“O comício foi um escândalo! Um presidente da República deixa seu Palácio e vai para a praça pública fazer um comício como um simples demagogo, aplaudido por comunistas que empunhavam faixas com a foice e o martelo! E o pior: no palanque, nas barbas do Ministério da Guerra, com a assistência de todos os ministros, incluindo o Jair (Dantas). Toda esta subversão garantida por tropas das três armas do Exército!! O fim da picada. Temos de partir contra eles enquanto é tempo. Vou a Belo Horizonte na segunda-feira, conversar com Magalhães Pinto.” — General Olympio Mourão Filho no seu diário de 14 de março de 1964 e publicado em “Memórias — A Verdade de um Revolucionário”.

O Comício da Central do Brasil, ocorrido em 13 de março de 1964, selou o destino do governo João Goulart. O presidente radicalizou o discurso em defesa das Reformas de Base. O local e a hora foram escolhidos para ter mais gente. A Estação da Central do Brasil ao entardecer ficava lotada de trabalhadores voltando para casa depois do serviço. Ao lado da estação tem o Palácio Duque de Caxias, sede do I Exército, e o comício foi visto como uma provocação aos militares que se opunham a Jango.

Antes do presidente discursar, vários líderes falaram ao público. O mais entusiasmado e aplaudido foi Leonel Brizola, que naquela época era deputado federal pelo Rio de Janeiro. José Serra, presidente da UNE, também participou. Jango fechou a noite radicalizando o discurso ao lado de sua mulher, Maria Tereza. Ele atacou as elites e os monopólios nacionais e internacionais. O Comício da Central do Brasil teve mais de 150 mil pessoas, contrariando as expectativas do governador da Guanabara, Carlos Lacerda, de esvaziar o evento ao decretar ponto facultativo no Rio de Janeiro.

Como anotou o marechal Olympio Mourão em seu diário, “temos de partir contra eles enquanto é tempo”. Dias depois do comício, aconteceu em São Paulo a Marcha da Família com Deus pela liberdade, movimento oposto ao da Central do Brasil. Eram as marchas de março fechando a democracia.