Time do São Paulo, sua bandeira e o desafio ao ditador Getúlio Vargas
28 abril 2023 às 09h51
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Nunca entrei no Estádio do Pacaembu. Só passei ao lado quando corri a São Silvestre. São os primeiros quilômetros, então tudo é alegria. Hoje, o estádio leva o nome do chefe da delegação da seleção brasileira campeã mundial em 1958, Paulo Machado de Carvalho. Porém, nem tudo são flores e bola no gol neste estádio.
O Pacaembu foi inaugurado em 27 de abril de 1940. O presidente-ditador Getúlio Vargas veio até a capital paulista participar da inauguração. Já fazia três anos que governava o Brasil com mãos de ferro. Depois do golpe do Estado Novo, Vargas ordenou que as bandeiras estaduais fossem queimadas. Isso mesmo. E foi bem no Dia da Bandeira. Era um gesto simbólico para mostrar que todo o poder emanava do presidente.
Quando Vargas entrou no estádio, teve festa e desfile. O ditador era o “pai dos pobres”, o cara que deu os direitos trabalhistas. Como não tinha a bandeira do Estado de São Paulo, o time do São Paulo Futebol Clube se tornou o símbolo dos paulistas. Quando o time entrou, seu nome foi gritado pelas arquibancadas do Pacaembu. O jornal “A Gazeta” estampou em sua capa no dia seguinte à inauguração: “O clube mais querido da cidade”.
O futebol foi muito usado pelos ditadores para exaltar seus governos e esconder seus crimes. Em época de Copa do Mundo, nem se fala. Foi assim em 1970, na ditadura militar brasileira, e em 1978, na Argentina. Mas, em 1940, o futebol virou motivo para exaltar um time contra as ordens de um ditador.