O papa Bento XVI, pouco antes da sua renúncia, teve o último encontro com o clero romano. Era o ano de 2013 e a Igreja recordava os 50 anos do Concílio Vaticano II. Ele participou desse concílio como perito oficial e recordou sua vivência naquele tempo forte que passava o Catolicismo. Bento XVI falou do papel dos meios de comunicação no Vaticano II: “havia o Concílio dos Padres – o verdadeiro Concílio – mas havia também o Concílio dos meios de comunicação, que era quase um Concílio aparte.” Ali a Igreja percebeu o poder dos meios de comunicação e a necessidade dela se inserir neste contexto divulgando e explicando sua doutrina e se aproximando dos seus fiéis por todo o mundo. 

Um religioso que compreendeu a importância de saber usar os meios de comunicação para explicar o que estava sendo discutido no concílio foi o mineiro Dom Fernando Gomes dos Santos (1910-1985), primeiro arcebispo de Goiânia. Ele participou do Vaticano II e sempre que voltava de Roma para cá, concedia entrevista coletiva para comentar sobre os aspectos da fé que muitas vezes faltava na mídia em geral. Ele era convidado pela TV Goiânia para dar uma entrevista ao vivo comentando os trabalhos conciliares. Em dezembro de 1963, logo após a segunda sessão do concílio, Dom Fernando concedeu entrevista para a imprensa local. Era um privilégio para os goianienses ouvir do seu próprio arcebispo o que estava acontecendo no Vaticano. Era a oportunidade de ouvir quem estava lá dentro.

Dom Fernando falou sobre os primeiros passos de Paulo VI a frente do concílio e seu alinhamento com o pensamento e a ação de João XXIII, seu antecessor e responsável pelo início do Vaticano II. “Um papa não é apenas um sucessor de outro sucessor do papa. É o continuador de sua obra”. Ao ser perguntado sobre a participação da imprensa nos trabalhos do concílio, Dom Fernando recordou o discurso de Paulo VI agradecendo o trabalho dos jornalistas que faziam a cobertura do Vaticano II. O papa, segundo o arcebispo, tinha muito interesse pela imprensa e reconhecia sua colaboração na divulgação do trabalho dos religiosos em Roma.

Ter uma testemunha ocular de um momento histórico para a Igreja Católica fez com que os fiéis goianos ficassem mais próximos do Concílio Vaticano II. Dom Fernando Gomes de Souza compreendeu o que Paulo VI disse sobre o interesse no trabalho da imprensa. Assim que ele voltou de Roma e desembarcou em Goiânia, colocou-se a disposição dos jornalistas goianos para falar sobre os trabalhos conciliares, explicar o que estava sendo feito e facilitar a compreensão dos fiéis.

Nos anos 1960, os meios de comunicação de massa jamais poderiam ser desprezados. Em sua entrevista para a imprensa goiana, Dom Fernando falou da vontade da Igreja em tornar as funções sagradas mais conhecidas pelo povo cristão. É por isso que, após o concílio, aumentou a participação católica na televisão, no rádio e na imprensa de um modo geral.

Bento XVI, cinquenta anos depois, recordou o poder de influência dos meios de comunicação durante os trabalhos do Vaticano II. Dom Fernando Gomes dos Santos decidiu agir dentro dos meios de comunicação para levar até nós tudo o que estava sendo discutido naquele momento tão crucial da nossa Igreja e que ele era testemunha viva.