Decisões impopulares salvam vidas em tempos de crise
28 março 2021 às 00h00
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As medidas que restringem atividades econômicas em Goiás enfrentaram resistência, mas preservam a vida, prova disso é que conseguiu frear a elevada taxa de contaminação do coronavírus
Tomadas de decisões rápidas e efetivas no setor público são um desafio até mesmo nos melhores cenários, enfrentando uma pandemia, as proporções são desconhecidas. Quando o único meio possível de se proteger da Covid-19 é não se infectar, não dá para fugir de medidas impopulares. O decreto que permitiu o fechamento das atividades econômicas não essenciais em Goiás pelo período de 14 dias foi um gesto de liderança, diante do negacionismo que tenta passar por cima da ciência e do bom senso. A medida já permite com que os goianos vislumbrem a retomada do mínimo possível do controle da pandemia — freou a elevada taxa de contaminação e a demanda por leitos de UTI.
Foram semanas lidando com demandas de leitos para Covid-19 bem acima da capacidade que os hospitais de Goiás tinham a ofertar. O número de infectados, de complicações e internações apresentou um aumento exponencial no Estado e em todo território nacional. Embora ainda estejamos com ocupação de UTIs acima de 90%, há um sinal de que a transmissão da doença está freando, e não há outro motivo senão o fechamento promovido nas últimas duas semanas — fruto de uma medida impopular, mas essencial para o momento.
Promover o isolamento por meio de decreto restritivo é uma atitude que qualquer gestor teme tomar em razão dos danos políticos que certamente enfrentará. O governador Ronaldo Caiado (DEM) demonstrou coragem ao decidir pelo fechamento três vezes — duas em 2020 e no começo de março deste ano. Há de se reconhecer que foram essas medidas que permitiram o mínimo controle que se pode ter ao enfrentar uma pandemia da magnitude que vivenciamos.
Quando vidas estão em risco se fazem necessárias decisões difíceis. Ao publicar o decreto que ficou conhecido de 14 por 14 (modelo que promove a suspensão das atividades econômicas por duas semanas, seguida de uma reabertura por igual período), Ronaldo Caiado buscou coordenar uma ação entre prefeitos de todos os municípios goianos. Deu certo, embora alguns gestores municipais tenham preferido optar por não dividir o peso político da decisão impopular com o governador — seja pela politização do assunto, por pressão de setores econômicos organizados ou mesmo por covardia.
À frente da tomada de uma decisão impopular, mas que visa a preservação das vidas, Ronaldo Caiado também foi assertivo em implementar um discurso que foi reafirmado pelo decreto de restrições. Embora o iminente colapso da saúde estivesse estampado em todos os noticiários, havia uma tendência geral em ignorar toda a problemática trazida pela segunda onda da pandemia. De maneira geral, todos insistiam em tocar a vida como se a doença estivesse sob controle. Nem mesmo centenas de mortes diárias, resultando em filas de carros de funerárias em um congestionamento de sepultamentos, teve a capacidade de fazer entender que estamos em meio ao pior momento da crise sanitária. Assim, uma decisão extrema de fechamento, embora impopular, resulta no entendimento da população em relação ao tamanho da gravidade que a pandemia atingiu e de que é preciso ter alguém que lidere e coordene as medidas.
Mesmo sem uma adesão ampla, o decreto 14 por 14 foi a única medida de proteção possível para o momento, ou seja, evitar (ou pelo menos reduzir) a contaminação. Embora haja a insistência em alguns em sair desnecessariamente de casa, é perceptível que os goianos estão mais atentos ao distanciamento social, com as práticas de higiene e uso de máscara — observa-se que muitos têm seguido a recomendação de usar duas. Este é o resultado que as medidas promovidas por Ronaldo Caiado conseguiram revelar a dimensão do problema e, com equilíbrio, demonstrou o que se previa caso não se buscasse retomar o controle.
No decorrer desta semana termina o primeiro ciclo do fechamento 14 por 14. Numa demonstração de liderança, o governador afirmou que, conforme o combinado, as atividades não essenciais que se mantiveram fechadas nas últimas duas semanas voltarão a funcionar. Normas para nortear as medidas de proteção para não propagação da doença serão impostas. Uma busca pelo equilíbrio que prima pela segurança da vida.
Não me vejo enganado ao crer que das tantas mudanças que o pós-crise promoverá uma delas será o aumento da consciência social a respeito das lideranças públicas. Então, aqueles que tiveram a coragem para agir no enfrentamento à pandemia, sem temer os riscos da impopularidade ao colocar o cuidado com a vida à frente dos votos e pressões econômicas, certamente receberão o aplauso público.