satisfeitíssimo”, afirmou no fim do programa.
Ignorando pesquisa recente que apontou baixa aprovação de seu governo, o peemedebista disse não se incomodar com popularidade. “Não me incomodo com popularidade. Se lá na frente muitos milhões de desempregados me aplaudirem eu me dou por satisfeito”, respondeu.
Michel Temer, no entanto, demonstrou impaciência quando questionado sobre citações de seu nome em delações dentro da Operação Lava Jato. “Já falei e vou falar com você agora, para que todos nos ouçam”, rebateu e negou as acusações do ex-senador Delcídio do Amaral, de que ele teria indicado Nestor Cerveró à uma diretoria na petroleira, e do ex-presidente da Transpetro Sergio Machado, de que Temer teria pedido recursos para campanha eleitoral de um correligionário.
O que Michel Temer afirmou nada mais é que o preceito constitucional. Dilma Rousseff caiu pela força maior da legislação. Ele assumiu o lugar por essa mesma força. Se o TSE cassar a chapa Dilma-Temer, os preceitos legais devem ser seguidos.
Nada mais que o óbvio, mas de vez em quando é bom que o óbvio seja repetido. Parece ser o caso agora, até para que os que acusam golpe na saída de Dilma e gritam “Fora, Temer” se deem conta de que a Constituição foi respeitada no caso do impeachment. Simples assim.