Antipetismo une eleitores de Anápolis em ‘voto útil’ para Márcio Corrêa

21 julho 2024 às 00h00

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Nesta segunda-feira, 15, o Jornal Opção divulgou pesquisa eleitoral feita por seu instituto, em que ficou clara a estagnação do pré-candidato do PT, Antônio Gomide, e o crescimento do pré-candidato do PL, Márcio Corrêa. Mais ainda, ficou demonstrado que os demais candidatos não estão sendo analisados pelo eleitorado anapolino. A análise destes fatos indica que o eleitor pode estar optando pelo “voto útil” contra o PT, nesta que é uma das cidades mais conservadoras de Goiás.
Na série histórica do Opção Pesquisas, em comparação com números aferidos em 20 de maio, pode-se perceber o crescimento de Corrêa, que saiu de 24% para 32,5%; Gomide oscilou dentro da margem de erro, totalizando 38,3% das intenções de votos. Os crescimento de um e estagnação de outro são confirmados por dois outros institutos — Instituto Voga e Paraná Pesquisas, que também publicaram nesta semana seus levantamentos feitos em Anápolis.
O que explica o fenômeno? Primeiro, o contexto. Historicamente, Anápolis gosta da renovação política. O atual prefeito Roberto Naves (Republicanos) foi eleito em oposição ao prefeito antecessor, Antônio Gomide, que fez oposição ao seu precursor, Pedro Sahium (à época do PP), que fez oposição a Ernani de Paula e Alcides Rodrigues.
Talvez essa tendência explique o fato de a pré-candidata da situação, Eerizania Freitas (UB) ter crescido pouco, chegando a 4,3%. Os pesquisadores do Instituto Opção Pesquisas perguntaram: “Você gostaria de ver seu candidato a prefeito apoiado por Roberto Naves?” O apoio do prefeito foi considerado desejável por 38,3% dos eleitores, e indesejável por 47%.
Em segundo lugar, é interessante notar como Anápolis é uma cidade politizada. Talvez pela forte influência das igrejas evangélicas, pela Base Aérea de Anápolis, pela proximidade com Brasília — e mais provavelmente por uma mistura desses fatores — o município é mais politizado do que a média estadual.
É também mais conservador: segundo o Opção Pesquisas, de 800 entrevistados, 33,1% afirmaram que gostariam do apoio do presidente Lula da Silva (PT), enquanto 58,4% afirmaram que não gostariam que Lula desse aprovação a seu candidato. O suporte do ex-presidente Jair Bolsonaro é tido como desejável por 59% do eleitorado. Outros 33,5% disseram que não gostariam de ter o apoio de Jair Bolsonaro.
Para Antônio Gomide, o dado é preocupante mas positivo ao mesmo tempo. É preocupante, pois o petista terá de se desassociar do presidente da República em sua campanha. Mas é também positivo, pois significa que, em Anápolis, Gomide é maior do que o PT. Os anapolinos votam em Gomide apesar do PT, ou porque o consideram maior do que o partido, ou porque julgam que a eleição municipal é pragmática demais para questões ideológicas.
Para Márcio Corrêa, o dado é apenas positivo: ele poderá brandir livremente o apoio de Jair Bolsonaro em sua campanha. O ex-presidente, sem cargo, terá a agenda livre para abanar a bandeira do PL em seu palanque, como fez em junho, quando passou por Anápolis e marcou presença no lançamento da pré-campanha de Márcio Corrêa.
O município é politizado, pois já percebeu a mudança de ventos mesmo antes do período eleitoral. Apenas observando movimentações nas redes sociais (como o encontro de Corrêa com Bolsonaro e outros influencers políticos), a cidade entrou em clima de virada. Esse clima é manifestação da expectativa de poder. Como toda expectativa, entretanto, pode ser frustrada. A eleição não depende apenas da especulação, da imagem, do clima de otimismo — depende da campanha concreta.
É na campanha que as propostas são apresentadas. Principalmente em eleições municipais, quando os problemas cotidianos da cidade estão em debate, a ilusão das aparências se desfaz rapidamente. Caso Márcio Corrêa não tenha se armado de um plano sólido de governo e uma resposta contundente para as críticas de Gomide, podemos ver o clima de virada murchar em poucos dias.
O levantamento do Opção Pesquisas mostra que, até aqui, o pré-candidato do Partido Liberal cresceu insuflado pelas intenções de votos que poderiam ir para todos os outros pré-candidatos, que se mantêm estagnados. Sendo o único a crescer mais do que dois pontos percentuais, podemos dizer que Corrêa recebe os votos de todos, menos do PT.
Isso significa que mesmo os eleitores que se identificam mais com Eerizania, José de Lima (PMB) ou Hélio Lopes (PSDB) estão declarando votos em Márcio Corrêa. Ao que tudo indica, a razão para o sacrifício da preferência pessoal em função do que os eleitores acreditam ser o “mal menor” é o antipetismo. Esse voto útil é um mau sinal para Antônio Gomide, que terá de apostar em uma vitória no primeiro turno, para evitar uma união de oposições ainda maior no segundo turno.