Com a iminência do impeachment, tanto o Palácio do Planalto quanto o PMDB, por intermédio do novo presidente, Romero Jucá, adotam a estratégia de oferecer cargos a parlamentares

Tulipa Royal Hotel: onde Lula instalou seu bunker para comprar parlamentares
Tulipa Royal Hotel: onde Lula instalou seu bunker para comprar parlamentares

Os governos petistas reduziram a política nacional ao mais puro balcão de negócios – melhor seria dizer negociatas. Agora, com a iminência do impeachment de Dilma Rousseff, o escândalo foi escancarado. Os operadores do Palácio do Planalto não fazem nenhuma questão de esconder o jogo de aliciamento a parlamentares, seja liberando emendas, seja oferecendo cargos para quem não votar pelo impeachment.

O ministro Jaques Wagner (PT-BA) até procura rebater os críticos, num jogo de palavras que soa oco e sem a mínima credibilidade: “Não há compra de votos. Emendas fazem parte do orçamento impositivo. Tentam constranger a liberdade de opinião e de voto dos que veem no impeachment uma causa perdida e artificial”.

Então para “não comprar votos”, o ex-presidente Lula da Silva, na articulação do não impeachment, montou um bunker na suíte presidencial do Royal Tulip Brasília Alvorada, hotel vizinho do Palácio do Alvorada e que consta ser o mais caro de Brasília. Ele chega de jatinho (pago não se sabe por quem), desembarca dentro do hangar com portas lacradas e segue em carro blindado com vidros fumê.

Como postou o jornalista Hugo Studart (que mora em Brasília) em seu Facebook, Lula entra pela garagem do hotel e segue por um elevador privativo até a suíte. “Há guarita, túnel, outra guarita e seguranças, tudo para garantir o bem-estar de um governante. Lula não sai ao jardim, nem mesmo à varanda.”

Lula reúne-se com deputados dispostos a vender o voto e com ministros em seu apartamento ou em uma sala do hotel para conversas reservadas. O apartamento e a sala já passaram por vistorias contra grampos ambientais ou telefônicos.

O que Lula tem a oferecer são cargos em todos os escalões nos ministérios e nos Estados e dinheiro vivo. Na sexta-feira, conforme o jornalista Leandro Mazzini, da coluna Esplanada, o Palácio já teria cerca 200 votos contra o impeachment. Deputados estariam se vendendo por R$ 1 milhão em dinheiro vivo para votar pró-Dilma, e R$ 500 mil para faltar à votação. Berzoini ajuda Lula nos convencimentos. A estratégia para justificar voto perante eleitores: deputados vendidos vão fazer discurso da necessidade de novas eleições, ou seja, Dilma fica agora e depois se antecipam as eleições. .

Mesma mercadoria

Senador Romero Jucá | Foto: Lula Marques/Agência PT
Senador Romero Jucá | Foto: Lula Marques/Agência PT

O interessante nesse jogo é que o PMDB, que acabou de apear da base governista, também adotou a estratégia de aliciamento. A mercadoria é a mesmo: cargos no futuro governo de Michel Temer, se o impeachment passar e o vice-presidente assumir o posto de Dilma. Nos bastidores não se diz, pelo menos por enquanto, que é oferecido papel-moeda sonante.
O operador peemedebista é o novo presidente da sigla, senador Romero Jucá (RR), que assumiu no lugar do vice-presidente da República, Michel Temer. Jucá (RR) tem as funções de porta-voz e de articulador político de uma eventual gestão do peemedebista.

O homem tem larga experiência nessa seara de negociação. Ex-líder dos governos Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, Jucá é o principal operador do grupo de Temer na busca pelos 342 votos necessários para a aprovação do pedido de impeachment da petista no plenário da Câmara.

Reportagem de “Veja” na sexta-feira, 8, conta que Jucá já negocia espaços e cargos num futuro governo Temer com partidos como PP, PR, PSD e PTB — os mesmos que são alvo das investidas do Palácio do Planalto para evitar o afastamento de Dilma.
Peemedebistas relatam que o senador usa o mesmo toma lá dá cá do governo, com uma diferença fundamental lastreada na relação custo-benefício comparativamente ao curto prazo e médio prazo: coloca aos interlocutores se querem ficar no cargo de um governo que pode cair em breve ou preferem aderir a Temer num governo que vai ficar pelos próximos dois anos e meio.

Jucá é rápido no jogo da sedução. Na quarta-feira, 6, o presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), anunciou que o partido seguiria com Dilma. No mesmo dia, rapidinho, Jucá se reuniu com o dirigente pepista para tentar convencê-lo do contrário.
Ato contínuo, o peemedebista se encontrou com o presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN); o líder da legenda no Senado, Ronaldo Caiado (GO); e o da Câmara, Pauderney Avelino (AM). Deles, ou­viu a cobrança por um maior protagonismo do PMDB no impe­achment.

Segundo “Ve­ja”, também é parte da estratégia de Jucá uma aproximação com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), responsável por iniciar o processo de afastamento de Dilma e hoje o maior adversário do governo petista.

Missões
A licença de Michel Temer como presidente do PMDB para a assunção de Jucá também teve como objetivo atribuir duas missões ao senador: escudo e contraponto a Lula. Explica-se: Temer precisa ser defendido dos ataques que tem sofrido de integrantes da cúpula do PT e do Planalto, desde que o partido desembarcou da base governista, no mês passado.

A segunda missão, considerada internamente como a mais relevante, é fazer o contraponto às ofensivas de Lula da Silva, que tem atuado diária e escancaradamente junto à base aliada para tentar conter o avanço do processo de afastamento de Dilma. Lula trabalha com a lista de cargos na mão, como se fosse um ministro de direito, cargo que não pôde assumir.

Obviamente, o Planalto e os ministros do PMDB que, mesmo após a decisão pelo rompimento com o governo, permanecem no cargo — como a goiana-tocantinense Kátia Abreu, da Agricultura —, estão monitorando os movimentos de Romero Jucá. O senador foi alvo de críticas em reunião entre esses peemedebistas, realizada na quinta-feira, 7, na sede do Ministério de Ciência e Tecnologia. “Jucá está ficando louco”, foi uma das avaliações, segundo relatos.

Para os peemedebistas que mantêm apoio a Dilma, o partido pode entregar até 25 votos contra o impeachment – a bancada do PMDB soma 77 deputados.