Machado de Assis é o Bruxo do Cosme Velho, mas quem nasceu no Dia das Bruxas foi Carlos Drummond de Andrade. O poeta de Itabira nasceu em 31 de outubro de 1902, mas viveu muito e morreu no Rio de Janeiro. Viveu muito sim! Ao longo da nossa história literária, a gente nota que os poetas viveram pouco. Drummond e Manuel Bandeira foram exceções. Ele viveu 85 e Bandeira, 82. As fotos desse post são da casa onde Drummond nasceu e viveu sua infância.

Gustavo Capanema foi o cara escolhido por Getúlio Vargas para fazer o Ministério da Educação. Pela primeira vez em nossa História nós tínhamos um órgão federal responsável por cuidar da nossa educação. Capanema se cercou de intelectuais para o seu trabalho e Drummond foi um dos seus assessores. Em 1930, ele publicou seu primeiro livro “Alguma poesia”. Escreveu inúmeras poesias e até os últimos meses de vida, em 1987, publicou suas crônicas em vários jornais.

Nos anos 1970, Fernando Sabino e David Neres gravaram um curta metragem estrelado por Drummond chamado “O Fazendeiro do Ar”. Vemos o poeta andando por Ipanema, onde morava, pelo Centro do Rio e brincando de esconde-esconde nas pilastras da sede do Ministério da Educação, também no Rio. Drummond é gente como a gente. Uma imagem deste curta que sempre me chama atenção quando revejo é o poeta sentado em uma poltrona de um ônibus público. Um jovem divide o assento com ele. Vontade de perguntar: “Cara, você tem noção de quem está do seu lado?”

Drummond nasceu em Itabira, mas viveu muito no Rio de Janeiro. Viu a capital federal virar Estado da Guanabara e depois estado do Rio de Janeiro. Viu duas guerras mundiais e duas ditaduras brasileiras. Viu sua querida filha Julieta ser enterrada. A pior dor de um pai é enterrar um filho. Geneton Moraes Neto, em seu “Dossiê Drummond”, escreveu a tristeza do poeta. Já bem idoso, com 85 anos completos, não tinha mais sentido viver. Poucos dias depois de andar pelas calçadas estreitas do Cemitério São João Batista era a sua vez de ir para lá, mas para ficar para sempre, ao lado da sua querida filha. Drummond viveu muito, produziu muito. Ele se foi, mas seus escritos continuam conosco. Enfeitiçando a gente igual o Machado.