Civis e militares de uniram para derrubar Jango e assumir o poder
31 março 2023 às 18h45
COMPARTILHAR
A historiografia recente (Daniel Aarão Reis, por exemplo) tem chamado a deposição de João Goulart da Presidência da República de golpe civil-militar. Isso significa reconhecer a participação de civis e militares no 31 de março de 1964. A própria ditadura também é chamada de civil-militar. Inclusive alguns livros didáticos já trazem as duas denominações. A meu ver, elas estão corretas. Não foram apenas os militares que saíram dos quartéis para derrubar Jango. Os presidentes militares não se mantiveram no poder por 21 anos sozinhos. Os civis (muitos são chamados de vivandeiras) também os apoiaram.
O general Olympio Mourão Filho saiu de Juiz de Fora (MG) na madrugada de 31 de março de 1964 em direção ao Rio de Janeiro para depor Jango, que lá estava. Mas, para fazer isso, ele contou com o apoio do governador mineiro Magalhães Pinto. Ternos e gravatas. Fardas e coturnos.
A manobra de Mourão pegou os conspiradores (até Castello Branco) de surpresa. Tiveram que acordar cedo naquele último dia de março. Se fosse no 1º de abril, ninguém acreditaria. Mas o golpe só se consolidou mesmo quando o general Amaury Kruel aderiu. Ele era próximo à Jango e deu um ultimato: ou o presidente se afastava dos comunistas, ou ele se juntaria às tropas mineiras. Com a negativa de Jango, Kruel saiu com seus soldados do II Exército em São Paulo e marchou para o Rio de Janeiro.
Jango saiu do Rio e voou até Brasília. Ele pensou em uma reação ao golpe (afinal, haveria o tal “dispositivo militar” do general Assis Brasil, que na prática era ficção pura. Tanto que, depois do golpe, a ex-primeira-dama deu um tapa na cara de Assis Brasil).
Sem resistência na capital federal, Jango partiu para Porto Alegre. Quem sabe reeditar a Rede da Legalidade, que em 1961 lhe garantiu a posse depois dos militares tentarem impedi-lo de assumir o poder? Mas, em três anos, as coisas mudaram. Leonel Brizola não estava mais no governo gaúcho e o governador goiano Mauro Borges não levantou trincheiras na Praça Cívica. Ele aderiu ao golpe e só foi cassado por causa de pressão da linha dura de Costa e Silva.
Brizola pressionou Jango a reagir. Alguns se animaram a pegar em armas para responder aos golpistas. Mas o presidente decidiu ir embora do Brasil, alegando que não queria derramamento de sangue dos brasileiros.
João pegou um avião da FAB e embarcou para o Uruguai, onde viveria o exílio até sua morte em 1976. Brizola bem que tentou reagir, mas o golpe já era uma realidade. Ele se exilou nos Estados Unidos e só voltou em 1979, com a anistia. Começava uma ditadura que duraria 21 anos, até 1985.