O 1º de dezembro no Brasil e em Portugal

03 dezembro 2023 às 00h23

COMPARTILHAR
De 1580 até 1640, Portugal viveu sob o domínio da Espanha. Tudo começou quando o rei português dom Sebastião desapareceu no mar em 1578. Começava o “sebastianismo”, a crença de que o rei desaparecido voltaria ao poder. Sem deixar herdeiros, quem assumiu o trono de Portugal foi o tio-avô do rei, o cardeal dom Henrique, mas reinou até sua morte dois anos depois. Cortado o fio da linha sucessória quem iria ocupar no trono? A solução estava do outro lado da fronteira. Alegando parentesco com dom Sebastião, o rei da Espanha, Filipe II, anexou Portugal ao reino espanhol se tornando rei também dos portugueses. Estabelecia-se assim a União Ibérica.
Do outro lado do Atlântico, o Brasil sentiu os efeitos da união das duas coroas. O Tratado de Tordesilhas foi revogado, o que permitiu maior movimentação dos colonos pelo sertão brasileiro. Outra consequência foi a invasão holandesa. Os holandeses ocuparam o Nordeste por várias décadas. Mas Portugal voltaria a ser Portugal. No dia 1º de dezembro de 1640, os portugueses proclamaram sua independência, desgrudando assim dos mandos espanhóis e restaurando o seu reino. Dom João IV foi aclamado rei de Portugal, marcando o retorno da dinastia dos Bragança ao poder.
No final de 1822, o Brasil já era uma nação independente, mas não se esquecia do seu passado. Logo após o Grito do Ipiranga, Dom Pedro I se tornou o nosso primeiro imperador e seria coroado no dia 1º de dezembro daquele ano. A data não foi à toa, mas sim uma recordação da restauração portuguesa, ocorrida quase duzentos anos antes. Enquanto as colônias espanholas se transformaram em repúblicas após a independência, o Brasil virou um imenso império depois de romper os laços políticos com Portugal. Com o Grito do Ipiranga, Dom Pedro I se tornava o nosso primeiro imperador.
Sua coroação aconteceu em 1° de dezembro de 1822, no Rio de Janeiro, na Igreja de Nossa Senhora do Carmo. O francês Jean Debret fez a pintura que representa esse acontecimento e ilustra este texto. Dom Pedro I coroado se tornou Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil. Depois das festividades, do badalar dos sinos, do beija mão, Dom Pedro tinha um baita desafio pela frente: manter a unidade das províncias, convocar uma Assembleia Constituinte, enfim, dar cara à nova nação que surgia na América do Sul.
Em 1922, quando a nossa Independência fez o seu centenário, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro realizou uma série de conferências sobre a emancipação do nosso país. A conferência que fechou a série foi feita pelo historiador e secretário do IHGB, Max Fleiuss, que falou sobre a sagração e coroação de Dom Pedro I. O Jornal do Comércio do dia 2 de dezembro de 1922 fez um resumo da fala do historiador e trouxe a triste informação de que não se tem a tela original da coroação feita por Debret, mas sim uma reprodução litográfica.
Um jornal da época da coroação fez a conexão entre o 1º de dezembro de 1640 com o 1º de dezembro de 1822. O “Gazeta do Rio” escreveu dois dias depois da coroação de Dom Pedro I: “O 1º de dezembro, tão célebre nos anais da nação portuguesa, por haver ela nesse dia sacudido o julgo opressivo dos intrusos Felipe’s da Espanha, (…), depois de 182 anos torna a ser ainda mais célebre nos anais do Brasil, por se haver nele Sagrado, Coroado e colocado no áureo trono deste vastíssimo império, o Augustíssimo Senhor Dom Pedro”.
Apesar do Grito do Ipiranga ter rompido os laços entre Brasil e Portugal, o 1º de dezembro continuou unindo as duas nações.