O 15 de março de 1985 seria o dia de colocar um ponto final na ditadura civil-militar, encerrar o ciclo de generais governando o Brasil de forma autoritária e sem a participação do povo. A posse de Tancredo Neves estava marcada para esee dia. A derrota da Emenda Dante de Oliveira impediu que o povo elegesse o novo presidente. O jeito foi o Colégio Eleitoral atuar pela última vez em uma eleição presidencial e escolher o político mineiro como o primeiro civil eleito presidente da República desde 1964.

Brasília estava preparada para a festa. As cores verde e amarelo enfeitavam as ruas. As televisões, com alcance e tecnologia superiores ao do tempo que transmitiram a última posse de um civil na Presidência, já convocavam os telespectadores para acompanharem a posse de Tancredo. O ex-ministro de Getúlio Vargas e sua mulher, Risoleta Neves, participaram de uma missa no Santuário Dom Bosco, na Asa Sul, no dia 14 de março de 1985.

As câmeras mostravam Tancredo Neves na missa, só aguardando a hora de receber a faixa do último presidente da ditadura, o general João Figueiredo. Porém, na noite anterior à posse, Tancredo se sentiu mal e teve de ser operado às pressas no Hospital de Base de Brasília.

O clima de euforia virou sentimento de angústia e as mãos que aplaudiriam o novo presidente se levantaram para os céus clamando pela sua recuperação. Se dependesse de Tancredo Neves, ele não seria internado: “Deixem eu receber a faixa do Figueiredo — aí vocês podem fazer o que quiserem comigo”. Havia o temor da linha dura militar — que não teve coragem de enfrentar a “mão pesada” de João Figueiredo — aprontar alguma no dia da posse.

Os brasileiros não votaram em Tancredo Neves para presidente porque não tinha voto direto. Se tivesse, com certeza ele ganharia, e com facilidade. Mesmo assim, o povo depositou sua esperança no novo presidente.

A economia estava quebrada, era preciso formar uma Constituinte para elaborar uma nova Constituição. Tancredo Neves teria muitos desafios pela frente. Mas apoio não lhe faltou. Naquele 14 de março de 1985, começava a luta para salvar a vida do presidente e garantir a posse do vice-presidente, José Sarney. A ditadura começou com um golpe e terminou com uma cirurgia.