Até o dia 10 de março de 2021, Hélio Fernandes era o único jornalista ainda vivo que acompanhou a Assembleia Nacional Constituinte de 1946. Foi neste período que ele conheceu Carlos Lacerda. Três anos depois, Lacerda fundou o “Tribuna da Imprensa” e foi seu diretor até 1961, quando assumiu o governo da Guanabara. A direção do jornal passou para Hélio Fernandes. Antes, ele tinha trabalhado na “Manchete” (foi responsável por sua reformulação), na “Cruzeiro” e no “Diário Carioca”.

A proximidade com Lacerda não o impediu de seguir rumos diferentes. Em 1955, Hélio Fernandes foi assessor de imprensa de Juscelino Kubitschek durante a campanha presidencial, enquanto Carlos Lacerda fazia de tudo para impedir a candidatura.

Talvez não com o mesmo entusiasmo de Lacerda, Hélio Fernandes apoiou o golpe de 1964. Bem mais cedo que Lacerda, percebeu a canoa furada que o Brasil havia embarcado.

Na edição do dia 19 de julho de 1967, logo após a morte do ex-presidente Castello Branco, Hélio Fernandes escreveu um editorial na “Tribuna da Imprensa”: “Com a morte de Castello Branco, a humanidade perdeu pouca coisa, ou melhor, não perdeu coisa alguma. Com o ex-presidente, desapareceu um homem frio, impiedoso, vingativo, implacável, desumano, calculista, ressentido, cruel, frustrado, sem grandeza, sem nobreza, seco por dentro e por fora, com um coração que era um verdadeiro deserto do Saara”.

A consequência desse artigo foi a prisão de Hélio Fernandes na Ilha de Fernando de Noronha.

No ano seguinte, Hélio Fernandes foi preso novamente, logo após a publicação do AI-5. Ele dividiu a cela com o amigo Lacerda e não o poupou de críticas: “Você, com aquela sua viagem à Europa, permitiu a prorrogação do mandato do Castello Branco. E daí é que vem esse negócio todo”. Se ele nem poupou um presidente logo após sua morte, pouparia o amigo que confiou nos militares que os prenderam anos depois do golpe de 1964?

Hélio Fernandes morreu no dia 10 de março de 2021. Ele era irmão de Millôr Fernandes e pai de Rodolfo Fernandes (foi editor de “O Globo” e era adorado pela família Marinho) e Hélio Fernandes Filho, ambos jornalistas.