A pesquisa Ipec divulgada na última semana demonstrou que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não está mais arrebatando paixões como em seus primeiros mandatos. O governo petista é bom ou ótimo para 41% dos brasileiros. O mesmo levantamento aponta que 24% dizem que o governo é ruim ou péssimo, e 30% avaliam como regular. O levantamento ainda mostra que o modo de governar do presidente tem a aprovação da maioria da população (57%). E cerca de um terço dos brasileiros (35%) não concorda. Os números revelam uma mudança no cenário político brasileiro, onde as pessoas estão mais exigentes e críticas em relação aos governantes.

Mesmo com um primeiro mês de governo petista marcado por protestos intensos, que incluíram atos extremistas de direita que vandalizaram prédios públicos na Praça dos Três Poderes em Brasília, os números permaneceram estáveis quando comparados ao período de campanha eleitoral. Isso sugere que tanto os lulistas quanto os bolsonaristas estão mantendo-se fiéis aos seus respectivos candidatos e não estão mudando de lado. Portanto, o eleitorado continua dividido como na eleição de outubro passado.

Durante a campanha eleitoral, tornou-se evidente a dificuldade de Lula e Jair Bolsonaro (PL) em expandir seus eleitorados além de suas respectivas bases. A partir do segundo semestre de 2022, a situação se estabilizou, com os dois adversários mantendo desempenhos semelhantes, com uma vantagem leve para o petista, sem grandes variações entre as pesquisas.

Hoje, governando um país polarizado, e eleito com não mais do que 51% dos votos, Lula tem um espaço apertado para crescer – como na campanha eleitoral. Embora a atual gestão do presidente da República esteja sendo avaliada como ótima ou boa por cerca 41% dos brasileiros, é importante lembrar que estamos no terceiro mês de mandato petista – que faz forte choque de gestão e tem como régua de comparação o governo antecessor que ainda enfrenta muitos desgastes políticos

É importante destacar que Lula ainda é um líder popular, com forte apelo junto às classes mais pobres da população e aos candidatos do Nordeste. Isso explica porque parte dos eleitores que se declaram como “regulares” na avaliação do governo de Lula ainda aprovam sua maneira de governar. No entanto, essa popularidade não é tão alta quanto nos dois mandatos anteriores, possivelmente devido ao desgaste causado pela Operação Lava-Jato e pelos casos de corrupção envolvendo membros do PT.

Em razão desse fato, o dado mais avaliado pelos analistas e por políticos é que Lula perde para ele mesmo se compararmos com 2003 e 2007, quando iniciava seus outros governos. Naquele momento, a aprovação foi de 51% e 49%, respectivamente.

Apesar disso, é positivo notar que Lula busca quebrar um pouco da resistência que existe contra ele dentro do espectro bolsonarismo. A pesquisa do Ipec mostra que entre aqueles que dizem ter votado no ex-presidente Bolsonaro, 36% avaliam agora o governo de Lula como regular, e 54% reprovam. Isso é um sinal de que o petista está buscando uma postura conciliadora, o que é importante em um país tão polarizado como o Brasil.

A pesquisa mostra que o Nordeste, única região onde Lula foi o mais votado no segundo turno contra Bolsonaro, é o lugar em que o petista tem seu maior porcentual de aprovação: 53% de ótimo ou bom. Já a maior rejeição ao governo está no Centro-Oeste e no Norte: são 31% os que reprovam a atual administração. No Sudeste, onde vivem quatro em cada dez brasileiros, 36% têm percepções positivas, contra 26% que pensam o oposto.

Comparação entre governos

Comparando a aprovação de Lula com seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), há uma significativa vantagem para o petista. O ex-presidente tinha aprovação total de 34% em março de 2019. É importante destacar que as circunstâncias políticas e econômicas são diferentes entre o início dos dois governos.

Lula já tinha uma base eleitoral consolidada e sua popularidade se manteve alta ao longo dos dois mandatos anteriores. Já Bolsonaro foi eleito com uma campanha que explorou o descontentamento da população com a política tradicional e as denúncias de corrupção que envolviam a esquerda.

Por outro lado, Bolsonaro tem uma base eleitoral mais enraizada na classe média e entre os consumidores conservadores. Sua popularidade tem sido impactada por uma série de crises políticas e institucionais, como as denúncias de corrupção envolvendo seus filhos e os constantes embates com outros poderes, como o Judiciário e o Legislativo.

Comunismo e evangélicos

Um aspecto preocupante das pesquisas recentes é o crescimento da preocupação com o comunismo. Segundo o Ipec, 44% dos concordaram com a afirmação de que “o Brasil corre o risco de virar um país comunista”.

Essa estratégia de difundir a ideia de que o país está em risco de se tornar comunista pode ter um efeito negativo sobre a democracia brasileira, gerando um clima de polarização e de intolerância política.

Entre os evangélicos brasileiros, 58% dizem não confiar no presidente. É um número muito próximo dos que rejeitaram o petista na última eleição — em torno de 60% dos evangélicos votaram em Jair Bolsonaro no segundo turno. No segmento dos católicos a aprovação do petista é maior. 45% deste grupo aprova o governo, enquanto 21% desaprova.