Ex-presidente sabe que o governo de sua pupila acabou sem ter começado e, nesse caso, torce para que ela saia o quanto antes para ele assumir o papel de oposição

Lula em comício nos Arcos da Lapa, no Rio de Janeiro: falando aos convertidos, enquanto sua pupila era derrotada na comissão do impeachment na Câmara Federal | Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula
Lula em comício nos Arcos da Lapa, no Rio de Janeiro: falando aos convertidos, enquanto sua pupila era derrotada na comissão do impeachment na Câmara Federal | Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula

Para Lula da Silva, não importa o resultado da votação do impeachment neste domingo. Passou a não importar desde a segunda-feira, 11, dia em que a comissão do impeachment na Câmara Federal votou e aprovou o relatório do deputado Jovair Arantes (PTB), pela admissibilidade do processo.

Naquele dia mesmo, Lula realizou na cidade do Rio de Janeiro seu primeiro grande comício da campanha à Presidência para 2018. O ex-metalúrgico repetiu o que sempre fez desde que o PT ganhou o poder: antecipou a campanha. Desta vez, com quase três anos de antecedência.

Lula já tem Dilma como perdida, mesmo que tenha dado a im­pressão de que não, ao montar aquele bunker no luxuoso hotel de Brasília para, escancaradamente, comprar parlamentares em favor do voto contra a admissibilidade do pro­cesso de impeachment. Sin­to­má­tico que Lula tenha deixado Brasília no momento da votação, com destino ao Rio, para discursar a uma claque de sindicalistas e militantes filiados ou não.

Foi um grande comício (pelo que consta, com 50 mil pessoas), nos Arcos da Lapa, com direito à presença de artistas que sempre estiveram com ele, como Chico Buarque. Artistas que, não interessa o crime que Lula e o PT tenham cometido, sempre estarão com ele.

Lula foi fazer comício para os convertidos porque está tratando de sua sobrevivência política. Ele sabe que o governo Dilma fracassou, mes­mo que o impeachment não passe – e pode passar na Câmara, mas não no Senado –, Dilma perdeu as mínimas condições de governar.
Para a derrubada do impeachment, custaria muito caro ao governo, que se veria sem condições de se sustentar politicamente, uma vez que teria de continuar negociando e dando cargos e verbas para uma gama maior de partidecos políticos. Legendas cujos integrantes são estrela do chamado baixo clero, gente que tem uma sede insaciável pelas benesses governamentais.

Imagine-se a continuidade do governo com uma presidente fraca, sem base no Parlamento, desacreditada pelo empresariado, sem ne­nhuma credibilidade com a parcela da sociedade que precisa da economia funcionando. Não vai dar.

O governo Dilma acabou de fato. Para Lula e para o PT é me­lhor que acabe também de direito o quanto antes. E na verdade, os próprios petistas de alto coturno, co­meçando por Dilma, sim ela, e Lula, mas também gente como os mi­nistros Jaques Wagner, Edinho Silva e Aloizio Mercadante, o líder do governo na Câmara, Josué Guimarães…

Essa gente tem informações reais sobre a situação, faz jogo de cena na resistência ao impeachment, mas sabe que acabou. Ao contrário de uma enorme massa de manobra, alguns recrutados em movimentos sociais, em sindicatos, que nas últimas semanas têm engrossado atos sob o grito de “não vai ter golpe”.

Claro que não vai ter golpe, porque impeachment não é golpe, está na Constituição e o processo tem sido conduzido sob a forma da lei, com Dilma tendo todas as chances de defesa. O problema é que ela não consegue se defender. O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, tem sido cada vez mais patético nas tentativas de defesa, invariavelmente perdendo todas.

Mas, voltemos a Lula. Ele já declarou que se o impeachment acontecer, vai para rua. Claro, na rua, como opositor, ele terá dois anos e meio para fazer campanha para 2018. Serão dois anos e meio com Lula e sua trupe fazendo o que sempre fizeram com competência: barulho.

Um governo de Michel Temer não será fácil. Primeiro, é preciso desarmar o desgoverno de Dilma, para depois começar a construir algo. No início dessa nova fase, as dificuldades serão imensas. Um campo fertilíssimo para Lula fazer barulho-campanha.

Arrependimento
Com gente de sua estrita confiança, Lula já falou várias vezes que se arrepende de ter alçado Dilma ao posto de presidente. Para ele, ela foi uma total decepção. Mas o mal já foi feito. Dilma é um “encosto”, um peso morto em suas costas, mas que pesa ainda mais aos brasileiros a sofrerem as consequências de desemprego, inflação, perda de renda. Mas para efeito externo, Lula continua otimista, dizendo que o impeachment será derrotado.

O ex-presidente tenta se associar a Dilma para tranquilizar a população. Uma declaração que ele fez nas redes sociais aos correligionários na semana passada é uma completa confissão de fracasso da gestão de sua pupila. “Derrotado o impeachment, já na segunda-feira, independente de cargos, estarei empenhado, junto com a presidenta Dilma, para que o Brasil tenha um novo modo de governar. Nessa próxima etapa, vou usar minha experiência de ex-presidente para ajudar na reconstrução do diálogo e unir o país. O Brasil tem plenas condições de voltar a crescer, gerando empregos e distribuindo renda.”

Lula frisou ainda que só o diálogo poderá salvar o país. E como mestre em mistificação que ele é, até admite problemas nos governos petistas, minimizando-os como coisas poucas, uma forma de não assumir culpa por eles.

“É verdade que o Brasil e o mundo enfrentam hoje uma situação difícil na economia. É verdade que o governo tem falhas, que precisam ser corrigidas. Mas nós já fomos capazes de superar grandes desafios e saberemos fazer isso mais uma vez. Todos nós sabemos qual é o caminho. É com responsabilidade, com maturidade, respeitando todas as forças políticas, os agentes econômicos e os movimentos sociais.”

A derrocada da economia brasileira é indicativo claro de que os go­vernos petistas não agiram com responsabilidade, com maturidade, não respeitaram as forças políticas, nem os agentes econômicos. Já os movimentos sociais amestrados, como UNE, MST e sindicatos pelegos, esses tiveram benesses fartas.