Precisamos levar de novo Pedro Ludovico para as ruas
16 agosto 2024 às 11h01
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Em 1978, Jackson Abrão teve uma ideia brilhante: fazer uma matéria com Pedro Ludovico Teixeira andando pelas ruas de Goiânia. A princípio, o ex-interventor recusou o convite. Sua saúde não ia bem e a condição de político cassado poderia desagradar os militares. Mas Jackson não desistiu e pediu a ajuda de alguém que iria convencer Pedro a aceitar o convite: Venerando de Freitas Borges, grande amigo e primeiro prefeito de Goiânia. Com uma ajuda dessas não tinha como manter a recusa. Eis que as câmeras da TV Anhanguera registraram o momento histórico: o fundador e o primeiro prefeito de Goiânia andando pelas ruas da capital, conversando com populares, vendo aquela cidade se tornar uma metrópole.
A reportagem levou Pedro até o Palácio das Esmeraldas. Fazia tanto tempo que ele não entrava naquele prédio. As câmeras filmaram Pedro Ludovico ao lado do seu busto feito no final dos anos 1930. Convidado para entrar no palácio, novamente a cassação dos seus direitos políticos se impôs. Não queria causar problemas para o então governador Irapuan Costa Júnior. Lúcia Vânia, primeira-dama na época, o chamou e Pedro entrou novamente naquele palácio que foi seu local de trabalho por tanto tempo. Ele viu o quadro com o rosto da sua amada Gercina. Reportagem feita, registro para a nossa história. Ainda bem que Jackson Abrão não desistiu ao ouvir o primeiro “não” de Pedro Ludovico. E foi bom para o fundador de Goiânia andar por aquelas ruas movimentadas de gente e de carros ao lado do amigo e parceiro naquela empreitada iniciada quase cinquenta anos antes. Mesmo com o avança da idade, mesmo cassado pela ditadura militar, mesmo com as dores e os pesos do passar do tempo, aquela reportagem fez Pedro olhar tudo ao seu redor e perceber que valeu a pena.
Pouco tempo depois desta matéria, Pedro Ludovico Teixeira nos deixou. Mais especificamente no dia 16 de agosto de 1979. Eram tempos da anistia, da abertura política começando a acelerar o passo (apesar de alguns freios da linha dura militar). A morte de Pedro Ludovico encerrou a trajetória de mais um político que chegou ao poder com a Revolução de 1930. O interventor nomeado por Getúlio Vargas para governar Goiás construiu uma nova capital para o seu estado, trouxe os holofotes da imprensa para o interior do país. Se Pedro Ludovico não tivesse construído Goiânia será que Juscelino Kubitschek construiria Brasília?
Hoje nós recordamos os 45 anos da sua morte. Pedro Ludovico Teixeira tem o nome escrito na história. É uma pena que o seu nome escrito nos monumentos e nas ruas esteja um pouco apagado pelo passar do tempo. Talvez seja preciso novamente levar a história do nosso interventor para as ruas da cidade que ele fundou tal qual Jackson Abrão fez em 1978.