“A comitiva estava hospedada no Hotel Raffles, de Cingapura, em 25 de agosto, quando um correspondente da Associated Press ligou de madrugada para Etcheverry contando a última despirocada de Jânio. Consta que, ao entrar no quarto do vice-presidente, encontrou-o sentado na cama, de cueca samba canção, fumando um cigarrinho. Quando soube da renúncia, Jango só conseguiu exclamar, com aquele sotaque da fronteira: ‘P%ta que pariu!’ De manhã, o senador Barros de Carvalho, membro da comitiva, levantando uma taça de champanhe, propôs um brinde ‘ao novo presidente do Brasil’. Mas Jango, cheio de razões para ser cauteloso, preferiu brindar ‘ao imprevisível'” Benício Medeiros em “A rotativa parou! Os últimos dias da Última Hora de Samuel Wainer

Jânio Quadros enviou para o Congresso Nacional um dos seus famosos bilhetinhos anunciando que estava renunciando a Presidência da República. O 25 de agosto de 1961 não seria apenas mais um Dia do Soldado, mas a saída repentina de um presidente que mal esquentou a poltrona da cadeira presidencial. Com sete meses de governo, forças terríveis estariam rondando o recém-inaugurado Palácio do Planalto. Na verdade, o que Jânio queria era dar um golpe e governar com amplos poderes.

Leonel Brizola, João Goulart e Jânio Quadros | Foto: Reprodução

O plano estava armado na cabeça do presidente e do seu ministro da Justiça, Pedroso Horta. Jânio renunciaria, o povo sairia às ruas pedindo sua permanência e o Congresso, de joelhos, lhe concederia o que queria. O vice João Goulart estava do outro lado do mundo, na China comunista de Mao Tsé-tung. Os militares não permitiriam a posse de Jango e Jânio seria o super presidente com apoio dos militares. Mas, só faltou combinar com os russos e em tempos de Guerra Fria combinar com os russos era perigoso. O povo não saiu às ruas, o Congresso, depois do susto do inusitado bilhetinho, aceitou a renúncia e Jango estava voltando para o Brasil.

A loucura de Jânio Quadros jogou o Brasil em mais uma crise político-militar. Era a primeira de Brasília. A nova capital federal começava a lidar com velhos problemas políticos e com os tanques atravessando suas largas avenidas.

A renúncia de Jânio Quadros e Auro de Moura Andrade